Mayco Geretti
Agência BOM DIA
Médico que esteve à frente da direção do CHS por quatro meses afirma sentir hostilidade nas ruas de Sorocaba após escândalo
Heitor não concorda com o tratamento que vem recebendo da mídia e afirma que o estrago causado à sua vida pessoal já está feito e é irreversível, mesmo que sua inocência fique provada perante à Justiça.
“Estou sendo execrado pela mídia. Entrei no Conjunto Hospitalar tido como alguém capaz de salvar o hospital e saí como líder de quadrilha. Estou sentindo a hostilidade nas ruas. Você pode imaginar como é entrar em um hospital depois de tudo o que vem sendo noticiado?”, indaga.
Ele disse que segue atendendo seus clientes desde que o escândalo eclodiu e que realizou algumas cirurgias em outros hospitais da cidade. “Os pacientes que me procuram eu sigo atendendo, mas ligue para a minha secretária e veja quantos pacientes me procuram. Quase nenhum. Isso não em razão da investigação, mas pelo simples fato de eu ter me dedicado tanto ao CHS. Ficava tanto tempo lá dentro que deixei meu consultório em segundo plano.”
Heitor também comentou os trechos de grampos telefônicos veiculados pela imprensa, em especial no Fantástico e no Jornal da Globo. “Só foram veiculados trechos editados, não é possivel sequer saber do que está se falando, muito menos se trata-se de algo criminoso. Que esses veículos mostrem então uma conversa inteira, onde seja possível aos telespectadores analisar o contexto no qual as conversas estão inseridas.”
Ele citou que a imprensa como um todo está “pegando pesado” e criticou especificamente o BOM DIA, que na capa da edição de 17 de junho noticiou a prisão colocando sua foto sob a palavra “causa” e a foto de uma paciente à espera de atendimento por horas embaixo da palavra “efeito”.
Amigos e família
Terça(28) o BOM DIA conseguiu falar com Heitor Consani quando ele deixava o Mercadão Campolim, que fica a poucos metros do condomínio onde mora. Ele conversava com amigos, mas ao ver que seria abordado, decidiu abandonar o local.
Ao ser informado que o jornal gostaria de publicar sua versão sobre os fatos, Heitor parou o automóvel, baixou o vidro parcialmente e, pouco a pouco, falou sobre a questão sem, no entanto, jamais desligar o motor do veículo. Ele afirmou que sente-se perseguido e classificou a postura da imprensa como desnecessária. “Não estou fugindo. Só não tenho condição de falar sobre isso agora”, afirma, descartando a possibilidade imediata de convocar uma entrevista coletiva.
O médico alegou também que está se alimentando e dormindo graças a medicamentos e afirma que, neste momento, está se apoiando em familiares e amigos. “Vou ficar perto de quem gosta de mim. Quem me conhece há muito tempo, sabe da minha idoneidade e confia no que eu estou falando. Por que eu vou ficar conversando com gente que me olha nos olhos e está pensando em tudo o que acredita que eu tenha feito de errado?”, questiona.
Duas noites preso
Heitor foi preso em sua casa, em um condomínio na divisa entre Sorocaba e Votorantim, na madrugada de 16 de junho. Quando não estava prestando depoimentos no Grupo Antissequestro de Sorocaba, era levado ao quartel da Polícia Militar, onde uma cela improvisada foi montada. Ele foi libertado em 18 de junho, graças a um habeas corpus expedido pelo Tribunal de Justiça de São Paulo. O TJ não fez restrições em relação ao médico deixar a cidade, mas ele fica ciente de que deverá comparecer caso seja intimado a depor novamente.
Quedas no alto escalão
Além de 12 prisões, a operação policial gerou desdobramentos em nível estadual, com a demissão do secretário de Esportes, Jorge Pagura, e do coordenador Ricardo Tardelli, também apontados como envolvidos.
Prova contra estágio pago
Polícia Civil de Tatuí recebe novos documentos, fundamentais para encerrar a segunda parte do escândalo envolvendo o CHS
Adriane Souza
Colaboração para o BOM DIA
Após a primeira parte do escândalo que envolve o CHS (Conjunto Hospitalar de Sorocaba) em fraudes de licitações direcionadas e plantões médicos remunerados e não realizados, o segundo capítulo desta história envolve agora suborno para o fechamento de contratos com estagiários de enfermagem de instituições de ensino particulares.
Terça (28), o delegado titular de Tatuí, José Alexandre Garcia Andreucci, revela que recebeu documentos ainda mais comprometedores, que deverão ser fundamentais para a conclusão deste capítulo.
Segundo ele, são diversos documentos, que se completariam entre si, esclarecendo ainda mais o esquema fraudulento que envolveria 20 instituições de ensino particular de enfermagem. Sem dar detalhes do teor do material, o delegado acredita que, muito em breve, os culpados e envolvidos deverão ser apontados e devidamente punidos.
Num trabalho conjunto com a Polícia Civil de Sorocaba, GAS (Grupo Antissequestro de Sorocaba) e membros do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), do Ministério Público, a investigação caminha em segredo de justiça
O caso teve início quando um representante de uma das escolas envolvidas, de Tatuí, apresentou uma documentação à Polícia Civil. Desde então, o delegado José Alexandre trabalha no caso. Cada entidade envolvida no esquema repassaria o equivalente a R$ 4 mil por ano aos responsáveis pelo convênio.
O repasse anual de dinheiro seria feito por escolas e faculdades particulares das cidades de Tatuí, Itu, Porto Feliz, Salto, Mairinque, São Roque, Sorocaba e Tietê.
A enfermeira, que seria a responsável pela coleta dos valores, alegava que a “contribuição” serviria para financiar cursos de especialização ministrados pelo Grupo de Ensino e Pesquisas em Emergência Cardiovasculares, que também passou a ser investigado, pois a Polícia Civil suspeita de que a instituição seja fictícia.
“Estamos verificando se ela funciona mesmo ou é só de fachada, mas até o momento o que temos é um endereço de um site, que não contém muitos dados, apenas um telefone celular”, relata o delegado titular, que deverá se pronunciar em breve, falando sobre o andamento das investigações que a cada dia ganha mais força.
300 mil
É o número aproximado de pacientes prejudicados pelos envolvidos com a primeira parte do escândalo no Conjunto Hospitalar de Sorocaba
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