Notícia publicada na edição de 23/07/2011 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 004 do caderno A
Leandro Nogueira
Adolescente empina pipa com cerol, sem se importar com o perigo - Por: LUIZ SETTI
Votorantim, entrada do Parque São João, por volta das 17h30 de terça-feira. Um motociclista teve parte do pescoço cortado por linha com cerol e "não perdeu a vida por Deus", como teriam dito os socorristas à vítima. Ontem, três dias depois, no mesmo horário e proximidades, um adolescente começou a recolher a pipa com vários metros da linha com cerol assim que o veículo do Cruzeiro do Sul estacionou ao lado dele. "Se não uso outros cortam a minha pipa", argumentou D., 17 anos, morador do mesmo bairro da vítima. A poucos quarteirões dali o operador de máquinas Alexandre Ferreira Ribeiro, 33 anos, está afastado do trabalho para se recuperar, e ainda com uma sonda no pescoço, declara ter tomado a decisão de vender a moto. "Não é justo, mas por causa das pessoas que usam cerol não quero mais ser prejudicado", lamentou.
Quando D. argumentou que se não usasse o cerol outros cortariam a sua pipa, somente a dele estava no ar. Inicialmente ele o cortante. Mas a quantidade de linha mais grossa e de cor escura na lata que tinha em mãos deixava visível que se tratava de cerol. Chegou a argumentar que a linha só estava suja, mas logo revelou que "se a gente não usa, outro vem e corta, não tem saída". Questionado sobre a fiscalização, o adolescente disse que tem medo, mas a vontade de soltar pipa, prática que mantém há quatro anos, é maior. Minutos antes, ao ser questionado se crê que crianças de fato usam o cerol, a vítima Alexandre Ribeiro havia respondido que há crianças, adolescentes e adultos usando. "Dezessete anos para mim é já adulto", ponderou.
A decisão de vender a moto vai alterar o cotidiano da família Ribeiro. Afirma que além de gostar desse tipo de veículo, o custo reduzido de gastos com combustível possibilita que inclusive vá buscar a esposa no trabalho diariamente, como estava fazendo na ocasião do acidente. Na terça-feira foi a segunda vez que Alexandre feriu-se com cerol. A primeira, há alguns anos, ele reconhece que a moto estava sem a antena para cortar linha, já na terça-feira, ele declara que o veículo estava equipado com a antena, mas crê que a linha tenha caído entre a proteção e seu corpo.
"O sangue que saía não era líquido, mas em pelotes", recorda. Declara que a esposa, da garupa, avisou e ele reagiu ao corte pondo a mão no pescoço e teve até o dedo cortado pela linha, mas evitou um ferimento ainda mais profundo e fatal. Segundo ele, na hora não sentiu nada, mas momentos depois começou a queimar. Um homem que passava perto deu uma camiseta para que estancasse o sangramento. Quando os socorristas chegaram disseram que precisariam tirar a camiseta já encharcada com sangue, mas desistiram quando viram o volume de sangue que espirrava do ferimento e optaram por enfaixar o pescoço por cima da camiseta. "A linha passou como faca", campara. Fez cirurgias para recuperar veias e nervos. Passa bem e não perdeu movimentos.
Multa chega a R$ 1,2 mil
O uso de cerol é proibido por leis estadual e municipais. A lei estadual 12.192/06 prevê multa de cinco Unidades Fiscais do Estado de São Paulo (Ufirs), o que equivale a R$ 87,25. Em Votorantim, a lei 1.277/97 estipula multa de dez Ufirs, correspondentes a R$ 147,50. A punição sorocabana é maior, com multa de R$ 1.216,71, de acordo com lei em vigor desde 2008. Nestes três anos houve 102 autuações em Sorocaba, 57 delas em 2011. As linhas são vistoriadas por funcionários do setor de fiscalização da Prefeitura, com acompanhamento do Conselho Tutelar e Guarda Municipal. O maior número de flagrantes ocorre em praças e parques.


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