Daniela Jacinto - Redação Cruzeiro do Sul
Notícia publicada na edição de 21/01/2010 do Jornal Cruzeiro do Sul
Salomão integra a equipe de artistas do Europa Park
Salomão Severo é uma pessoa simples e de uma simpatia imensa. Dono de um semblante sereno e sorriso que rasga a boca, basta trocar algumas palavras com ele para perceber que a base de seu trabalho é a expressão. Nascido em Votorantim, em um bairro da periferia, estudou em escola pública e por volta dos 20 anos de idade seu maior objetivo era concluir a formação em Educação Física, inicialmente na Fefiso, em Sorocaba. Um convite inesperado acabou levando-o para outra direção: trabalhar como clown na Alemanha. Hoje, Salomão integra a equipe de artistas do Europa Park, um dos maiores parques de diversão da Europa. Para se ter uma ideia da importância, ele é comparado ao Eurodisney e a seleção de profissionais é uma das mais difíceis que existe. Há 18 anos, ele faz rir crianças e adultos.
Tenho vontade de voltar ao Brasil, mas acabei acostumando
ao nível de vida que levo na Alemanha. Tenho medo de voltar aqui e
não fazer sucesso. O Brasil ainda precisa se desenvolver
mais nessa parte do entretenimento, diversão”
Em entrevista ao Mais Cruzeiro, o artista, que está com 43 anos, afirma que nem sonhava chegar onde chegou. De repente, se viu em um país onde sequer poderia imaginar o que estava escrito nos painéis que via pelas ruas e tampouco entendia o que as pessoas diziam. Os brasileiros, em geral, têm um certo referencial das palavras em inglês por conviver diariamente com diversas expressões, mas com relação ao alemão, o conhecimento era zero. Foi um sufoco.
Tudo isso aconteceu na vida de Salomão porque no período em que estudava na Fefiso, uma irmã que morava no Rio de Janeiro o convidou para morar com ela. Foi então que se transferiu para a Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro). Lá no Rio, quando não estava na faculdade, aproveitava o tempo aprendendo teatro em um circo-escola. “Certa vez, estava realizando um trabalho voluntário na favela e uma empresária gostou muito da minha apresentação. Foi ela quem fez o convite para ir pro exterior. Na época, eu tinha 25 anos de idade. Primeiro, fui parar no parque de diversões chamado Fantasyland, em Colônia, uma das quatro maiores cidades da Alemanha. Lá, eu fazia clown, perna de pau, monociclo e malabares.” Mais tarde foi convidado para trabalhar no Europa Park.
Celebridades
A experiência que já adquiriu e o investimento na própria profissão ajudaram Salomão Severo a galgar um degrau a mais na carreira. Como fala alemão, ele é sempre escalado para recepcionar celebridades. Entre os que já teve a oportunidade de conhecer estão Tina Turner, Celine Dion, Elton John e Sara Brightman. É claro que o convite para Salomão recepcionar celebridades não se deve apenas à sua capacidade de comunicação. O que contou muito foi o capricho em fazer as próprias roupas. Outros artistas do parque usam apenas as fantasias cedidas pela empresa, já Salomão chegou a gastar R$ 15 mil para ter uma roupa luxuosa e que faz muito sucesso entre os clientes e principalmente o proprietário do local.
Salomão com Sara Brightman
O resultado é que o brilho da roupa ajudou Salomão a aparecer mais. “Um costureiro de Londres que confeccionou a fantasia de clown azul. São ao todo 250 botões de strass que iluminam mesmo. É a roupa mais cara que já tive. Inteira bordada, um luxo só.” Depois de ter gastado uma fortuna em sua primeira roupa de luxo, fez ainda outras duas, mas já conseguiu comprar o tecido e o material por preços mais baixos, encomendando aqui mesmo do Brasil. “A roupa vermelha custou R$ 6 mil, é feita com pérolas e pedras vidrificadas, já a preta custou menos ainda, R$ 500”.
Salomão ainda recepciona em eventos políticos e já animou festas de brasileiros na Alemanha, formado inclusive por grupos de Sorocaba. “O que ganho, reservo um pouco para investir na profissão. É preciso usar a inteligência para sobreviver.” Outra curiosidade é que ainda quando trabalhava para o parque Phantasy Land, Salomão teve a oportunidade de conhecer Michael Jackson. “Vi bem de perto, inclusive ele me deu a mão, cumprimentou. Isso foi em 1993 ou 1994. O Michael Jackson foi até o parque para inaugurar a Montanha Russa”.
O show não pode parar
Para o público, parque de diversões é sinônimo de alegria, mas a vida lá dentro não é fácil, nem mesmo para os clowns. “É como um Big Brother, olhando de fora parece tudo bonito, mas para quem está lá dentro todos os dias, é um banho de realidade. Nós vivemos numa casa grande, com espaço para duas pessoas em cada quarto e uma cozinha comunitária. Logo quando os artistas se conhecem, tudo é uma maravilha, mas depois de uns três meses começa a confusão. Existe atrito sim, tem gente que até o final da temporada não fala com o outro, essas coisas. Eu já não passo mais por isso porque já conquistei um quarto onde fico sozinho”, afirma.
Conforme Salomão, viver no parque é uma coisa boa, mas durante o dia. “A gente ri o dia inteiro, mas à noite chora. É engraçado esse tipo de emoção das pessoas, mas quando a gente volta para casa cansado e está tudo escuro e frio, dá aquele vazio. Mas pra não ficar assim a gente tenta fazer reuniões na casa dos amigos, quando um faz aniversário vão todos e tentamos não guardar rancor dos outros, para isso existem reuniões para resolvermos os pequenos problemas e não deixar que eles virem uma bola de neve.”
O problema de trabalhar num parque de diversões é conseguir controlar a emoção. “A gente tem de rir o tempo todo, tem de estar todos os dias de bom humor, mas tem vezes que não dá. Eu mesmo no começo, quando não conseguia aprender inglês, cheguei a chorar diante do público. Imagina, um clown chorando, as pessoas estranharam, depois pedi para ir embora pois estava sem condições de trabalhar. Outra vez, um amigo morreu de câncer e a irmã dele, que também trabalha com a gente, continuou trabalhando, só depois que ela pôde chorar. O pessoal aplaudiu a atitude dela, mas eu não sei se conseguiria. É muito difícil levar um choque e ficar ali rindo, mas o show não pode parar.”
Apesar das dificuldades quanto à emoção, o trabalho no Europa Park não é pesado. São cinco saídas de 30 minutos para cada artista. Todos se apresentam juntos apenas uma vez ao dia, às 14h, durante a “parada”, ou seja, o desfile. À noite, são realizados shows, mas os contratos são à parte. Além disso, paga-se muito bem. “Tenho vontade de voltar ao Brasil, mas acabei acostumando ao nível de vida que levo na Alemanha. Tenho medo de voltar aqui e não fazer sucesso. O Brasil ainda precisa se desenvolver mais nessa parte do entretenimento, diversão”, diz.
Salomão afirma que consegue vir ao Brasil todos os anos, quando encerra a temporada do parque, que vai de março a novembro. “Gosto da minha profissão. Acredito que as pessoas já nascem com seu talento. Sempre disseram que eu era muito engraçado, que serviria para ser clown. Ainda menino eu adorava interpretar os textos que lia. Então eu me sinto uma pessoa privilegiada, talentosa, e agradeço a Deus por ter me dado o talento de agradar as pessoas.”
O artista volta para o Europa Park no dia 15 de março. Ligado à agência Galpão do Up Leon, do Rio de Janeiro, ele afirma que a empresa sempre realiza audição para clowns interessados em trabalhar no exterior. A agência atualmente está procurando atores interessados em ir para a Suécia, trabalhar na casa fantasma. Contato: (21) 2295-7418 ou pelo site http://www.upleon.com.br/.
O termo clown
O clown é uma espécie de palhaço, mas com linha de trabalho diferenciada. Ao contrário dos palhaços, que dão mais valor ao número, o clown tem como preocupação a ideia, a lógica individual e sua personalidade. Pode-se dizer que os clowns europeus seguem mais essa linha. Também existem as diferenças que aparecem em decorrência do tipo de espaço em que trabalha: o circo, o teatro, a rua, o cinema, etc. O humor do palhaço é mais pastelão e brincalhão, costuma ser mais divertido e extravagante, esbanja alegria. O clown está mais para Charles Chaplin. O palhaço está mais para três patetas. Apesar das diferenças de conceito, o palhaço circense e o clown possuem uma mesma essência.
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