Maíra Fernandes
Cronista publicava textos no jornal Cruzeiro do Sul na coluna "Segundão do Marvadão"; grande conhecedor de histórias e lendas de Votorantim, pesquisador tinha livros em fase de conclusão
Um dos maiores conhecedores de histórias e lendas de Votorantim, o pesquisador e "proseador" Paulo Fontes, 77 anos, faleceu no último domingo, por volta das 22h. Em fase de conclusão do livro "À sombra da chaminé" (com relatos históricos colhidos por ele ao longo dos anos sobre a cidade de Votorantim), Paulo teve complicações pulmonares ocasionadas por um Acidente Vascular Cerebral (AVC), conta o professor Marcello Fontes, sobrinho de Paulo.
Natural de Avaré e bacharel em direito pela Faculdade de Direito de Itu (Faditu), Paulo, que morava em Sorocaba, no bairro Barcelona, se aposentou na função de secretário da Escola Estadual "Daniel Verano", em Votorantim. Foi na unidade escolar que o publicitário Celso Ribeiro (Marvadão) conheceu Paulo, quando ainda dava aulas de Língua Portuguesa, e iniciou uma grande parceria e amizade. "Ele colaborou comigo na Folha de Votorantim, fazendo crônicas e artigos sobre a história e lendas da cidade", conta Celso. Muito amigo de Paulo, reforça que o grande diferencial dele era a "grande memória", que guardava todos os "causos" contados pelos munícipes. "Falava de todo passado de Votorantim, emancipação, sempre foi voltado para teatro, cultura da cidade. Tinha grande ligação afetiva com a indústria e com os imigrantes italianos, ele tinha muita memória dessa época, dos primórdios, do surgimento das famílias votorantinenses", explica Celso.
A amizade iniciada ainda na década de 70 não parou apenas na participação de ambos na imprensa votorantinense. Quando Celso iniciou sua coluna semanal às segundas-feiras, "Segundão do Marvadão", no jornal Cruzeiro do Sul, Paulo ocupou lugar cativo como colunista na página destinada ao humor. A parceria já tem oito anos e prosseguiu até os últimos dias. "Era, acima de tudo, um bom companheiro. Bem humorado, improvisava e tinha soluções criativas para tudo, era um repentista da vida. Cuidou mais dos outros do que de si mesmo, era ímpar, tinha charme, carisma, era animado por natureza", rememora o amigo, que na edição de ontem da coluna, o homenageou com a crônica: "O Segredo da Juventude", na qual falava de uma pessoa da terceira idade, tratando de temas que Paulo gostava de levantar em sua coluna como questões bancárias, aposentadoria e cotidianices. No pé da página, entregue na sexta-feira, dois dias antes do falecimento de Paulo, Celso pedia o breve retorno do amigo para o espaço. "Eu estava certo que ele voltaria, entreguei a crônica na sexta-feira, depois de ter ido vê-lo no hospital", lamenta Celso.
Prosaico
Apesar da formação, Paulo jamais exerceu a advocacia e também nunca foi de academicismos. Como destaca o sobrinho, apesar de gostar de escrever, não era um pesquisador do estilo clássico, daqueles ratos de biblioteca que derramam erudição. "Ele pesquisava muito, mas de forma oral. Não era acadêmico, pesquisava conversando, dialogava, conhecia praticamente toda a população mais antiga", conta.
Essa formação oral de Paulo podia ser sentida nas suas crônicas, com linguagem bastante simples, direta, e que trazia o cotidiano e as características linguísticas da cidade.
Não por acaso, ele foi um dos cronistas selecionados no concurso de contos promovido pela Fundação Ubaldino do Amaral (FUA), como fruto do 2º Prêmio Jornal Cruzeiro do Sul de Literatura. O conto selecionado do autor foi "Os anjos também assobiam", que fará parte do livro que será publicado ainda este ano. "Era uma pessoa muito bem humorada, gostava de piadas e rir da vida. Escrevia crônicas e, nas suas escritas misturava essas questão da fala prosaica, espiritualidade e humor", define o sobrinho.
Paulo Fontes, que foi enterrado na tarde de ontem no cemitério São João Batista, em Votorantim, era viúvo e deixa uma filha, a educadora Paula Fontes, e duas netas, Maiara e Isadora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.