A SÓS COM DEUS

Manoel Peres Sobrinho

Uma grande característica da santidade é nunca exigir – nunca reclamar. Cada reclamação nos faz descer um degrau no nosso curso ascendente – Gold Dust.

A marca de um santo não é a perfeição, mas a consagração. Um santo não é um homem sem faltas, mas um homem que se deu sem reservas a Deus – Bishop Westcott.

Lembremo-nos disso: nossa fé mostra suas verdadeiras dimensões na hora de provação. Aquilo que não suporta o momento de prova não passa de mera confiança carnal. Fé em tempo de bonança não é fé – C. H. S.

Deus não prometeu céus sempre azuis, veredas ornadas de flores por toda a nossa vida. Deus não prometeu sol sem chuva, gozo sem pesar, paz sem sofrimento. Mas Deus prometeu força para o dia, descanso para o labor, luz para o caminho, graça para todas as provações, auxílio do alto, compaixão inesgotável, infinito amor – Annie Johnson Flint.

Precisamos ficar a sós com Deus, quando tudo vai mal e carecemos de orientação. Faltam-nos caminhos e alternativas viáveis. Faltam-nos possibilidades que possam tornar-se realidades. Faltam certezas que se disponham a caminhar conosco, nesses momentos tenebrosos que tudo parece estar perdido.

Precisamos ficar a sós com Deus, quando tudo vai bem e desejamos agradecer. Fazer da oração um momento de gratidão, de reconhecimento, atitude consciente de que nada vem por acaso, mas dirigido pela Mão Invisível que age na História do Universo, do mundo e dos homens. Orar com a voz, com a alma e com o coração. Orar com as intenções do espírito humano, com as entranhas do corpo como quem percebe a grandeza e infinitude daquilo que recebeu.

Precisamos ficar a sós com Deus, quando nos falta e precisamos pedir. Pedir como um filho pede a seu Pai. Como uma última alternativa possível e razoável. Pedir sem ser humilhado, mas também sem a pretensão, sem a arrogância e nem o desespero. Pedir com certeza e amparo da intimidade, como se faz com um grande Amigo. Companheiro de todas as horas, momentos e assuntos, sem o constrangimento de um sonoro “não”.

Precisamos ficar a sós com Deus, quando alguém está doente e precisa de intercessão. Doença que incomoda a quem amamos; consome e arrasa que abate e mata. Intercedemos por que Ele mesmo nos ensinou a fazer assim. Porque Ele quer nos ouvir a pedir e insistir. Ele quer sentir bem nossa dependência. Não por usurpação, mas por que quer agir com todo o Seu poder, em meio ao clamor que transforma o impossível em milagre.

Precisamos ficar a sós com Deus, quando há dúvida e precisamos de um caminho certo para seguir. Buscar uma porta que se abra. Umazinha só. Mas a da possibilidade, do avançar seguro. Orientação que nos falta, que promove longas noites de insônias e de esforços ociosos. Falar com ele, no secreto do nosso quarto, agasalhá-lo no recôndito do nosso coração e nos escaninhos de nossa alma. Falar abertamente, porque se sabe ser ouvido, como uma porta aberta e com um convite amoroso para descansar.

Precisamos ficar a sós com Deus, quando a luta é árdua e precisamos de ânimo para combater. De forças para vencer. Luta de todas as horas, com todas as forças; de todas as maneiras. A luta que nunca termina. Em que não há tréguas. Nunca um recuar. É só avançar. A sós com Ele, para que sejamos orientados.

Precisamos ficar a sós com Deus, quando nos sentimos sozinhos e precisamos de Sua companhia. Quando nos pesa a solidão na multidão;

o fracasso em meio às muitas vitórias alheias; a estagnação pessoal à vista dos muitos avanços de outros. Quando a alma definha no vazio, e se oculta na imensidão das propostas fracassadas, dos socorros prometidos, mas que tardios nunca avizinhados, das promessas feitas, mas jamais concluídas. Quando nossa voz dialoga consigo mesmo, parecendo tudo tão distante, fora do alcance, longe das possibilidades.

Precisamos ficar muito a sós com Ele. Momentos de introspecção. De um olhar para dentro, sem medo do que vá encontrar. Confissão declarada. Confissão sincera. Com alma despida, desnuda. Somente Ele e você. Comunhão perfeita!