sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

ETE lança efluente mais poluído que esgoto

 Notícia publicada na edição de 23/12/2011 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 008 do caderno A
Giuliano Bonamim


Os resíduos que saem da estação de tratamento para o rio apresentam níveis mais poluentes
 
 Estação de Tratamento de Esgoto funciona junto à ETA do Votocel - Por: ERICK PINHEIRO
 

A água que sai da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) da Votocel, em Votorantim, é mais poluída do que o esgoto captado. E toda essa sujeira cai diretamente no rio Sorocaba. Dois relatórios elaborados neste segundo semestre comprovaram a piora das condições do material analisado e motivaram o encaminhamento de uma denúncia ao Ministério Público.

O vereador Fernando de Oliveira Souza (DEM) protocolou um documento ao promotor de Justiça do Meio Ambiente, Luiz Alberto Meirelles Szikora, para a abertura de uma investigação sobre as condições da ETE. Segundo o parlamentar, Szikora pretende analisar o conteúdo das denúncias e dar uma resposta a partir de 9 de janeiro de 2012 - data do retorno dos trabalhos do Poder Judiciário de Votorantim.
Souza protocolou o documento na segunda-feira, antes do recesso de fim de ano da Justiça. Nele constam dois relatórios, um do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) e outro da Hidrolabor, empresa contratada pelo próprio parlamentar. Ambos os resultados foram desfavoráveis à ETE da Votocel.
O gerente técnico da Hidrolabor, Clemente Reinaldo Sannazzaro, fez a coleta da água a montante e a jusante da ETE em 28 de novembro deste ano. O resultado da água foi satisfatório antes de chegar à estação. A Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), que corresponde à quantidade do elemento gasoso consumida na degradação da matéria orgânica por processos biológicos, ficou abaixo do limite de quantificação. Já o material retirado depois da estação registrou 15 miligramas por litro -- número três vezes maior em relação ao valor máximo permitido segundo o artigo 11 do Decreto Estadual 8.468 de 8 de setembro de 1976.
Em 23 de novembro de 2011, o Saae de Votorantim também encaminhou à Câmara os resultados das análises dos despejos domésticos (esgoto) e dos efluentes industriais tratados na ETE Votocel. O estudo foi feito tanto na entrada do canal de acesso à estação quanto dos tanques (lagoas) de tratamento e saída final dos despejos.
O relatório, assinado pelo chefe de controle de qualidade do Saae de Votorantim, Paulo Roberto Madazio, revela que o esgoto entra na ETE Votocel com a DBO de 4,1 e sai com 14,8. Essa medição foi feita em 11 de setembro. Um mês depois, o mesmo teste foi realizado e constatou 2,7 de DBO a montante e 10,4 a jusante. Dados da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) mostram que o aumento da DBO é proporcional à poluição do corpo d"água.
Segundo a Prefeitura de Votorantim, o desequilíbrio é causado pelo despejo de efluentes da empresa Fiação Alpina. A assessoria de imprensa do governo municipal informa que "o Saae já tomou providências e a referida empresa já tem se adequado, tendo inclusive apresentado um cronograma da implantação de sistema próprio de tratamento do esgoto". Um dos objetivos é possibilitar a geração e a utilização da chamada "água de reúso", nos termos exigidos pela Cetesb.
A Prefeitura prevê a operação do novo sistema para o início de 2012. O atual processo de tratamento na ETE Votocel é feito por decantação e aeração. O volume total de esgoto recebido no local é de aproximadamente 85 litros por segundo. Isso equivale a 30% da população de Votorantim, ou seja, cerca de 32.500 pessoas.

Água colorida

Em outubro, um líquido colorido foi despejado por meio de um cano de oito polegadas de diâmetro diretamente na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), no bairro Votocel, em Votorantim. As cores variavam de roxa a azul marinho. De acordo com o governo municipal, o material despejado não era contaminado. Em nota, a Prefeitura disse se tratar de resíduos de corantes biodegradáveis, isentos de material pesado, com alto fator cor, o que dificulta o tratamento aeróbico das lagoas pela pouca entrada de luz solar, minimizando a proliferação de bactérias favoráveis ao tratamento de esgoto nesse sistema.
Segundo Souza, o cano é proveniente da Fábrica Alpina, voltada à indústria têxtil. Na época, o vereador ressaltou que a ETE não tem tecnologia capaz de eliminar todos os produtos tóxicos.
Transferência deverá ser efetivada até janeiro

A Prefeitura de Votorantim pretende efetivar até janeiro de 2012 a transferência de propriedade das estações de tratamento de água e de esgoto da Votocel. A medida vai permitir ao governo a utilização integral dos dois locais, além de melhorar a captação de recursos aos cofres municipais com o aumento da quantidade de pagadores. Atualmente, o Hospital Santo Antônio e as empresas Vitopel e Alpina não recolhem nenhuma taxa ao Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) graças a um acordo firmado em 1995 entre o Grupo Votorantim e o Poder Público.
O Hospital Santo Antônio e as empresas Vitopel e Alpina usam uma porcentagem da capacidade das duas estações sem qualquer custo. A outra parte é utilizada para abastecer e tratar o esgoto do município.
A mudança vai proporcionar uma melhora no abastecimento público e no sistema de tratamento de esgoto de Votorantim. Quem garante é o superintendente do Saae da cidade, Rubens Mesadri. "As demais estações ficarão menos sobrecarregadas", comenta.
As estações de tratamento de água e esgoto da Votocel passaram a ser operadas pela municipalidade há 16 anos com a autorização legislativa referente à lei número 1.187/95. O processo foi feito por força de um convênio firmado com a empresa Votocel Filmes Flexíveis - atual Vitopel.
Nesse acordo, a Prefeitura, em troca da utilização das instalações, se comprometeu a fornecer a água e receber o esgoto da Vitopel. A empresa fazia parte da Votex - atualmente Alpina - e o Hospital Santo Antônio também integrava esse complexo.
O convênio expirou em janeiro de 2011 e não foi renovado pela Prefeitura. Segundo a assessoria de imprensa do governo municipal, a atual administração entendeu que "os termos originais do contrato não atendem à conveniência do Poder Público e aos interesses do povo de Votorantim".
Segundo a Prefeitura, a cidade subsidia sem razão as atividades das empresas sucessoras das primitivas que pactuam com o município. Isso porque as referidas instalações não fazem mais parte dos complexos industriais do Grupo Votorantim, hoje nas mãos de terceiros.
A consequência dessa medida será a futura cobrança da tarifa correspondente a cada uma das duas empresas e do hospital. De acordo com a Prefeitura, o Saae já tem promovido as medidas necessárias para iniciar os pagamentos. (G.B.)

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