terça-feira, 2 de novembro de 2010

Nunca é tarde para aprender

Samira Galli

Notícia publicada na edição de 02/11/2010 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 7 do caderno A
 
As aulas são grátis, destinadas a quem tem mais de 15 anos
Foto: Fábio Rogério


“Nunca é tarde.” Este é o ensinamento deixado pela aluna do curso supletivo do Ensino Fundamental de Votorantim, Maria das Dores dos Santos. Com 84 anos, a catadora de material reciclável parou os estudos na segunda série do ensino fundamental, quando ainda morava em Minas Gerais. Em Votorantim há 30 anos, Maria das Dores voltou a estudar no começo do ano e reaprendeu a ler. “Tenho vontade de recuperar tudo o que eu perdi nesses anos todos”, afirmou. Ela se autoclassifica como uma “menina peralta”, mas diz que nunca falta às aulas. “Só quando chove”, alega, mas justifica: “É que eu tenho medo”. Esforçada, diz que o que mais quer é aprender todos os dias. A professora Suely Dias Vieira confirma: “Ela tem muita força de vontade”.

 
Assim como Maria das Dores, quem tem mais de 15 anos e não é alfabetizado pode se inscrever em qualquer uma das 44 unidades de ensino da rede municipal de Votorantim. As inscrições são para o supletivo de 1.ª à 4.ª séries do ensino fundamental, para o primeiro semestre de 2011, e estão abertas por tempo indeterminado, para “não haver nenhuma desculpa para voltar a estudar”, segundo a diretora do Departamento de Educação de Jovens e Adultos (EJA) e Ensino Profissionalizante de Votorantim, Sueli Patrocínio da Silva Araújo. Para se inscrever, o interessado deve comparecer na escola mais próxima de casa, com o documento de identidade (RG) e comprovante de endereço, de segunda a sexta-feira, das 8h às 16h.


Sueli afirma que a intenção é ampliar a quantidade de núcleos de atendimento nos bairros, que só será possível se houver demanda de pelo menos 20 alunos por unidade. “Se eu pudesse, faria atendimento domiciliar aos grupos. Esse é um grande sonho”, disse. Ela contou que, entre os alunos, há desde os que nunca estiveram na escola até os que, por algum motivo, precisaram interromper os estudos.

 
O operador de máquinas Paulo Elias dos Santos, 39 anos, tinha vergonha quando alguém pedia para ele escrever qualquer palavra. Natural do Paraná, mora em Votorantim desde os 22 anos de idade e cursa o supletivo desde o começo do ano, tempo suficiente para aprender a ler e a escrever. “Eu não tinha como mudar de profissão porque não tinha como melhorar meu trabalho.” Em busca de um novo emprego, Santos precisou preencher uma ficha para cadastrar o currículo numa empresa. Até pediu desculpas à recepcionista, caso tivesse errado alguma palavra. “Ela falou que estava melhor que de muitas pessoas que já sabiam. Agora eu não tenho mais vergonha de escrever. Escrevo qualquer coisa”, contou.

A professora Suely considera mais gratificante dar aulas para adultos que para crianças. “É inexplicável acompanhar o resultado e a evolução deles”, frisou. Suely guarda muitas histórias de vida e de agradecimento, entre elas a de uma faxineira que, graças aos estudos, conseguiu melhorar a condição financeira depois que obteve emprego num shopping. “Ela sempre vem aqui agradecer”, recordou.

Apesar do caldeireiro Francisco Silva Carvalho, 52 anos, ter conhecido todo o Brasil a trabalho, ele “esqueceu” como se lia. Natural do Piauí, mora em Votorantim há 25 anos. Por motivação do filho, Carvalho deixou de passar as noites assistindo à televisão e resolveu retomar os estudos o ano passado. Além de relembrar como se lê, Carvalho voltou também a fazer contas. “Agora leio tudo, até pensamento”, brincou.

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