quinta-feira, 22 de julho de 2010

A política e os candidatos

 

Manoel Peres Sobrinho*

 

Na obra Cristianismo e Política, do bispo Robinson Cavalcanti, quando assegura a verdade básica de que todos somos políticos, diz ainda que não há nada tão cientificamente inexato e conceitualmente impossível do que a pretensão de ser apolítico. A vida social no seu todo, ou em cada um dos grupos ou instituições componentes, é uma vida política. Impossível a existência sem autoridades, normas, sanções, mecanismos de participação, formas de decisão. Vê-se o político pelo ângulo do poder inerente ao social. Abstraindo-se o conceito de poder, o social daria lugar ao caótico (p. 18).

     Diante dessa terrível impossibilidade de um escapismo sem consciência pesada e culpada, cabe uma pergunta inevitável: como escolher um bom candidato? Não é uma pergunta de fácil resposta. A sua complexidade se dá pela importância inerente à questão que ela procura resolver. Mas podemos desenvolver algumas alternativas viáveis e de fácil assimilação.

     Um candidato é a história de sua vida pregressa. O que isso significa? Ele é em síntese a sua história de vida. Ele é o que ele sempre demonstrou que é em todos os seus atos. Ninguém se modifica de uma hora para outra. Se quiser gastar um pouco de tempo, poderá procurar saber como ele era na mocidade, quais eram as suas pretensões de vida. O que pensava acerca dos temas políticos, da situação da cidade, da situação do povo em geral. Ela gostava de política ou não? Quais seus reais interesses quanto à filosofia de vida de seus conterrâneos. Que cursos ele fez? Onde esteve todo esse tempo pré-político. No momento percebemos uma verdadeira avalanche de candidatos. Há muito amadorismo e espírito aventureiro. Nutrem certa vontade política, mas alicerçados na popularidade inconseqüente e disso querem tirar proveito. Um caráter não se modifica da noite para o dia. O seu candidato pode ser um oportunista!

     Um candidato é a sua plataforma política. O que mais se observa é uma avalanche de frases ambíguas e politicamente inconseqüentes. Veja estas: O povo governará comigo. Acha mesmo? Precisamos acabar com analfabetismo, a fome e a falta de segurança. Mas quem não sabe que isso é necessário? Vamos combater a corrupção! Puxa, até que em fim! Frases inócuas e de profundo caráter pretensioso sem condições de realização. Uma pergunta simples: Quais são os planos gerais do seu candidato? Como ele pretende atacar os problemas reais do país.  Há uma arquitetura inteligente em suas idéias, ele pensa coerentemente, de maneira real e conveniente respeitando a história social do país? Em campanha há muitos que prometem aquilo que sabem não poder cumprir. Uma plataforma política não é nada mais do que uma série de pontos onde candidato vai trabalhar de fato. Há aqueles, ainda, que elegem um segmento social para desenvolver sua carreira política: juventude, esporte, os pobres, o povo (com distinção dos ricos). Nesse caso, falta-lhes a visão do todo social, aumentado subliminarmente o antagonismo das classes sociais e certamente não conseguem compreender a dialética econômica, social e política.

     Um candidato é a síntese de como cuida dos seus próprios bens. É verdade que não podemos generalizar porque há candidatos e candidatos. O seu candidato é um vencedor ou um perdedor? Suas derrotas são conseqüência de seus erros de estratégia ou atitudes meramente inconseqüentes? Tem ele uma família, cuida bem dela? Seus negócios pessoais são atributos positivos de sua administração e vida familiar, ou em geral está sempre se desculpando por suas derrotas e equívocos e, mais, culpando sempre terceiros. Como se comporta quando está vivendo sob pressão? Atira a esmo farpas de discórdia ou serenamente procura soluções viáveis e conciliatórias preservando o tecido social com soluções razoáveis e concretas? Seu candidato é um sonhador utópico com pretensões mirabolantes e messiânicas ou um realista calmo que caminha conforme as reais possibilidades. Pretende fazer reformas radicais ou torná-las possíveis e exeqüíveis pelo consenso a curto, médio e longo prazos? Em última análise: você confiaria sua família aos seus cuidados?

     Nosso país é uma grande família onde vivemos, trabalhamos, construímos e sonhamos. Veja quem vai escolher para tomar conta dela!!! Eu sei que é uma frase horrível e batida, mas uma grande verdade: todo povo tem o governo que merece!

 (*O autor é mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universiade Presbiteriana Mackenczie).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.

Ouça a Rádio Votorantim