quinta-feira, 22 de março de 2012

Pedreira Icatu: uma palco para o rock and roll

 Notícia publicada na edição de 22/03/2012 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 002 do caderno C
  Carlos Araújo


 Tudo roqueiro: Luiz Carlos Silva, Luiz Carlos Silva Júnior, Anndreas Luiz Boaventura Silva, Jorge Luiz Boa Ventura e William Boaventura - Por: FOTOS: LUIZ SETTI


 Tudo roqueiro: Luiz Carlos Silva, Luiz Carlos Silva Júnior, Anndreas Luiz Boaventura Silva, Jorge Luiz Boa Ventura e William Boaventura - Por: FOTOS: LUIZ SETTI



Noite da última sexta-feira, uma antiga pedreira como cenário, público fiel e o rock progressivo da banda Focus, ícone da década de 1970 que veio ao Brasil com uma turnê para comemorar os 40 anos de gravação do antológico álbum "Moving Waves". Tudo isso somado, o resultado agradou o público de três mil pessoas que ocupou os 1.500 metros quadrados do lugar onde funcionou a Pedreira Icatu, em Votorantim.

Chão batido, coberto de capim solto e rasteiro em alguns pontos, paredes de pedra e vegetação no entorno de um lugar que é um grande buraco aberto pelas antigas atividades da pedreira. Desta vez, em substituição às máquinas, britadeiras e caminhões, o som foi dominado pelo vocal, guitarra e flauta deThijs Van Leer, o líder da banda Focus; do legendário bateirista Pierre Van Der Linder; do baixista Bobby Jacobs; do guitarrista Menno Gootjes.
Sem chuva, temperatura agradável às vésperas de mais um outono, o show começou às 21h30 e seguiu até as 23h20. Quando os quatro músicos entraram no palco, William Boaventura, de 50 anos, um fã apaixonado pela banda, decretou: "Chegou o grande momento." Ele aguardava a execução de clássicos como "Sylvia", "Eruption" e "Hocus Focus".
William estava em família: o irmão Jorge Luiz Boaventura, de 44 anos, o sobrinho Anndreas Luiz Boaventura Silva, de 16 anos, o pai deste, Luiz Carlos Silva Júnior, de 35 anos, e o avô, Luiz Carlos Silva, de 65 anos. Três gerações unidas pelo rock. "Tudo roqueiro, desde criança", descreveu William.
E, de repente, o som que emergiu do palco e se expandiu pela antiga pedreira foi sentido por cada um de forma diferente. Para a garotada, era novidade. Mas para a turma de 50 anos ou mais, que curtiu intensamente os clássicos das grandes bandas das décadas de 1960 e 1970, as emoções foram equivalentes ao de um encontro com o que de melhor a história do rock produziu.
Estavam ali, nos teclados, na guitarra, no baixo, com as diferenças naturais dos estilos, as referências a outras bandas que ficaram na história como aquelas que transformavam grandes shows em verdadeiros rituais de som, comportamento. Frenesi. Poderia ser dito, sem medo de errar, que os fantasmas das bandas já extintas Pink Floyd, Yes, Gênesis, Emerson, Lake and Palmer, Led Zeppelin e até mesmo o gênio dos teclados, Rick Wakeman, estiveram ali na pedreira com os roqueiros de Votorantim, Sorocaba e região. Quem não foi, perdeu a oportunidade de participar de um cenário convertido em templo do rock por uma noite. Quem esteve lá, emocionou-se e saiu com gosto de "quero mais" shows de rock na pedreira.

Público se surpreende

Anndreas, que é guitarrista da banda Meia Boca, disse que o que o atrai no rock progressivo é a qualidade do som e a personalidade dos artistas na composição de suas músicas. "O pessoal mais antigo continua tocando, isso deixa a gente contente", disse Anndreas. "O rok and roll une a família", falou William. Quando começou "Eruption", ele apresentou a canção: "Ela é instrumental, muito linda, dura uns 20 minutos." Todos eles pareciam hipnotizados pelo som do Focus.
Ao lado, uma mulher dançava de olhos fechados, como se estivesse numa viagem muito particular em meio à multidão. Era a editora de textos Sandra Gasques, de 48 anos, que elogiou: "Esse tipo de música é legal, porque os caras tocam muito bem. O roque progressivo vai incorpando, por isso ele é progressivo, porque ele progride, por isso dá a sensação de viagem."
A reflexoterapeuta Lucieri Perondini de Souza, de 36 anos, que não conhecia a banda, surpreendeu-se: "A qualidade instrumental é perfeita." Sua amiga, a professora Márcia Mattos, de 42 anos, enfatizou: "Me apaixonei (pela banda)". A musicista e compositora Marion Balera, de 43 anos, também dançava como Sandra Gasques, o destaque para o jeito de quem fazia uma viagem emocional. Se Marion estava gostando? Ela falou: "Muito."
Lucieri, Márcia e Marion também valorizaram do lugar. "Maravilhoso e acústico, excelente, o lugar é especial mesmo", disse Marion. Para Márcia, a combinação de rock e pedras tinha tudo a ver: "Casou muito bem, gerou acústica perfeita." E desejou que novos shows tenham a antiga pedreira como palco.
A secretária bilingue Lilian Tarim, de 33 anos, entusiasmou-se com o profissionalismo dos músicos: "É difícil ver um show em que a banda toca do começo ao fim, sem enrolação." Ficou surpresa com o fato de um grupo internacional e com o conceito de sofisticação que possuem ter aceitado fazer um show num lugar escondido e para público pequeno e gratuito.

Autógrafos

Cabeças em gestos pendulares, cabelos esvoaçantes, mãos levantadas com socos no ar, passos no chão acompanhando as batidas da bateria, luzes e sombras, alguns gritos disparados e em sintonia com a linguagem própria do rock. Durante todo o tempo Thijs Van Leer brincou com o público, que respondia ao seu diálogo de gestos. Após a última música, quando os quatro se abraçaram diante da plateia, ficou a sensação de saudade. Passaram-se três minutos e eles voltaram para tocar mais uma música, a última. Depois, seguiu-se a disputa para se aproximar dos ídolos e fechar a noite com autógrafos.


Eliton Tomasi acredita na possibilidade de trazer novos shows para o local

Notícia publicada na edição de 22/03/2012 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 002 do caderno C - o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h.
Depois do show, o clima era de confraternização ao lado do palco, onde se juntaram fãs, os músicos da banda Focus e os organizadores, entre eles o jornalista e produtor cultural Eliton Tomasi e representantes da Prefeitura de Votorantim. O prefeito Carlos Augusto Pivetta (PT), presente o tempo todo na plateia, dirigiu-se ao palco para cumprimentar os músicos.
A utilização do novo espaço (que começou a ser utilizado como equipamento cultural pelo Coletivo O12, de dança contemporânea) por um show de grande porte foi comemorada pelo secretário de Cultura, Clayton Leme. Ele disse que gostou "muito" do show. E destacou o fato de a turnê do Focus passar por seis cidades do país, sendo cinco capitais e uma Votorantim como única cidade do interior. O show foi aberto pela banda Imagery de Londrina (PR), também de rock progressivo.
A estrutura funcionou dentro do previsto, na avaliação de Clayton, o que incluiu desde estacionamento nas ruas próximas e de acesso à pedreira, banheiros químicos, comportamento do público. Uma viatura da Polícia Militar estava presente numa das ruas de acesso à pedreira.
Clayton também gostou do efeito do som produzido num local como aquele: "Melhora o acústico." Eliton Tomasi achou que há possibilidade de trazer novos shows para a pedreira. Disse que o mercado da música está bastante aquecido para turnês internacionais e isto favorece a oportunidade de novos eventos desse porte em Votorantim. Na sua análise, esse aquecimento também relação com turbulências de crise nos Estados Unidos e Europa e, em contrapartida, com o bom momento econômico do Brasil.

Clube sem teto

A banda também gostou do contato com o público na antiga pedreira. O empresário dos músicos, Geerty Sheyground, disse que eles pensaram que seria um show pequeno e se surpreenderam com o tamanho do lugar e da apresentação. "A reação do público fez eles se sentirem em casa, por todos esses aspectos se sentem em casa tocando aqui", disse Sheyground, complementando: "Aqui parece um clube, intimista, mas sem teto."

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