domingo, 26 de junho de 2011

O centerário de Itupararanga

Notícia publicada na edição de 26/06/2011 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 4 do caderno E


O reservatório tem capacidade de 302.087.000 m³ - Por: Adival B. Pinto




Imensidão é a palavra ideal para descrever o que significa Itupararanga. O lugar é deslumbrante, não resta dúvida, mas neste caso, os números chamam ainda mais a atenção. Impossível não começar esta reportagem por eles, afinal trata-se de um reservatório com mais de 300 milhões de metros cúbicos de água, numa extensão que segue de Votorantim a Ibiúna. É muita, mas muita água. A barragem, iniciada em 25 de junho de 1911, há cem anos, tem hoje como principal função a regularização da vazão do rio Sorocaba, evitando que ocorram cheias em períodos de chuvas e sustentando uma vazão mínima em períodos de seca. São 415 metros de comprimento e 35 metros de altura, desde o ponto mais baixo da fundação, com queda bruta de 206 metros. Verdadeiramente um megaprojeto do qual participaram mais de 2 mil trabalhadores, vindos de toda parte do Brasil e do exterior. Atualmente, com uma importância mais ambiental e de fornecimento de água do que de energia, Itupararanga já foi considerada o maior empreendimento hidrelétrico da América do Sul e o sétimo do mundo. Hoje, cerca de 70% da população sorocabana é atendida pelas águas da represa, que abastece ainda 92% de Votorantim, 32% de São Roque e 100% de Ibiúna. Segundo estudos realizados recentemente, a represa representará, no futuro próximo, a garantia de abastecimento de uma população de 1.100.000 habitantes.

O início do que se tornaria o que hoje conhecemos como a Usina Hidrelétrica de Itupararanga foi ideia de Bernardo Lichtenfels Júnior, que adquiriu, em 1904, o Sítio do Salto Grande de Itupararanga, situado no Planalto Cristalino da serra de São Francisco. Junto com o seu pai, ambos engenheiros hidráulicos, e sem construir uma represa, utilizando apenas a queda d"água do local, fundaram uma usina que produzia 2.000 Kw de energia. Foi através do engenheiro norte-americano Frederick Stark Person, a serviço da São Paulo Tramway Light and Power Co. Ltda., que teve início a construção da barragem. Person estava à procura de um local para construir uma usina hidrelétrica que atendesse a demanda por energia na capital paulista, que iniciava os processos de industrialização, e percebeu ali o local perfeito. Tudo foi, então, adquirido pela Light.

Consta que vieram trabalhar na viabilização da usina, elaborada com técnica canadense, portugueses, espanhóis e até libaneses. Peças eram levadas morro acima em lombo de burro. O mercado de trabalho em Sorocaba ficou despovoado pois os trabalhadores braçais foram levados para lá.

Em abril de 1912, a usina foi parcialmente inaugurada, operando com potência inicial de 4.000 Kw e que permitia o atendimento da demanda de luz e força de Sorocaba, além do fornecimento de energia elétrica necessária para a continuação das obras de Itupararanga, que teria, no final, capacidade de mais de mais de 50 mil Kw. Foi em 1914 que ocorreu a inauguração de três unidades geradoras de 10 Mw cada. Em 1925, a usina completava a sua capacidade final, com a inauguração da quarta máquina geradora, de 20 Mw, e com potência instalada de 56.124 Kw.

Era o começo da represa, que geraria energia elétrica para impulsionar o crescimento de Sorocaba e Votorantim e se tornaria, com o tempo, um patrimônio ambiental com reserva de água para garantir o abastecimento da região por um longo período.

É preciso dizer que para os trabalhadores, a usina sempre representou mais do que um emprego, foi um mundo à parte. Muitos deles moravam naquele local, que consideravam um paraíso. Além do salário, tinham moradia, água, luz e escola gratuitos para os filhos. As crianças que cresceram ali, hoje com idades em torno dos 50 anos, se consideram privilegiadas por terem tido a melhor infância que alguém poderia ter. Hoje, os "filhos da Light" lutam pela preservação daquele patrimônio, adquirido pela Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) em 1974. Atualmente, a Usina Hidrelétrica de Itupararanga opera com produção média anual de 150 GWh, destinados a atender a parte do processo industrial da CBA.

Desde dezembro de 1998, toda a bacia hidrográfica do reservatório é considerada Área de Proteção Ambiental Itupararanga - APA Itupararanga, criada pela Lei Estadual 10.100, que foi instituída com o objetivo de garantir a qualidade de água e o desenvolvimento sustentável da bacia. Para produzir este especial, a reportagem não conseguiu autorização para fotografar e fazer entrevistas na parte interna da represa, por isso todas as fotografias da usina são de divulgação.

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