A interdição da Pedreira soa radical demais, quando comparada com a ausência de medidas para prevenir afogamentos em outros corpos d"água da região
O episódio trágico que culminou com a interdição do lago artificial formado por uma pedreira desativada em Salto de Pirapora - local procurado por mergulhadores de todo o País por causa de suas águas calmas e profundas, onde dois praticantes de mergulho recreacional morreram no último dia 10 - deixa no ar algumas questões de difícil compreensão. A principal delas diz respeito à forma como a empresa proprietária da área (Votorantim Cimentos), intimada a interditar a antiga pedreira e manter os visitantes afastados, vem sendo tratada quase como se fosse culpada pelo fato de banhistas e mergulhadores entrarem em sua propriedade para usar o lago.
Talvez a empresa, sabendo que o local era utilizado intensamente - a ponto de ter recebido, ao longo do tempo, uma pequena estrutura de apoio aos usuários - devesse ter sido mais precavida, espalhando em pontos estratégicos das estradas de acesso e no entorno da pedreira placas de alerta sobre ser aquela uma propriedade particular e os riscos oferecidos pelo local. Entretanto, essa precaução teria muito mais o intuito de proteger a empresa de futuros processos do que de evitar que o local fosse utilizado por seus tradicionais frequentadores. A menos que a Votorantim colocasse vigilantes em toda a área 24 horas por dia, sete dias por semana - o que é impossível, dadas as dimensões do local -, pelo menos uma parte dos mergulhadores certamente continuaria fazendo uso do lago, alheia a qualquer advertência.
A interdição foi um baque para os aficionados do mergulho, que tinham em Salto de Pirapora uma alternativa próxima e econômica (já que dispensa o uso de barco) aos mergulhos no mar. A Pedreira, como o local era chamado no meio, recebia mergulhadores até de outros Estados e inclusive muitas operadoras e escolas de mergulho, que levavam seus alunos para fazer o checkout (prova prática) dos cursos avançados. "Salto de Pirapora, hoje, inclusive já faz parte da programação de viagem de um sem-número de mergulhadores que procuram diversificar suas experiências subaquáticas", escreveu Luciano Taraborelli, em artigo no site www.brasilmergulho.com.br, escrito antes da interdição. Outro mergulhador, Alexandre "Taz" dos Santos Andrade, sugeriu no Dive Blog (http://www.dive.blog.br) que a empresa "garanta acesso aos mergulhadores certificados e instrutores de mergulho com seus alunos".
A sugestão é mais coerente e apropriada do que a interdição pura e simples. O fechamento da Pedreira soa radical demais, quando comparado com a ausência de medidas para prevenir afogamentos em outros corpos d"água da região, alguns deles localizados em áreas públicas e de fácil acesso, onde supostamente o poder público deveria atuar de maneira preventiva e educativa. É o caso da Cachoeira da Chave e das lagoas marginais do rio Sorocaba, pontos tradicionais de lazer aquático onde dezenas de pessoas, e entre elas muitas crianças e adolescentes, perdem a vida todos os anos, sem que as autoridades se mobilizem para adotar medidas mais efetivas de proteção, que poderiam incluir a contratação de salva-vidas e a colocação de boias em pontos estratégicos, para serem atiradas aos nadadores em apuros.
Até onde se sabe, esses cuidados não existem, e, com frequência, nadadores inexperientes, muitas vezes atordoados por bebidas alcoólicas, acabam se afogando. Os mergulhadores da Pedreira tinham mais segurança que os nadadores do rio Sorocaba, mas a reação emocionada à morte de dois jovens empresários, somada ao fato de ser aquela uma área particular, selou o destino daquele ponto tradicional de mergulho, sem que os supostos protegidos pela medida - os mergulhadores - ao menos fossem consultados.
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