segunda-feira, 12 de abril de 2010

CAMINHADA DA PENHA - Novo horário melhorou qualidade da participação

Maíra Fernandes


Notícia publicada na edição de 12/04/2010 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 6 do caderno A
 
 
Calcula-se que o evento tenha reunido cerca de 1500 pessoas
Foto: Luiz Setti
 
Tudo começou com uma aposta pagã, na mesa de um bar. Um desafio entre amigos que colocava em xeque a coragem de enfrentarem 17 quilômetros entre estrada de asfalto e de terra até a Capela da Penha, na Serra São Francisco, proximidades do bairro Carafá, em Votorantim. Era 31 de março de 1998 em Votorantim e na tarde de outro dia, seis dos desafiantes contaram que haviam realizado a façanha; para espanto dos demais que desacreditaram da informação, ainda mais por que se tratava do dia 1º de abril.
Não era mentira e, de um desafio entre amigos nascia um dos mais tradicionais eventos religiosos da região, a Caminhada da Penha, que chegou ontem a sua 12ª edição.
Paulo Roberto Ferreira Camargo, o Beto estava entre os seis e, desde aquele ano, é o responsável pela organização da caminhada. Começa os preparativos logo em janeiro para que os fiéis realizem o percurso que leva cerca de 5h da melhor forma.
A preocupação é para que a tradição não acabe em bagunça. Como contou, já teve vez em que chegaram à Capela e havia gente brigando. Gente essa, adiantou, que realizava a caminhada mais para curtição do que por fé. Muitos desses bêbados e drogados. Para acabar com essa situação, Beto abriu mão do tradicional horário de saída dos fiéis, que era às 12h do segundo domingo de abril para as 4h30 da manhã. O motivo? Selecionar os peregrinos, já que com esse novo horário a maior parte da caminhada é feita sob a luz do sol

Menos é mais

O novo horário agradou os fiéis e surtiu o efeito desejado pelo organizador. Tanto que o número de peregrinos ontem era bem inferior ao público de edições anteriores, com contingente estimado em 1.500 pessoas. No ano passado, eram 4 mil caminhantes.

Para iniciar o trajeto, uma missa foi celebrada na paróquia São José com direito a queima de fogos e, de lá, partiram os caminhantes que encerraram o evento também com missa, em frente à capela, celebrado pelo pároco João Carlos Alampe.
A menor participação de fiéis não frustrou o organizador, pelo contrário; reforçou que prefere qualidade ao invés da quantidade. O prefeito de Votorantim, Carlos Pivetta concordou com Beto e aprovou o novo horário e destacou ainda que todo um esquema de apoio aos caminhantes foi disponibilizado com lanche, frutas, suco, água e café, além do acompanhamento de policiais militares e ambulância. Para a volta, ônibus gratuito levou os fiéis à cidade.
Pivetta também fez o percurso, chegou por volta das 9h em frente à capela, depois de cerca de 4h de caminhada e bem disposto. Os últimos fiéis chegaram por volta das 10h, quando teve início a missa em louvor à Nossa Senhora da Penha.
Andando com fé
Com o vento forte dos eucaliptos que rodeiam a propriedade particular onde a capela, datada do século 17, está construída, os primeiros caminhantes chegaram e logo foram procurar um local para sentar e descansar os pés; também saciar a fome e recuperar as energias. No local, havia venda de pastéis, churrasco e até cerveja. Quem não priorizou o descanso nem a fome ou a sede foi logo às preces. Agradecimentos e pedidos dos fiéis que já são veteranos no evento e também daqueles de primeira viagem.
Ao ver a repórter com o bloquinho na mão, o aposentado Sidnei de Oliveira Simões se aproximou e fez um pedido em voz baixa, de forma humilde.Moça, pode escrever um bilhetinho para mim?, perguntou ele, apontando o papel e a caneta e começou a ditar o que seria remetido à Nossa Senhora da Penha. O bilhete era um pedido à santa, para que o livrasse do vício do álcool e abençoasse a ele e sua mulher. Pegou, agradeceu e saiu entregar a carta ao seu destinatário, cheio de fé. Acredito sim que ela vai me fazer essa graça, confirmou ele que pela primeira vez participava da caminhada. Foi convidado para participar e resolveu aceitar enfrentar os muitos quilómetros divididos entre asfalto e terra, trechos com cascalho e ladeado por eucaliptos. E gostou. Não sentiu cansaço e acredita que seja pela fé. Samuel Martelini também fez o percurso todo. Ontem foi a segunda vez que participava do evento e sentiu cansaço, porém, emendou que se tratava de uma penitência.
Terminada a missa, por volta das 11h, os fiéis retornaram aos mesmos quilômetros caminhados durante a manhã do domingo; desta vez, de ônibus.

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