segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Triste destino*

Por Fernando Grecco

"Uma das leis da política é a da visibilidade. Cada sigla, evidentemente, objetiva se aproximar da massa. As celebridades funcionam como um anzol que os partidos jogam para pescar os votos dos eleitores." (Gaudêncio Torquato – Universidade de São Paulo – USP)

 

Ao findar o obscuro Regime Militar no Brasil, assistimos a vários embates políticos acalorados, uma vez que as ideologias e posicionamentos eram muito evidentes naquela ocasião. Bem ou mal, tínhamos Paulo Maluf, representante da extrema direita brasileira, defensor árduo de um regime autoritário, fascista e assassino. Na sua esteira aparecia Guilherme Afif Domingos (esse mesmo que atualmente é vice de Alckmin) e outras figuras caricatas de mesmo gênero. No outro extremo, surgia Lula, o eterno Leonel Brizola, Miguel Arraes e, pasmem, até FHC, José Serra, Mário Covas etc.  

Vimos, no decorrer da década de 1980, posições ideológicas mais definidas, sendo possível notar diferenças cruciais entre os candidatos que pleiteavam vagas ao Executivo ou Legislativo. Para onde foram essas diferenças que norteavam os votos daqueles brasileiros mais politizados? Diluíram-se juntamente com a esperança de construção de uma economia mais justa, de uma sociedade mais organizada, com justiça social, oportunidades e pleno emprego?

Atualmente, nada é mais monótono e repetitivo que um debate político em época eleitoral. Os candidatos deixaram a autenticidade de lado. Deram lugar a um estereótipo bem trabalhado pelo marketing. As perguntas e respostas pré-moldadas servem para qualquer candidato, independentemente de partido, coligação ou tendência. Submergiram com o improviso, com a retórica eloqüente de um posicionamento ideológico claro, cristalino, que era, sem dúvida alguma, uma arma teórica de grande valia no meio político.

Somadas essas considerações iniciais, todos se perguntam como são possíveis as candidaturas de Tiririca, Tati Quebra-barraco, Mulher Melão, Mulher Pêra, Netinho de Paula, Batoré, Simony, Ronaldo Esper, Reginaldo Rossi, Cameron Brasil, KLB, Romário, Marcelinho Carioca, Túlio Maravilha, Maguila e tantas outras que nos envergonham quando se expõem no horário político eleitoral. Em artigo recente consideramos os motivos que levam às suas candidaturas, explanando a injusta distribuição de votos entre os partidos etc.

A interrogação que fica registrada como uma indignação geral é a seguinte: por que se chegou à tamanha depravação moral, a um nível tão reduzido a ponto de não mais conseguir discernir o importante do supérfluo? A resposta a esta indagação tem, evidentemente, fundamentos históricos e sociológicos, mas, em uma opinião genérica, essa circunstância é fruto da absoluta ignorância do povo brasileiro. Dialoguemos com qualquer cidadão comum nas ruas e veremos sua total alienação com relação a quesitos importantes de nossa sociedade. Seguramente, ele não saberá sequer dar uma acepção lógica de justiça social, educação pública de qualidade, saúde, transporte eficiente, direitos constitucionais básicos etc. Essa insanidade é tamanha que já fugiram em muito do seu controle.

Diante desse quadro aterrador, onde a política não só está perdendo sua essência, como está também descambando para o grosseiro, para a erotização barata, não é possível fazermos previsões muito animadoras para o País. Esperaremos, sim, uma sociedade cada vez mais enferma, mais desigual, onde a violência imperará nas ruas, nos lares, nas pessoas. Não há dúvidas que a corrupção se tornará cada vez mais freqüente em nossos meios, tornando-se, como já é possível notar, algo intrínseco à nossa condição de brasileiro.

 

            Fernando Grecco é articulista da Folha de Votorantim.

            E-mail: fer.grecco@yahoo.com.br


* O artigo expressa unicamente a opinião do autor.



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