José Antônio Rosa
Eles até gostariam que fosse uma referência a Lampião, mas o "Virgulino" que batiza o trio que se apresenta amanhã dentro da agenda da Festa Junina Beneficente de Votorantim é mesmo sobrenome de família. Foi o que contou o sanfoneiro Enok, filho de Manuel, músico de Parnamirim, no sertão pernambucano, sobre a origem do conjunto. Tudo começa quando ele e mais dois amigos decidiram, nos anos 80, tentar a sorte no sul do país. O grupo tocou, antes, em bailes e festas que aconteciam naquela cidade.
Como acontece na saga de todo migrante, a dos três pernambucanos foi marcada por dificuldades. Em São Paulo, batalharam por espaço, mas não se deram bem logo de cara. O curioso é que Enok insistiu para que seu irmão, que o acompanhava no começo da carreira, viesse para a cidade grande. "Disse a ele que a gente estava quase ficando rico. Não fui convincente, pois o mano não arredou pé lá de Pernambuco, não."
Sem o parente, Enok, Roberto e Adelmo começaram a frequentar programas de rádio e a fazer bailes animados a forró. Numa dessas ocasiões, o apresentador atentou para o fato de que na zabumba que Roberto carregava, estava escrito "Trio Virgulino". Enok lembrou que a inscrição fora feita a caneta anos antes. "Estava até meio apagado, mas o sujeito enxergou." O título acabou pegando e se tornou marca registrada do conjunto.
O grupo chegou a participar de um concurso na Rádio Clube de Americana, região de Campinas, onde Enok vive até hoje, que oferecia como prêmio uma cesta básica. Durante a seleção, o violonista não conseguiu acompanhar um calouro e Enok, mais do que depressa, acompanhou com a sanfona. O diretor da emissora gostou tanto que, além dos alimentos, ofereceu um salário para que o trio passasse a fazer parte do seu cast.
Há 30 anos, continua o músico, o gênero ainda não tinha a projeção que hoje tem. "É até engraçado porque a gente tocava o que Luiz Gonzaga mostrou ao Brasil na década de 50." Desde então, o forró ganhou status, passou a ser conhecido como "pé de serra" e, mais recentemente, chegaria aos universitários. Sobre a primeira das denominações, Enok lembra que ela tem como origem o fato de o som ser produzido ao pé da serra do Araripe, em Pernambuco.
"Pé de serra vem daí. Era onde aconteciam os bailes, o lugar onde todo mundo ia no bate-coxa, no arrasta-pé, no rala-bucho, entende?". O trio testemunhou o surgimento de novas vertentes e, com o passar do tempo, consolidou-se como uma das mais importantes atrações do som nordestino. Gravou discos e dividiu a cena com artistas do calibre de Caetano Veloso, Alceu Valença, Moraes Moreira, Dominguinhos, Elba Ramalho, Geraldo Azevedo e Zeca Baleiro.
Também herdeiro do legado artístico de Luiz Gonzaga, o Virgulino é, ainda, padrinho de outro grupo contemporâneo, o Fala Mansa. Enok lembra que quando o forró universitário ainda não estava em evidência, tocou, com o conjunto, numa casa paulistana frequentada por jovens. "Quando a gente se apresentou devia ter umas mil pessoas no salão. Do lado de fora, pelo que nos contaram, outras 4 mil acompanhavam. Foi assim que o gênero começou."
Amanhã, em Votorantim, o Trio promete não deixar ninguém parado. "Queremos ver o povo daí se esbaldar com a nossa música. Vamos levantar poeira e fazer muita coisa de Luiz Gonzaga, do nosso repertório autoral e o que as pessoas quiserem ouvir. Só não pode ficar parado", advertiu. Não vão faltar, portanto, clássicos como "Asa Branca", "Xote das Meninas", "Paraíba", "Forró de Cabo a Rabo" e faixas do álbum "Isso Aqui tá Bom Demais".
Recém-chegado de uma apresentação em Belo Horizonte, (a agenda de compromissos inclui, ainda, shows em São Paulo, e Jacareí), Enok perguntou ao repórter se haveria cobrança de ingresso na festa junina. Ao saber que o preço praticado era popular, ficou feliz. "É bom, porque permite que mais gente participe. E o que nós mais gostamos é de ver o povo se divertindo. Avisa todo mundo aí para aproveitar."
Serviço
Show com o Trio Virgulino dentro da Festa Junina Beneficente de Votorantim
Amanhã, a partir das 21h
Os ingressos custam R$ 2
O evento acontece na Pça. Lecy de Campos
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