Leila Gapy
Mais de 500 famílias votorantinenses sofrem com falta de água. O calor intenso dos últimos dias, que elevou as temperaturas á casa dos 33 graus, a exemplo de ontem, provocou também o aumento do consumo e o esvaziamento dos reservatórios da cidade. A falta d’água afeta pontos mais altos do município, como na região do Jardim Novo Mundo. A situação tem revoltado os moradores. Há famílias que há três dias estão sem água encanada e, inclusive, tem prejudicado comércios, serviços domésticos e até higiene pessoal. A Prefeitura disse que enviaria ontem caminhões-pipa para os bairros mais prejudicados, mas promete que na próxima semana o problema deve ser resolvido com a troca de bombas de elevação do reservatório que abastece aquela parte da cidade. Com isso, a vazão passará de 60 para 180 litros por segundo. Enquanto isso, a municipalidade pede a colaboração da comunidade que dispõe do recurso para que não desperdice água.
Júlia Bernardes, 8 anos, foi sem banho ontem para a escola, primeiro dia de aula. Desde sábado, ela e a família estão sem água. A mãe dela, Lidiane Bernardes, 28 anos, contou que ontem pela manhã um caminhão-pipa levou água à escola do Jardim Novo Mundo, o que deu para encher alguns baldes. “Fui pegar o que pude, o que aguentei carregar. Mas as crianças não puderam tomar banho, o que consegui foi para lavar a louça”, disse. A avó da estudante, Francisca Bernardes, aproveitou até o galão de plástico onde armazena o lixo, para guardar água. “Temos que fazer isso. Não sei quanto tempo mais ficaremos assim”, desabafou ao lado do marido José Luciano Bernardes.
A vizinha Santina Marta da Silva, 61 anos, foi além. Irritada com a situação, reclamou que só falta água nos bairros mais pobres, o que não aconteceria nos condomínios de luxo. “Moram três famílias no meu terreno e não temos uma gota de água. Depois de três dias consegui alguns baldes de água para lavar a louça acumulada. Mas a roupa, já não temos o que vestir, não dá para lavá-las”, esbravejou ela, que tem comprado água engarrafada para beber. “Um absurdo. Vê se para os ricos está faltando?” A queixa da dona de casa Élida Martins Pereira, 33 anos, mora na Vila Lemos, não é diferente: “Não dá para continuar assim. Esse calor insuportável, as torneiras secas e nada acontece”.
O cabeleireiro Fernando Barros de Oliveira, 30 anos, residente no Jardim Tatiana, apontou que a falta d’água é comum. “Todo mundo aqui sabe que em dia de calor vai faltar água. Agora, o problema não é nosso. É da falta de planejamento da Prefeitura. Tem que melhorar o sistema de distribuição aqui. Tem que investir. O que não dá é para, além do calor, da falta de água para beber ou tomar banho, também não termos como trabalhar.”
Mesma opinião tem a recepcionista Ângela Ignácio Ribeiro, 47 anos. Desde que se mudou para o Parque Bela Vista, há quatro meses, convive com torneiras vazias. “É todo dia. No domingo fui tomar banho na casa da minha tia, mas havia casas na mesma rua da minha em que tinha água, como isso?”, questionou.
Privatização
O prefeito de Votorantim, Carlos Augusto Pivetta (PT), admitiu a dificuldade no abastecimento. “Tudo isso resulta na necessidade de privatizar o Saae. É preciso investir de verdade”, alegou. A concessão dos serviços do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) está em fase de licitação e deve ser concluído neste semestre. Apontou que a população na região do Jd. Novo Mundo é numerosa e que a água do reservatório do Parque Bela Vista esgota-se, e o serviço não tem conseguido atender a demanda. “A medida que entra água, saí água. E não há reserva ou força para chegar na parte mais alta da rede, que é o Novo Mundo. A água é consumida antes”, explicou, referindo-se ao Jardim Tatiana e Vila Lemos. Adiantou que o investimento será de R$ 140 mil na troca das bombas de elevação do reservatório.
Ontem à noite, moradores da região do Jardim Novo Mundo (Inclui Jardim Tatiana e bairro Primavera) fizeram um protesto na Câmara para levar aos vereadores a reclamação da falta de água e cobrar providências. Disseram que estão sem água desde sexta-feira e enfrentam essa situação há 14 anos. “Estamos aqui porque a nossa paciência acabou”, queixou-se o cabeleireiro Fernando. O vereador Heber de Almeida Martins (PDT) disse que a situação foi levada ao prefeito e hoje, às 9h, será formada uma comissão de moradores para buscar uma solução junto à Prefeitura.
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