sábado, 5 de novembro de 2011

CHACINA DE VOTORANTIM - Condenação alivia drama de familiares

 Notícia publicada na edição de 05/11/2011 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 9 do caderno A -
 Giuliano Bonamim
Sentença de 135 anos para autor do crime foi recebida com sentimento de que a justiça foi feita
 Local da chacina não tem mais vestígios da extrema violência cometida em outubro de 2007 - Por: Erick Pinheiro

"Fico contente, aliviado, pois a justiça foi feita. Mas, ao mesmo tempo, tenho pena do condenado porque ele vai passar uma vida na cadeia." A frase é do pedreiro Milton Vieira dos Santos, 48 anos, pai de Jhosely Lopes dos Santos, uma das cinco vítimas da chacina ocorrida há quatro anos em Votorantim. O desabafo foi feito ontem, horas depois de Everson Severino da Silva, mais conhecido como "Maninho", ser julgado e sentenciado a cumprir 135 anos de detenção.

Santos acompanhou todo o julgamento feito anteontem no tribunal do júri de São Roque, ao lado da esposa e de uma filha. Para ele, o caso está encerrado e a pena foi aplicada de forma adequada pelas mortes de Elvis Aparecido Silva, 16; Mariane Caren da Silva, 15; Danielli Miranda Raimundo, 14; Jhosely Lopes dos Santos, 15, e André Gonçalves Rodrigues, 21. "Mas não deixa de ser triste, pois é mais uma vida atrás das grades e em um lugar que a gente sabe que não recupera ninguém", comenta.

O sentimento de justiça de Santos é compartilhado pela família de Elvis Aparecido Silva. A irmã da vítima, Viviane Natália da Silva, 22, ficou satisfeita com a condenação. "Espero que ele [Marinho] nunca saia de lá [prisão]", diz. Viviane relata que a chacina continua a ser um assunto presente no cotidiano das famílias das cinco vítimas. Segundo ela, as mães dos adolescentes mortos em 23 de outubro de 2007 se reúnem com frequência em memória dos filhos. "Algumas contam sonhos, outras falam de situações vividas com cada um", comenta.

A cama de Elvis continua intacta na casa de madeira situada no bairro Santos Dumond, periferia de Votorantim. O estudante dormia em um beliche, na parte inferior, e Viviane continua a deitar no leito superior. "Sinto muita falta dele. Nós sempre fomos muito próximos", diz. Na Escola Estadual Evilázio de Góes Vieira, no Jardim Bandeirantes, o clima também era de justiça feita. As cinco vítimas estudaram na instituição de ensino e funcionários demonstraram satisfação pela condenação do autor da chacina.

Os moradores de Votorantim seguiram a mesma linha de pensamento dos familiares e aprovaram a decisão judicial. O vigilante Francelino dos Santos, 59, soube da condenação de Maninho pela imprensa ao passar por uma banca de jornais na avenida 31 de Março. "Eu só acho que ele [Maninho] não deveria nunca mais sair pelo que fez, mas a gente sabe que ele deve ficar preso no máximo uns 30 anos por causa de nossa lei", disse. O aposentado Antônio Wagner Fernandes, 55, foi mais além. Segundo ele, em casos como esse, o país deveria aplicar a pena de morte aos acusados. "Acredito que ele [Maninho] fique na cadeia durante 30 anos, pois ele é pobre. Se fosse rico, poderia nem ser preso", comentou. Já a autônoma Denise Gonçalves Tangerino, 27, acha que Votorantim fica mais segura com essa prisão. "Foi feita a justiça", afirma.

Local preservado

O palco da chacina de 2007 foi um morro situado no bairro Vossoroca. O local ainda preserva as mesmas características, mas ganhou um muro nas proximidades para a construção de um condomínio residencial. As cruzes instaladas no chão para lembrar as cinco mortes não existem mais. Não há qualquer resquício capaz de remeter os cinco assassinatos ocorridos há quatro anos. Naquela noite de 23 de outubro, os estudantes teriam ido ao local para namorar. Os corpos foram encontrados com disparos na região da cabeça e os materiais escolares acabaram manchados com sangue.

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