terça-feira, 27 de abril de 2010

O Arruda esteve em Votorantim

Manoel Peres Sobrinho*

Nada é mais difícil de realizar do que iniciar a introdução de uma nova ordem, pois a inovação tem como inimigos todos aqueles que prosperam sob as condições antigas e como amigos aqueles que podem se beneficiar com as mudanças – Maquiavel.

João Justino da Fonseca é um cidadão entre os milhões de brasileiros que se horrorizam com o que vem acontecendo com a nossa classe política nestas últimas décadas. Ao expressar sua indignação, assim se revela neste contundente depoimento em forma de protesto: Sou um homem completando noventa e cinco anos no próximo mês de junho. Leio desde os 14 anos de idade. Tenho visto muito. Entendi-me gente na famosa era Vargas, Felinto Muller matando e torturando. Vi os militares de Castelo a Figueiredo. Li de um tempo em que a sede do governo era Rio de Janeiro e os congressistas só moravam, porque o agente público reside no lugar onde trabalha, ou não serve bem no desempenho da função. Não havia avião. O transporte era o Ita, via costeira. Com o congressista ia sua família, que só vinham a seu estado nos períodos de férias. Cada qual pagava o aluguel de sua morada com o produto dos subsídios. Os políticos eram homens sérios e respeitáveis, salvo exceções. Hoje a exceção é o político digno, honrado, respeitável... O lugar do Arruda é na cadeia. Claro, que o Arruda a quem se refere o irado Sr. Justino, é aquele do Distrito Federal, José Roberto Arruda, que foi preso por decisão do Superior Tribunal de Justiça e à revelia da Câmara Legislativa do Distrito Federal por suspeita de corrupção de testemunhas e por supostamente utilizar a máquina pública para impedir a tramitação de processos de impeachment contra ele na DEM em Brasília, Como se não bastasse, ele chega a aparecer em um vídeo colocando maços de dinheiro, supostamente fruto de propina, em uma sacola. Dói em cada um de nós, na alma e no coração, ver um governador sair do palácio para a cadeia, desabafa o ministro Carlos Ayres Britto.

O que visitou (24/04) a cidade de Votorantim foi Plínio de Arruda Sampaio, 79 anos, pré-candidato à presidência da República pelo Partido Socialismo e Liberdade (Psol). Emblematicamente, a reunião com militantes e simpatizantes, aconteceu na Associação Cultura de Votorantim, “em cima” da agência do INSS, um órgão federal que, para todos os efeitos, está falido; ao lado de uma emissora de TV, a TVV, um órgão formador de opinião e de iniciativa privada; e perto do PA, (Pronto Atendimento) que é subsidiado pelo município. Perguntei-lhe, se não seria relevante discutir a situação dos 120 desaparecidos entre os 400 mortos que o regime militar produziu, entre 1964 e 1985. Sua resposta foi de que consultaria o povo (as bases, em linguagem petista), e que conforme já havia respondido a um jornalista, anteriormente, procuraria considerar os que nasceram após 1985 que nada vivenciaram do regime; relevaria a questão dos anistiados, inclusive ele que fora alvo; e procuraria punir os culpados diretos de transgrediram as leis dos direitos humanos.

Sorridente, bem humorado e muito atencioso com todos, atribuiu a força e sucesso da sua campanha a uma participação do povo, em suas cidades, formando comitês nos bairros que gerariam recursos e estratégias diferenciados conforme o público alvo a ser conquistado. Socialista confesso, é a favor da privatização dos bancos de imediato, e a longo prazo das fábricas e fontes de recursos econômicos consideráveis.

Nessa longa caminhada até a presidência o Psol tem, aqui em Votorantim, a dura tarefa de fazer acreditar que isso pode dar certo, quando na raiz ideológica e origem histórica do mundo socialista tudo está ruindo. Embora o neocapitalismo não seja, de longe, o sistema econômico ideal para o mundo atual, senão para os banqueiros e seus agregados diretos, o socialismo mostra as suas vísceras quando não consegue manter seus blocos políticos intactos, frente à avassaladora ameaça do capitalismo selvagem. Não dizemos que seja impossível, mas a história tem nos mostrado, que para se construir um mundo novo é preciso mais que uma outra ideologia para substituir a antiga. É necessário ser consumido diariamente nas 24 horas por essa esperança que poderá se concretizar. Lembrar que ninguém vive só de sonhos, idéias, utopias e esperanças a longo prazo. É preciso mostrar resultados. Nesse sentido, o capitalismo é mestre.

*O autor é mestre em Educação, Artes e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.

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