Folha de Votorantim
Matheus Casagrande
Um deles ainda está em atividade; morador da Vila Nova Votorantim busca apoio na cidade
Já faz um ano que Márcio Leite de Souza, 40, começou os planejamentos e preparativos para a maior aventura de sua vida. Em agosto, ele parte para a região do deserto do Atacama, no Chile, onde vai escalar quatro vulcões, cada um com sua apaixonante particularidade. A esta aventura, Márcio deu o nome de “Expedição Quatro Vulcões”.
Nas alturas, Márcio e um guia de alta montanha vão se deparar com dificuldades extremas e belezas naturais únicas. No Atacama, o mais alto e árido deserto do mundo, a temperatura chega aos 40 graus Celsius durante o dia e zero à noite. Perto dos vulcões, o frio chega a 20 graus negativos. “É difícil imaginar um deserto com neve, mas é assim no Atacama, por causa de sua altitude”, explica Márcio, morador da Vila Nova Votorantim.
O roteiro da viagem está pronto. Márcio ficará hospedado em um albergue na cidade de San Pedro de Atacama, um oásis em meio ao deserto. A partida será no dia 15 de agosto. O primeiro destino é Santiago, de avião. Para Márcio, a aventura começa aí, pois, da capital chilena até San Pedro, são 24 horas de ônibus, num percurso de 1.670 quilômetros.
Márcio vai subir os vulcões de Cerro Toco, Lascar, Sairecabur e Licancabur, sempre com um dia de descanso entre uma escalada e outra. A dificuldade aumenta do primeiro até o último vulcão. A aclimatação (adaptação do corpo às condições de temperatura e ar) vai ocorrer gradativamente durante a aventura.
No dia 19, ele parte para a primeira escalada, no vulcão Cerro Toco, chegando a 5.600 metros de altitude. Depois de um dia de descanso, ele segue para o vulcão Lascar, que tem a mesma altitude do primeiro. Este se diferencia dos outros três por um detalhe: o vulcão ainda é ativo e sua última erupção foi em 2006. Além da ajuda de um guia especializado, Márcio vai ter que usar uma máscara de ar quando estiver no cume. “Do topo, não será possível ver lava, mas o cheiro de enxofre é muito forte”, ele explica. Para ele, o risco que existe em Lascar é “um atrativo a mais”.
O terceiro vulcão, Sairecabur, é o mais alto, com altitude de 6.050 metros. A dificuldade técnica não será das maiores. Os riscos que este e os outros vulcões da expedição apresentam estão na inclinação das montanhas, falta de oxigênio no ar e baixas temperaturas, com possibilidade de neve.
Até aí, um dia será necessário para subir e descer de cada vulcão. A exceção é Licancabur, que tem 5.920 metros e chega a ocupar território boliviano. Este, diz Márcio, será “o grande desafio”, que levará dois dias para ser superado. Licancabur será o vulcão de maior dificuldade técnica.
Na subida, leva-se até duas horas e meia para escalar um quilômetro, por causa da baixa pressão atmosférica. “É necessário subir um pouco e esperar, para que o organismo vá se adequando. Assim como temos dificuldade no fundo do mar, temos no topo das montanhas, por conta da pressão atmosférica”, explica o votorantinense.
Se o montanhista não tiver cautela e paciência, ele pode ser acometido pelo conhecido “mal da montanha”, causado pela falta de oxigênio do ar e a baixa pressão. Os sintomas possíveis são falta de ar, aumento do ritmo cardíaco, cansaço, dor de cabeça e náuseas.
No primeiro dia, Márcio e o guia escalarão entre 4.500 e 4.900 metros e descansarão em um abrigo existente na montanha. Partem no dia seguinte, às 4 horas. A previsão de Márcio é de chegar ao cume por volta de 11 ou 12 horas. A descida poderá ser feita em maior velocidade e deve ser concluída até o anoitecer.
Destino
Márcio planejou tudo sozinho. “Não viajo com pacotes turísticos”, afirma o votorantinense. Além de economizar muito mais, a solidão faz parte da aventura. O encontro com si próprio é parte do que buscam os aventureiros. Durante as escaladas, ele estará acompanhado apenas do guia, Gabriel, a quem Márcio encontrou como uma armação do destino.
Em uma viagem de 20 dias feita ao Chile, ano passado, Márcio se apaixonou. “Um país com belezas deslumbrantes, um povo totalmente receptivo e lugares que jamais pensei existirem”, descreve ele. Viajando de norte a sul, um dos locais que lhe encantou foi o deserto do Atacama. “Durante minhas aventuras no deserto, de todos os lugares se avistava um vulcão, imponente, com seu cume coberto de neve, o Licancabur.”
Praticar o montanhismo no Licancabur seria incrível, mas, durante sua passagem pela região, não houve tempo hábil para programar a escalada, já que é necessário alguns dias para aclimitação à altitude e toda programação física e psicológica para a subida. Márcio, que acredita que nada é por acaso, se surpreendeu quando conheceu o proprietário do albergue onde estava hospedado. Gabriel é guia de alta montanha com dez anos escalando todos os vulcões do Atacama. Em conversa com ele, surgiu a ideia da “Expedição Quatro Vulcões”.
Paixões
Márcio conta que a aventura está em sua vida desde os sete anos de idade, quando entrou para o movimento escoteiro. Ele fez parte do Grupo Baltazar Fernandes, de Sorocaba. Foi onde ele se descobriu apaixonado pela natureza e pela aventura.
Em parte de sua vida, Márcio viveu distante de suas paixões. Ele tinha um emprego estável e bem remunerado, como gerente de loja de uma das maiores redes de magazines do Brasil. Nesta época, o homem de 1,65 metro de altura chegou a pesar 94 quilos, infeliz e sofrendo de estresse.
“Larguei tudo para viver melhor”, decidiu Márcio há quatro anos. Ele retomou as atividades. Ciclismo e mountain bike são suas paixões. Aliados a isso, ele tem a filha, amigos e familiares, que o incentivam.
Hoje, Márcio pesa 71 quilos e trabalha como vendedor na Decathlon, loja de artigos esportivos, em contato com o que gosta. “Ganho muito menos e vivo muito melhor”, ele diz.
Sua primeira aventura foi em 2009, em Minas Gerais (perto das fronteiras com São Paulo e Rio de Janeiro), com cicloviagem pelo Caminho dos Anjos e escalada no Pico das Agulhas Negras.
Márcio é um homem que descobriu a tempo que sua vida precisa de sonho, aventura, superação de limites e o encontro consigo mesmo. É isto que o move para a grande aventura de sua vida. Até que venha a próxima.
Márcio busca patrocinadores
A viagem toda é estimada em R$ 4 mil. Ele conta com alguns apoios, como a Curtlo, especializada em montanhismo que forneceu o equipamento necessário, e a Glub Glub Núcleo de Atividade Física Personalidade, que oferece apoio estrutural e todo o programa diário de treinos, através da professora Cristiane Raszl, além da Decathlon, Patacão e Propheta Informática.
Márcio precisa de mais patrocinadores e procura por eles, às vésperas de sua viagem. Mesmo a passagem para Santiago, ele ainda não conseguiu comprar.
Ironicamente, Márcio não tem um patrocínio da cidade onde mora. “Sou de Votorantim e gostaria de ter apoiadores daqui”, ele lamenta.
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