Manoel Peres Sobrinho*
Quando você estiver cansada/ Se sentindo pequena/ Quando as lágrimas estiverem em seus olhos/ Eu irei enxugá-las/ Estarei do seu lado/ Quando o tempo te maltratar/ Quando os amigos simplesmente sumirem/ Como uma ponte sobre águas turbulentas/ Eu irei me colocar/ Como uma ponte sobre águas turbulentas/ Eu irei me colocar// Quando você estiver pra baixo/ Quando estiver na rua/ Quando o anoitecer for difícil/ Eu irei te confortar/ Eu ficarei do teu lado/ Quando a escuridão chegar/ E o sofrimento estiver ao redor/ Como uma ponte sobre águas turbulentas/ Eu irei me colocar/ Como uma ponte sobre águas turbulentas/ Eu irei me colocar// Navegue, Garota de Prata/ Navegue!/ Sua hora de brilhar chegou!/ Os seus sonhos estão a caminho/ Observe o quanto eles brilham/!/ E se você precisar de um amigo/ Eu estarei navegando ao seu lado/ Como uma ponte sobre águas turbulentas/ Eu serei um alívio pra você/ Como uma ponte sobre águas turbulentas/ Eu serei um alívio pra você. "Como uma ponte sobre águas turbulentas" - Michel W. Smith.
De cima da ponte Benito Sevilha (12/01/1918 – 22/01/1982), cidadão emérito, olho para o rio Sorocaba. Minha vista acompanha a sua margem, até se perder na curva que leva ao Terminal Urbano João Souto. As suas águas descem mansas, com uma tranquilidade preguiçosa, e se arrastam, lentamente, fazendo marolas, como quem brinca com a vida. De cor verde escuro passam pela ponte mansamnete, até parece demorarem um pouco mais nesse trajeto, como se quisessem acenar num adeus, como alguém que parte e vai embora. Vez por outra, minha tranquilidade é perturbada por um tremor provocado pela passagem de um ônibus ou caminhão de carga. Nada que me tire a concentração e a curiosidade bucólicas. Procuro uma personagem emplumada e assídua frequentadora do lugar. E, lá está ela! 90 centrímetros de pura brancura. Bico longo e amarelado, pernas e dedos pretos, íris amarelado concentrado num par de olhos apertadinhos, mas de grande alcance e precisão. É a casmerodius alba, nomeada pelo botânico Linnaeus, 1758. A nossa mais conhecida garça. É elegante, clássica, pescoço longo e empertigado. Comportamento fino, passo calculado, de estilo nobre. Bico fino e extenso, ágil como uma flecha quando se trata da sobrevivênvia. Busca à distância peixinhos distraídos e esquecidos da segurança e atenção à vida. No galho, descansa com graça; no chão ela não anda, desfila, tal como as belas modelos de ricas passarelas européias. No entanto, a vida não é feita só de natureza e beleza estética. Na faina da existência os homens se organizam em instituições ideológicas, simbólicas e representativas que intermediam suas relações com os outros homens e, também, abrem caminho para com os seres celestiais. No Rio Acima, outrora denominado, e hoje Centro e início do Bairro Dominguinhos está a Igreja Presbiteriana de Votorantim, que vem "desde 1923 proclamando a Soberania de Deus", mas que tem suas raízes no século XIX, quando por aqui passou o "padre protestante" Rev. José Manoel da Conceição (11/03/1822 – 25/12/1873), conforme herma (busto) "plantado" em frente da igreja e final da Avenida que leva o seu nome. Uma merecida homenagem do município ao pioneiro do presbiterianismo em nossa cidade. Rio Abaixo ou Centro está o prédio da Prefeitura Municipal de Votorantim, com seus inumeráveis departamentos e sessões. No piso inferior, estão: Finanças, Cadastro Fiscal e Imobiliário, Licitação e Compras, Recursos Humanos, Protocolo, Banco do Povo, Adminstração, Medicina do Trabalho, No piso superior: Segurança e Trânsito, Obras e Urbanismo, Controladoria Interna, Gestão Política e Econômica, Comunicação, Sala de Imprensa, Negócios Jurídicos e Dívida Ativa. É uma casa de muito trabalho e preocupação com o município e seus munícipes. Outrora, chamado de Paço Municipal, para antiga designação de palácio. Fazendo parte do chamado "Complexo Urbanístico José de Oliveira Souza", o nosso querido "Zeca Padeiro", encontram-se a Câmara Municipal, o Centro Cultural "Mathias Gianolla", com a Biblioteca Municipal e o Núcleo de Dança, e do outro lado da rua, a pista de skate, junto ao que o povo denominou de "mini terminalzinho". Não podíamos deixar de citar o Monumento em homenagem aos ex-combatentes da Revolução Constitucionalista de 1932 que fica em frente da Avenida 31 de Março. Inaugurado em 22 de maio de 1982, por ocasião do 50º aniversário da Revolução no governo do Prefeito Lázaro de Góes Vieira. Vez por outra, ao norte da ponte e junto à pista de skate, andarilhos e forasteiros se alojam ali para um descanso e reordenação de rumo. São pessoas sem nome, sem voz, nem vez, enfim, anônimos. Cidadãos invisíveis de uma pátria que não existe. De fato, não podem contar com ninguém, a não ser com a ajuda e benevolência de alguns filantropos ou da própria sorte. Há aqui um encontro dialético e paradoxal de elementos simbólicos e ideológicos entre o sagrado, o político, o humano e o natural. Entre o humano e o natural, quem saiu vencendo, nessa luta pela sobreviência foi a natureza, já que a garça não precisa da benevolência humana ou dos favores espirituais; e, nem da organização política e social do Estado, já que vive in natura.
(*O autor é membro da Academia Votorantinense de Letras, Artes e História, ocupa a cadeira nº 12, e tem por patrono o romancista carioca Afonso Henriques de Lima Barreto).
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