quarta-feira, 23 de novembro de 2011

SELO ESCOLA SOLIDÁRIA - Muito mais que ensinar a ler e a escrever

 Notícia publicada na edição de 23/11/2011 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 12 do caderno A
Regina Helena Santos
 
  Couve e limão, cultivados pelos alunos, se transforma no suco do Hulk - Por: Emídio Marques

 - Por: Emídio Marques
A diretora Maria Joselita Souza Ferreira - Por: Emídio Marques
Escola pública de Votorantim ganha reconhecimento por projeto que foca a saúde das crianças e a participação da comunidade no cotidiano
 
Era o ano de 2009 quando um trabalho em parceria com a Escola Paulista de Medicina apontou à diretora Maria Joselita Souza Ferreira, da escola municipal Izabel Fernandes Pedroso, de Votorantim, um dado preocupante: 20% das crianças matriculadas naquela unidade tinham anemia por falta de ferro. O que poderia resultar em apenas um alerta aos pais, por meio de bilhetes ou reuniões - para recomendar a procura por um médico em busca de medicação e suplementação alimentar - se transformou numa oportunidade de promover a integração entre a unidade escolar e a comunidade. Hoje, dois anos depois, a instituição comemora a conquista do Selo Escola Solidária, alcançado por meio de um projeto simples, mas que fez a diferença: a criação de uma horta e um pomar, com a ajuda dos pais e de moradores do Jardim São Lucas, da qual saem couve e limão, matéria-prima de um suco rico em vitaminas e ferro, que os alunos tomam duas vezes por semana. A saúde melhorou, as crianças aprenderam a plantar e os pais a ver a escola como aliada na função não só de educar, mas também de cuidar de seus filhos.

Joselita conta que, naquela ocasião, diante do grande volume de crianças doentes, ela viu numa parceria com a empresa GSI Serviços a oportunidade de virar o jogo e, principalmente, trazer os moradores do bairro para dentro da escola. "Tivemos vários dias de muito trabalho. Vieram uns trinta funcionários da empresa, muitos também pais e mães de alunos, moradores da região, que ajudaram a criar a horta e a pintar os muros da escola", lembra. E mesmo depois do trabalho inicial, o projeto permaneceu. Até hoje, a cada safra da couve, os próprios alunos plantam, cuidam por meses e depois fazem a colheita do alimento, que continua a ser servido duas vezes por semana na hora do lanche. Junto a isso está o ensino, em sala de aula, de temas que vão desde a importância do ferro para o organismo, técnicas de plantação até os fenômenos que fazem as plantas crescerem e se tornarem matéria-prima para o que chamam de "suco do Hulk".
 
E as crianças adoram a atividades. "O suco é muito bom, porque é natural. Melhor que tomar refrigerante", disse Isabela Pereira Brás, de 10 anos. "Faz bem para a saúde. Gosto de cuidar da plantação porque depois virão outros alunos, aqui na escola, que vão ver essa horta linda que nós fizemos", emendou Samuel da Silva Brito, de 11 anos, que se prepara para deixar a unidade já que, para a próxima etapa que irá frequentar - o 6º ano do ensino fundamental - precisará mudar de escola. "Mas quero vir sempre. Aqui é a minha segunda casa."

Alguns meses depois do diagnóstico dos médicos, em 2009 - e depois de também ingerirem suplementação de ferro em forma de medicamento - as crianças já estavam mais saudáveis. De lá para cá, entretanto, não foram feitos novos exames, o que não impede a diretora de afirmar, categoricamente, que os meninos e meninas estão muito bem. "Dá para perceber, porque antes eles tinham muito desânimo. Agora estão ótimos, com melhor desempenho nas aulas."
 
Pais na escola
 
Segundo a diretora, a busca pela saúde das crianças foi o principal motivador do projeto. Porém, ela conta que o mesmo proporcionou um outro ganho tão importante quanto este: a aproximação entre os pais e a escola. "Muitas vezes eles não vêm porque não têm convite. E não dá para fazer um bom trabalho sem que eles estejam por perto. Os pais precisam gostar da escola para que a criança também goste, tenha estímulo para continuar estudando", comentou. Ela conta que é fácil ver a diferença de desempenho entre os alunos cujos pais participam de perto da unidade escolar. "Precisamos dessa ajuda. O pai e mãe podem até ser analfabetos, não precisam se preocupar em ensinar, isso a gente faz. Mas só de abrir o caderno, olhar, dar os parabéns, ajuda muito."

Ao contrário dos muitos educadores que, por vezes, reclamam que as escolas estão tendo que assumir muitas responsabilidades acerca da educação das crianças - algumas que deveriam ser papel da família - Joselita acha que até a questão de saúde de cada aluno deve fazer parte das atribuições do ambiente escolar. "Como vamos ver uma criança doente, com dificuldade, com necessidades para ter uma vida digna, e não fazer nada? Aliás, muitos pais e mães acabam deixando de lado isso tudo porque têm um objetivo maior: trabalhar para colocar comida dentro de casa. Fazendo essa parte a gente também os ajuda a se conscientizar", disse a diretora, abraçada aos seus alunos.

Premiação chegou para coroar o trabalho

A escola municipal Izabel Fernandes Pedroso - que atende 390 alunos desde a educação infantil até o 5º no do ensino fundamental - foi a única instituição de ensino da cidade de Votorantim a receber o Selo Escola Solidária em 2011. A premiação acontece a cada dois anos, como forma de identificar, reconhecer e fortalecer as escolas brasileiras como núcleos de cidadania em suas próprias comunidades. "Esse selo é, para nós, um importante reconhecimento de que fizemos algo em prol do bairro, da comunidade", disse a diretora Joselita. Em Sorocaba, três instituições escolares, da rede particular, também foram reconhecidas com a premiação este ano: a escola Turma do Juquinha e os colégios Salesiano São José e Uirapuru.

Criado em 2003, o Selo Escola Solidária já reconheceu 16.181 escolas de educação básica em todo o Brasil. O projeto é uma realização do Instituto Faça Parte em parceria com Ministério da Educação (MEC), Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura (Unesco), Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

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