Carolina Santana
Muitos vendedores preferem correr o risco de serem pegos pela fiscalização a deixarem de lucrar diante da alta demanda
Enquanto para uns o Carnaval é tempo de folga e diversão, para outros, é oportunidade de ganhar uma renda extra. Para matar a sede e a fome dos foliões muitos ambulantes, alguns até sem autorização municipal, vendem água, refrigerantes, sucos e aperitivos como churrasquinhos, lanches e salgados. Confetes, serpentina e até a famosa espuma de Carnaval estão na lista dos produtos comercializados durante os dias de festa.
Para driblar a fiscalização, alguns comerciantes escolhem eventos realizados nos bairros. A menor presença de fiscais é o principal motivo para a permanência nos bairros, explicou o casal Cleide de Oliveira Piovezan, 43, e seu marido Willians Ferreira, 40, que vendem espuma carnavalesca há nove anos em Votorantim. Sabem que a atividade é irregular, mas o sustento da família fala mais alto. Atualmente, contou ela, o movimento está mais fraco. Nos quatro dias de festa a previsão era de que quase 30 caixas da espuminha fossem vendidas. "A gente já chegou a vender mais de 120 caixas, mas já não tem mais as brincadeiras de baile como antigamente", justificou a autônoma.
No Carnaval, por dia, o casal trabalha de 12 a 15 horas. Ela diz que parte do sustento da família é retirado das vendas realizadas nos eventos comemorativos da cidade. "Na festa junina nós temos licença para fazer as vendas, daí o lucro é maior pois podemos pegar bons pontos", ponderou. Durante a festa junina, diz ela, os produtos comercializados são brinquedos e acessórios infantis comprados em São Paulo. É em São Paulo, também que o casal compra as espuminhas vendidas no Carnaval. O estoque foi feito durante o início do ano quando o produto costuma ser mais barato.
Por dia, R$ 10
O ajudante de pedreiro Dorival de Mendes, 52 costuma tirar o sábado e o domingo para descansar. No Carnaval, porém, aproveita para "ganhar alguns trocados". Acordando cedo, ele segue até os locais dos blocos e festas de ruas para catar latinhas de refrigerante, cerveja e garrafas pets deixadas pelos foliões nas ruas da cidade. "O ano passado consegui tirar coisa de R$ 10 por dia. Não é muito, mas a gente usa para fazer coisas fora do orçamento", comenta ele, que não trabalha com carteira assinada há mais de dois anos.
"Pegar latinhas é uma coisa que eu faço para levantar uns trocados quando fico muito tempo sem trabalho", disse ele. "O maior problema é carregar depois. Eu amasso as latinhas, mas chega uma hora que eu tenho que voltar porque não aguento mais carregar", diz ele, que mora na zona norte da cidade. O dinheiro extra, diz ele, é usado em uma compra de mercado mais recheada ou para fazer "um passeio qualquer".
Fiscalização
No Campolim, a fiscalização municipal não deu trégua para os ambulantes. Uma das regras chanceladas por todos os envolvidos na organização do Carnaval 2012 é a proibição de ambulantes ao longo do circuito dos cortejos dos foliões. O objetivo é combater a venda de bebida alcoólica a menores, buscando, também, minimizar o consumo de álcool por parte dos festeiros, assim como a informalidade. Quem é flagrado tem o material apreendido.
O tosador Anderson Aparecido de Luccas, 36, tentou vender cerveja para os foliões que acompanharam o bloco Boca a Boca, mas foi inibido pela presença dos fiscais. Para poder comercializar a bebida ele contou com a ajuda da esposa e da mãe. Enquanto elas cuidavam do isopor maior na calçada, ele saia entre os foliões para fazer as vendas de forma discreta.
"Esse é o terceiro Carnaval que vendo cervejas. O ano passado tive R$ 1.200 de lucro. Esse ano tenho que pagar a prestação do meu carro que está atrasada, mas os fiscais não querem me deixar trabalhar", lamentou ele. Ele conta que separou R$ 150 para comprar as bebidas que vendeu por R$ 3,50 a lata. Nos comércios do Campolim, a cerveja custava R$ 4. O lucro nas vendas era usado para comprar uma nova leva da mercadoria.
"Quando eu entro na muvuca não demora cinco minutos para vender todas as latas, daí volto e abasteço com mais", explicou. Tendo de camuflar a venda o lucro do tosador foi menor e no segundo dia do carnaval ele havia faturado R$ 250. O ano passado, nessa época, o lucro era de R$ 900.
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