sexta-feira, 2 de março de 2012

A ARTE DE TRADUZIR PIADAS - Chiquita e Cotonete atacam de "portunhol" e encatam plateia argentina

Notícia publicada na edição de 02/03/2012 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 001 do caderno C
Maíra Fernandes
Os atores Geisa Helena e Alexandre Malhone foram os únicos representantes circenses brasileiros no "7º Festival Patacômico de El Bolsón"

Dupla da região foi a única representante brasileira em festival de circo na Argentina - Por: Emídio Marques
 
Se fazer rir já é considerado uma nobre arte, somar essa tarefa ao desafio de desempenhá-la em um idioma que não domina, dificulta, e muito, a empreitada do artista. Que digam os atores Geisa Helena e Alexandre Malhone, que na pele dos palhaços Chiquita e Cotonete, foram os únicos representantes circenses brasileiros no "7º Festival Patacômico de El Bolsón", na Patagônia argentina, entre os dias 12 a 18 de fevereiro.

Com patrocínio da Secretaria de Cultura de Votorantim, os atores embarcaram para a gelada cidade, que fica entre os Andes e a Patagônia Argentina, após serem selecionados juntamente com mais nove outros grupos circenses, vindos da Argentina, Uruguai e Colômbia. "Achávamos que éramos os únicos brasileiros a se inscrever, mas soubemos que essa foi a edição com maior número de brasileiros inscritos", comemora Malhone, quinta geração de uma tradicional família circense da região.
Passada a saga da corrida atrás de patrocínio - o festival só arcou com alojamento e alimentação - e conseguir ainda meio de chegar à cidade de ônibus, em um itinerário partindo de Buenos Aires e levando cerca de 24h até chegar à cidade patagônica, o casal ainda teve mais surpresas: a diferença da cultura circense entre eles. "É outra linha, outra linguagem, jogam muito com improvisação e se preocupam mais com adereços", salienta Malhone, reforçando o lado positivo da troca de experiências. "Nossa roupa, figurino, é diferente, mas fomos muito bem recebidos", pontua.
E foi essa diferença entre os grupos o primeiro choque dos artistas. Como explica Geisa, após experiência do "Varieté", apresentação inicial onde cada grupo faz uma pequena amostra do seu trabalho, temeram que o público não gostasse do "estilo" deles. "Além dessa diferença, tinha a questão da língua. O Alexandre ainda se vira, mas eu não falo nada em espanhol e, como nosso espetáculo é falado, ficamos tensos. E pior que abriríamos o festival", conta Geisa.


temp
(Geisa Gelena e Alexandre Malhone / por Emídio Marques)



"Brasil! Brasil!"

Para vencer a barreira da língua, o casal de artistas resolveu ousar e improvisar: misturaram o "portunhol" a uma "enrolação", com algumas palavras-chaves em espanhol, para salvar a piada. Mesmo assim, contam eles, tiveram que editar bastante o espetáculo, pois algumas piadas não tinham como ser "traduzidas". E entre a tensão em apresentar um espetáculo diferente do que o público estava acostumado, lembrar o texto, o "portunhol" e o espanhol em cena, o que poderia ter sido um grande desastre, teve final feliz. "Fomos aplaudidos em pé, com o público gritando: Brasil! Brasil!", recordam emocionados.
Passado a tensão, a semana foi de ajuda na divulgação do espetáculo e muita troca de experiência. Como os grupos acabaram ficando alojados no mesmo local, a comunicação - mesmo que com auxílio de mímica - foi focada na arte circense de cada local. "Há muita diferença. Além de figurino e do modo de se apresentar, me pediram para ensinar truques simples, que vemos em qualquer espetáculo por aqui", fala Malhone. De acordo com ele, o que disseram é que são poucos os que se propõem a ensinar a arte nesses países da América Latina. "Uma diferença é que a preocupação deles é mais com a improvisação, enquanto a nossa é a interação entre nós e a plateia", destaca Geisa. De acordo com eles, além da viagem para um local novo, a troca de experiência só enriqueceu os artistas. "Depois nos contaram que nos selecionaram pois, diferentemente dos grupos de lá, que fazem espetáculos específicos para cada faixa etária, nosso espetáculo pode tanto agradar adultos como crianças", conta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.

Ouça a Rádio Votorantim