domingo, 28 de agosto de 2011

A QUESTÃO DOS RESÍDUOS - Organização da coleta de materiais possibilita cidadania

Notícia publicada na edição de 28/08/2011 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 004 do caderno E 

Isaías Monteiro Messias: "Passei a ter salário mensal, FGTS, INSS, coltei a estudar" - Por: Luiz Setti


Tudo que é consumido na casa de Isaías Monteiro Messias, de 36 anos, é selecionado e comercializado. Plásticos, papéis, vidro e metais valem ouro. Até o filho mais novo dele, Mateus, de 3 anos, já sabe o que serve para ser reciclado ou reutilizado. Quando não separa os materiais, o menino leva bronca dos pais. É que Isaías é chefe do administrativo da Cooperativa de Reciclagem de Sorocaba (Coreso) e junto de outros 79 membros, recolhe e seleciona materiais recicláveis em Sorocaba.

Isaías tem uma renda mensal de cerca de R$ 1.200, divide um barraco com a esposa Sara, de 32 anos, e os três filhos do casal, na área verde do bairro Itapeva, em Votorantim. A expectativa do operário é comprar uma residência própria nos próximos meses. "A Caixa já está com nossa documentação e a Prefeitura está mediando as negociações com todos os moradores desta área", informa. Mas a vida que ele chama de "confortável", com filhos saudáveis e renda mensal, é fruto de muito esforço - exemplo de que a inclusão social através do trabalho é possível.
O chefe do administrativo nasceu em Itapeva e junto dos pais e irmãos, desmatou muitas áreas em São Miguel Arcanjo, por exemplo, quando buscava por lenha para a fábrica de carvão. Quando jovem, foi funcionário da Votorantim, tinha esposa e duas filhas. Conseguiu comprar uma casa, mas o desemprego, há 13 anos, levou o casamento e a moradia. Sem rumo, ele foi trabalhar no lixão votorantinense, onde conheceu a atual esposa, Sara Messias, de 32 anos.
Trabalharam lá, juntos, quatro anos. Tempo suficiente para Sara engravidar e dar a vida a Evelyn, de 10 anos. "Ela nasceu com problemas de saúde, teve que ficar internada por conta da inalação dos gases do lixo durante a gravidez", detalha ele, emocionado. Isaías assume que chegou a levar a menina até o lixão, não para trabalhar, mas porque não tinha com quem deixá-la. Até que a Cooperativa de Votorantim (Coopervot) foi criada e ele e a esposa deixaram o local.
"No começo foi difícil. Trabalhar por conta dava mais dinheiro e eu fazia o meu horário. Mas na cooperativa passei a ter salário mensal, FGTS, INSS, voltei a estudar, depois de adulto, com 30 anos. Fui crescendo, crescendo. Mudei para a Coreso e hoje ajudo na gestão", relata ele, que garante, antes sentia vergonha de recolher materiais nas ruas, mas hoje sente orgulho. "Já destruí muito o meio ambiente, quando fazia carvão. Mas hoje sei que também já o ajudei bastante também. O lixão não é vida e hoje posso sonhar", conclui.

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