sábado, 29 de janeiro de 2011

E a dengue avança

Notícia publicada na edição de 29/01/2011 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 3 do caderno A

Sorocabanos e votorantinenses poderão, em breve, sair da zona de conforto em que se encontram, para enfrentar uma situação aflitiva, que só conhecem pelo noticiário
A população de Sorocaba e Votorantim enfrenta, neste começo de ano, a pior ameaça da dengue desde o início do atual estágio de propagação da doença, que infectou um milhão de pessoas e causou a morte de 550 em todo o país, no ano passado.

Sorocaba foi listada pelo Ministério da Saúde entre as setenta cidades do Brasil com risco - moderado, por enquanto - de desenvolver uma epidemia da doença neste verão. A cidade teve 38 casos confirmados em 2008 (sendo 18 autóctones, isto é, contraídos aqui) e apenas sete em 2009 (um autóctone), mas registrou um salto impressionante em 2010, com um total de 365 casos, em sua maior parte (76,4%) referentes a contágios ocorridos na cidade.

 
A situação também é preocupante em Votorantim. O Ministério da Saúde previu, com base na evolução do número de casos diagnosticados, que 1.050 pessoas poderão ser contaminadas até o final deste ano. As projeções assustam o pessoal da Saúde Pública, que já contratou até motoboys para entregar mais rapidamente os resultados dos exames. “Infelizmente, essas projeções têm se confirmado ao longo dos anos”, admitiu a secretária de Saúde, Gladys Leite Barasnevícius.

 
As constatações indicam que sorocabanos e votorantinenses poderão, em breve, sair da zona de conforto em que se encontram para enfrentar uma situação aflitiva, que só conhecem pelo noticiário. E o mais triste é que, se isso ocorrer, muitos dos cidadãos conscientes, que se preocupam em eliminar focos do mosquito e seguem os procedimentos indicados, poderão adoecer por conta dos que não se incomodam em manter criadouros no quintal de suas casas e não se envergonham por descartar objetos inservíveis e lixo doméstico em terrenos baldios.
Ontem mesmo, este jornal registrou o lamentável estado de um terreno sem muro no Parque Esmeralda, onde pessoas desconhecidas passaram a despejar lixo, entulho e móveis velhos durante a noite (“Área vira depósito de lixo e entulho”, pág. A8). Esse tipo de ocorrência é preocupante, pois demonstra a facilidade com que surgem os depósitos irregulares de materiais inservíveis - onde a água da chuva pode se acumular, favorecendo a procriação do mosquito -, além da dificuldade que os moradores próximos enfrentam quando pedem ajuda ao poder público.

Sorocaba registrou progressos nessa área nos últimos anos, com a implantação da conteinerização da coleta de lixo, o avanço (se bem que ainda tímido) da coleta seletiva e a criação dos ecopontos, locais onde a população pode depositar restos de construção. Mais especificamente no combate à dengue, segundo a divulgação oficial da Prefeitura, são realizadas hoje cerca de vinte ações no âmbito da secretaria de Saúde, área de Saúde Coletiva e seções de Vigilância Epidemiológica e Zoonoses.

 
A explosão de casos em 2010, entretanto, indica que as medidas não foram suficientes para afastar o perigo, fato agravado pela falta de adesão de parte dos moradores às ações preventivas e de uma limpeza urbana mais efetiva. Os pontos fracos são a ausência de uma coleta regular de móveis e tralhas mantidos em terrenos e quintais - nos moldes do programa “Cata treco”, criado pelo atual secretário de Governo, Paulo Mendes, e mantido pela Prefeitura nos anos 1980 -, e a resposta demorada às reclamações, como ocorreu lá mesmo no Parque Esmeralda, onde os moradores afirmam ter solicitado há seis meses a intervenção da Prefeitura para limpar o terreno, sem resultados.

 
A limpeza urbana é essencial para a redução dos vetores da dengue, sem a qual a infestação do Aedes aegypti só tenderá a crescer, ampliando exponencialmente a possibilidade de contágio. Será que Sorocaba precisará passar pelo mesmo sofrimento de outras cidades brasileiras, com hospitais cheios de doentes e até mesmo vítimas fatais, para se convencer da importância do combate ao mosquito? Esperemos que não.

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