quarta-feira, 18 de abril de 2012

Luzes, câmera... educação!

Notícia publicada na edição de 18/04/2012 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 1 do caderno C
Andrea Alves


Treze escolas municipais de Votorantim desenvolvem projeto de cinema há dois anos; crianças se apaixonam por Chaplin e vivem a experiência de produzir curtas






Crianças se apaixonam por Chaplin e vivem a experiência de produzir curtas - Por: Aldo V. Silva

Adriely Vitória do Nascimento, 10 anos, virou fã de Tempos Modernos, de Charles Chaplin: é muito divertido. Mas alguns filmes dele são tristes - Por: Aldo V. Silva




Eles começaram a observar detalhes que antes não prestavam atenção, observa Júnior Silveira, que coordena a Oficina de Cinema e Educação - Por: Aldo V. Silva

 
Além de abrir espaço para os filmes e documentários produzidos no Brasil, por meio da mostra CineFest, evento que no ano passado chegou a sua oitava edição, Votorantim também parece ser terreno fértil para que surja na cidade uma geração de cineastas e documentaristas ao incentivar o cinema como arte e trabalho que se aprende desde a escola. Alunos de 13 escolas que sediam oficinas de cinema vão produzir, a partir de maio, um documentário sobre a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Votorantim. As produções dos pequenos documentarias tem exibição prevista para setembro na cidade.

As oficinas de Cinema e Educação, realizada há dois anos em 13 escolas municipais, fazem parte do Programa Educação em Tempo Integral, uma parceria entre a Secretaria de Educação de Votorantim e a empresa Planeta Educação. Os professores passam por uma capacitação oferecida pela empresa que desenvolve o projeto e numa sala da escola equipada com um kit cinema - telão, projetor, caixa de som, DVD, duas câmeras digitais - os alunos de 4º e do 5º anos são inseridos ao mundo da sétima arte.

A didática para a educação e a cultura através da aproximação com o cinema acontece de duas formas, explica o pedagogo e ator de teatro Júnior Silveira, coordenador da Oficina de Cinema e Educação. "A primeira é a apresentação de filmes que marcaram a história do cinema. Os alunos entram em contato com o cinema mudo, conhecem vários nomes do cinema, como Charles Chaplin, que eles gostam muito." A segunda forma de tratar o cinema da escola é colocar filmadora na mão das próprias crianças, que gravam, assistem às cenas na tela, opinam sobre o que pode ser modificado ou melhorado. "Nessa etapa, eles fazem uma pré-edição", conta Silveira.

A linguagem cinematográfica é introduzida com o auxílio de uma apostila que conta desde o que é o claquete, qual a importância dos crachás nos estúdios, quais as funções de cada profissional, passando por temas como enquadramentos do cinema mudo e falado, ângulos e câmeras, músicas e trilhas sonoras, características de cenários e interpretação de atores. Conforme o coordenador, as crianças entendem que as produções cinematográficas surgem de uma organização, da cooperação, do silêncio, do respeito e de foco. "Os papeis durante as filmagens são revezados.

Uma hora um é ator, outro é cinegrafista e os outros precisam fazer silêncio no estúdio." Já que cinema é arte e arte é educação, a combinação desses elementos só podia render bons frutos. Um dos resultados positivos do projeto é tornar mais aguçados os sentidos das crianças. "Eles começaram a observar detalhes que antes não prestavam atenção. Passaram a entender a cultura de uma forma diferente já que foram inseridos nela", observa Júnior Silveira.

Documentaristas

O próximo projeto que começa a ser produzido nesse mês será um documentário sobre a Apae de Votorantim. "Essa ação faz parte do projeto Cinema Solidário - O Sonho não Acabou, que no ano passado registrou a visita e a entrega de presentes às crianças do abrigo Casa de Belém. O objetivo é fazer com que eles vejam que um filme pode trazer uma realidade para um reflexão, para o conhecimento. Os documentários produzidos agora serão exibidos em setembro, em data e local ainda a serem definidos. Provavelmente, no Teatro Municipal de Votorantim", explica Silveira. Primeiro os alunos vão colher informações sobre o trabalho da Apae e depois vão gravar entrevistas e cenas dos alunos da instituição no seu dia-a-dia.

O roteiro, a escolha das músicas, das imagens, enfim, a pré-edição, será feita pelos alunos, como já acontece nos outros trabalhos produzidos por eles. Também a exemplo do que fazem os adultos, os alunos que recebem essa oficina estão usando o cinema como um canal para a reflexão, usufruindo exatamente do que a arte se propõe. Silveira conta que além de abordar a violência, os alunos já fizeram filmes sobre profissões, sobre sonhos e outros temas. Todos os curtas, para incentivar os alunos, entram para o concurso interno chamado "Meu filme, Minha Vida".

Um dos pontos máximo do projeto para os alunos foi ver os próprios filmes exibidos durante o CineFest do ano passado. "Houve uma exibição especial durante à tarde para eles. Nos intervalos das sessões dos filmes com faixa etária que eles não podiam ir, os curtas também foram exibidos", informou Silveira. "Para eles, o sentimento foi de importância, de orgulho e realização". Adriely Vitória do Nascimento, 10 anos, confirma esse sentimento. "Fiquei muito feliz". A menina encantou-se com os filmes exibidos em salas de uma aula assim tão diferente. Como a maioria dos colegas, virou fã de "Tempos Modernos", de Charles Chaplin. "É muito divertido. Mas alguns filmes dele são tristes."

Pela iniciativa de gravar cenas no módulo panorâmico das máquinas fotográficas digitais, a proposta lembra exatamente a máxima "uma câmera na mão e uma ideia na cabeça". E os alunos adoram essa possibilidade. Numa classe da E.M. "Maria Helena de Moraes Scripillitti", durante a gravação de uma cena que abordava o bullying, um aluno avisou em voz alta: "luz, câmera, som, ação!". Em absoluto silêncio na sala de aula, duas atrizes interpretaram a história, um aluno foi cinegrafista do filme e um segundo o cinegrafista do makiing of. Gustavo Roberto de Andrade, 10, já foi câmera, já bateu a claquete na hora da filmagem, já foi plateia, mas descobriu mesmo que gosta de ser ator. Muito tímido, risinho na boca, abanando a cabeça, diz de maneira simples e resumida: "cinema é muito legal".

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