GENTILEZA GERA GENTILEZA: Os obstáculos que se mexem são seres humanos

 Notícia publicada na edição de 19/08/2011 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 007 do caderno Ela

Estela Casagrande

Passei diversas vezes pelas ruas centrais de Votorantim durante as obras de revitalização realizadas naquela cidade. Obras - todo mundo sabe - exigem paciência e uma dose de boa vontade. Uma gentileza aqui, um agradecimento ali, uma informação acolá por conta do desvio e o trânsito flui. Não há quem não concorde com o velho ditado que é preciso quebrar os ovos para fazer omelete, certo? Quando as ruas começaram a tomar aquele aspecto de tapetão bonito e liso, notei que o comportamento das pessoas começaram a mudar. Da gentileza pelo caos formado pelas obras, agora o preto do asfalto convidava a pequenas disputas, ultrapassagens arriscadas em plena avenida principal, uma verdadeira estrada que corta a cidade, convenhamos.

E os pedestres? Ora os pedestres. Alguns condutores agem como se pensassem: "Quem são esses obstáculos que se mexem, que são essas coisas que estão soltas pelas ruas?"
Desprotegidos pela couraça dos automóveis, todos somos pedestres, mas desacostumados que estamos de caminhar além dos limites das pistas de caminhada dos condomínios, das praças e parques, não reconhecemos como iguais aqueles obstáculos que se mexem, atravessam ruas, esperam ônibus, que andam vagarosamente ou cambaleando entre os carros. Uma pena...
Voltando às ruas de Votorantim, percebi que as faixas de pedestres, por não estarem pintadas, não eram respeitadas. Os carros só paravam no limite dos cruzamentos, sem deixar espaço para os pedestres passarem.
Ora, se o cidadão passa todos os dias naquela via e todos os dias respeita a faixa de pedestres porque ela está pintada no solo; durante as obras, enquanto elas não são devidamente pintadas, deixam de existir materialmente, mas deveriam continuar a existir no imaginário das pessoas.
Não é isso que aconteceu, infelizmente, e confirmei isso diversas vezes com veículos de todos dos tipos e de placas das mais diversas cidades.
Agora as faixas estão todas lá, pintadas de um branco que ofusca nosso olhar. Será que agora finalmente serão respeitadas? Ou vamos continuar tentando acertar aqueles obstáculos que se mexem e que se parecem tanto conosco?