sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Namastê, Maia Júnior!

José Antônio Rosa

Notícia publicada na edição de 08/10/2010 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 4 do caderno B
 
 

Bailarino sorocabano, “que dançava como que
 guiado pelo próprio instinto”, faleceu na quarta-feira
Foto: Adival B. Pinto / Arquivo
 
O bailarino e performer sorocabano Maia Júnior morreu na quarta-feira (6), vítima de infarto. Professor, coreógrafo, ele tinha 52 anos. Trabalhava, atualmente, na Secretaria de Cultura de Votorantim, além de dar aulas de dança de salão. O artista adotou, recentemente, por força da numerologia, na qual acreditava, o nome de Dito Von Maia Júnior. Figura carismática, solidária, sempre vibrante, Benedito Maia Júnior foi, também, ator. Trabalhou com Elvira Gentil antes de ser cooptado de vez pela dança. Teve em Janice Vieira e Denilto Gomes dois dos mais importantes nomes da expressão, seus mestres, mentores, gurus e pais na carreira que o escolheu. Sob o comando da dupla, fez parte do antológico grupo “Pró-Posição”.
Janice, que também revelou muitos outros talentos, contou à reportagem, bastante emocionada, que Maia tinha uma personalidade única. “Dançava como que guiado pelo próprio instinto. Às vezes, mostrava-se rebelde, executava movimentos independentes. Nós pensávamos numa coreografia para o grupo, e outra para ele”. Também com Janice Vieira, Maia Júnior protagonizou “Por um Instante de Brilho”, espetáculo que marcou época nos palcos da cidade. Dançou, ainda, mais recentemente, “Miguilim”. “Ele fez muito pela dança”, destacou a bailarina. Maia, ainda conforme Janice, quebrou barreiras, enfrentou preconceitos e dificuldades para se firmar. Trabalhava muito, principalmente como professor de dança de salão, gênero que o tornou conhecido.

 
Dava aulas para a turma da terceira idade da Uniso, onde se formou, no ano de 2005, em Hotelaria. No ano passado, também com Janice, falou ao programa “Provocare” sobre sua trajetória e da atuação performática. Realizou, ainda, no Teatro Municipal, com Larissa Daniel, a coreografia “Era uma Vez um Sonho”. “Foi um dos grandes performers da nossa arte”, continuou Janice. O bailarino pesquisava muito elementos da cultura popular brasileira e os incorporava às apresentações. Apaixonado por carnaval, marcou presença em desfiles e acabou se envolvendo em confusão. Lembra Janice Vieira que, há alguns anos, Maia tirou do sério policiais que cuidavam da segurança no sambódromo local. Perseguido, escapou do cerco, executando movimentos rápidos de capoeira. “Não foi nada de mais grave. Ele só estava brincando”.

O temperamento doce, afável, amigo e acolhedor eram sua marca registrada. “Nós nos vimos há uma semana, quando fui entregar para ele o CD do grupo Macaíba, do qual meu filho faz parte. Acho que acabou sendo uma despedida”. Também sua contemporânea, a bailaria e atual diretora do Ballet de Salto, Ismênia Rogick, lembrou do jeito sereno de Maia. “Ele tinha sempre uma palavra de carinho, tratava a todos bem. Foi um artista talentosíssimo. Nos conhecemos quando eu voltei para Sorocaba depois da passagem pelo Stagium”. Na internet, diversas mensagens foram postadas em blogs por quem conhecia, ou conviveu com Maia Júnior. Numa delas, o jornalista do Cruzeiro do Sul, Marcel Stéfano, registra sua tristeza pela perda de “um cara que veio ao mundo para trazer felicidade”.

Lembrou que o dançarino era frequentador do “Arara Aurora”, e que “recebia a todos com o seu peculiar “Namastê”. “Com lenço na cabeça e sorriso no rosto, ele era um cara de papo fácil, alegre, divertido. Daqueles que só pessoas de bem com a vida conseguem estampar diariamente. Perdemos alguém de bem entre nós. Perdemos muito. Mas, Maia ficará eternamente em minha lembrança assim: sorrindo e dançando”. O ator Eli André Corrêa também sintetizou, na rede, o seu sentimento de perda, assinalando que “faleceu o grande bailarino Maia Júnior, frequentador do antigo Arara. Como ele dizia: “Vou ali, e já volto”

Maia mantinha o seu próprio blog, no qual deixou anotadas duas frases que bem demonstram a dimensão que tinha da arte. Na primeira, dizia “Dançando a Vida Inteira”. A segunda, reproduz Nietzche: “E que seja considerado perdido o dia em que não se dançou ao menos uma vez”. O corpo do artista, que deixou irmãos, tios e primos, foi sepultado à tarde, no Cemitério da Saudade.

 

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