segunda-feira, 12 de março de 2012

Deficientes têm dificuldades para arranjar emprego em Votorantim


Valdinei Queiroz
Folha de Votorantim

Mesmo com esses obstáculos, o CAT tenta colocá-los no mercado de trabalho; vereador propõe lei de cotas nas empresas

A dona de casa Laudiceia Fernandes da Mota, 43 anos, procurou na última quinta-feira (08) o Centro de Atendimento ao Trabalhador (CAT) para ver se havia vaga na área de serviços domésticos. Antes de receber a resposta dos profissionais do CAT, Laudiceia contou que, no ano passado, foi vítima de preconceito em uma empresa em Votorantim. “Eu tinha passado na entrevista pessoal, mas quando apresentei os exames médicos, eles disseram que eu não estava capacitada para exercer a função, por causa da deficiência da mão”, contou. Segundo ela, a resposta da empresa foi que, futuramente, Laudicéia “poderia” colocar a empresa na justiça, com o argumento de que teria adquirido a deficiência no serviço. “Por que eu faria isso? Eu só quero trabalhar, não quero ver mais meus filhos passarem fome”, lamentou, dizendo que  na quinta-feira seus filhos pediam um pedaço de pão e não havia nada para comer.
Laudicéia foi rejeitada na empresa porque sua mão esquerda não tem firmeza para segurar objetos e fazer movimentos repetitivos. A deficiência é resultado de um acidente que ela sofreu em 2006, quando caiu da moto e teve uma mão quebrada. Ela sente dor diariamente e não consegue fazer muito esforço. No ano passado, teve dores fortes e febre. Foi até a Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro Itapeva, onde mora, para passar com o ortopedista. No local, a atendente disse que só havia vaga para o ano que vem.
Laudiceia vive em área verde, tem dois filhos e não sabe se ainda é casada. “Meu marido foi para o Japão e até agora não voltou. Ele não dá nenhum ‘tostão’ para as crianças. Preciso me virar”, falou. O único sustento da família é o salário de R$ 134 do bolsa família. “Se não fosse esse dinheiro, não saberia como viver”, comentou.
Desesperada e morando em um casa com condições precárias, ela pediu para uma amiga escrever uma carta ao programa “Sonhar Mais Um Sonho”, apresentado por Antônio Augusto de Moraes Liberato, mais conhecido como Gugu. “Não custa nada tentar.”
Ao ouvir a história de Laudiceia, o coordenador do CAT, Julio César de Souza Martins, a inseriu no programa Reintegrar para fazer o curso de jardinagem. Trata-se de um projeto com o objetivo de recolocar o cidadão no mercado de trabalho, através de cursos de capacitação promovidos pelo governo municipal em parcerias com instituições da região. Os participantes, além das aulas teóricas, recebem um salário mínimo nacional (hoje é de R$ 622), tendo em vista que as aulas práticas são realizadas nas praças públicas e em canteiros das principais avenidas da cidade. Ela começou o curso ontem.

Lei de Cotas de trabalho

O vereador Heber de Almeida Martins (PDT) apresentou na sessão da Câmara da última segunda-feira (05) um requerimento, aprovado por unanimidade, que sugere ao prefeito Carlos Augusto Pivetta (PT) a criação de cotas junto ao CAT, reservando vagas a deficientes nas empresas com 100 ou mais empregados. Ele propõe que de 2% a 5% dos cargos sejam reservados a pessoas reabilitadas ou portadoras de deficiência física ou mental.
Em discussão em plenário, o vereador disse que a criação de um projeto de reabilitação profissional é uma iniciativa importante. “É fundamental no sentido de mostrar, motivar e valorizar a sociedade, os trabalhadores, as instituições públicas, os empresários, para que se conscientizem da necessidade de ser instalado um programa como esse”, debateu.
Pelo texto do requerimento, os trabalhadores afastados e reabilitados pelo INSS também seriam incluídos no projeto, já que pelas normas vigentes, a recolocação dessa população no mercado de trabalho se soma ao percentual para a Lei de Cotas. Segundo o vereador, o CAT poderia realizar um cadastro para conhecer a população que tenha algum tipo deficiência residente em Votorantim, com o interesse de melhorar sua condição de vida e trabalho. “A intenção seria se basear nesse cadastro para criar cursos de qualificação e complementação profissional para aumentar as chances de futuras vagas no mercado de trabalho local”, enfatizou. “Um dos motivos da implementação, além de dar oportunidade de serviço aos portadores de deficiência, é também vigorar no município o projeto de lei federal (n° 8.213/91), que visa colocar o portador no mercado de trabalho.”
Segundo dados do CAT, de 2009 a 2012, oito pessoas com algum tipo de deficiência foram contratadas. Atualmente há 19 cadastros no banco de dados do órgão municipal, isto é, a grande maioria ainda está à procura de oportunidade. De acordo com Martins, algumas empresas da cidade perguntam se há algum profissional cadastrado com características da empresa. “Infelizmente, a maioria não se enquadra no perfil que a empresa veio procurar”, disse.
Outro dado que o CAT informou foi que nesse período houve 22 encaminhamentos. “Tem pessoa que foi encaminhado para avaliação três vezes e, até hoje, procura uma chance no mercado de trabalho”, comentou.
Ao ser questionamento se no CAT há uma preocupação de colocar ou recolocar o deficiente no mercado de trabalho, o coordenador Martins afirma que desde 2008 o CAT vem tentando ajudar de alguma forma essas pessoas especiais. “Nós estamos empenhados em adquirir o emprego a todos. Sem nenhum tipo de preconceito”, finalizou.

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