sexta-feira, 20 de abril de 2012

Prefeitura derruba árvores de praça cuidada pela comunidade


Notícia publicada na edição de 20/04/2012 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 12 do caderno A
Daniela Jacinto



Após as obras de revitalização, o local terá playground e academia ao ar livre

Praça fica em frente da igreja de Nossa Senhora Aparecida - Por: Aldo V. Silva



Iolanda, com pau-brasil que plantou no local e foi arrancado - Por: Aldo V. Silva


 
Inaugurada há 11 anos, a Praça Nossa Senhora Aparecida, no bairro Vossoroca, em Votorantim, está sendo revitalizada pela Prefeitura. O primeiro passo para as obras, porém, foi o corte de árvores que eram cuidadas pela comunidade. Entre elas acredita-se que tivesse até um exemplar de Pau-Brasil. Para os moradores, o local merecia mais atenção do poder público e as árvores deveriam ter sido preservadas. E estranham tanta atenção para a praça, em frente à igreja de Nossa Senhora Aparecida, e o abandono do Centro Esportivo que fica próximo e está tomado pelo mato.

O projeto inicial previa, além de um parque para as crianças, um estacionamento, considerado um absurdo pelos moradores, que protestaram e para este local a Prefeitura então anunciou uma academia de ginástica ao ar livre para os adultos. O custo total da obra é de R$ 340 mil para a revitalização desta e de outra praça, a Santa Filomena, que fica em frente à paróquia Nossa Senhora da Consolata, no bairro Rio Acima, com recursos do governo federal.

Conforme Iolanda da Silva Soares, 65 anos e moradora na vizinhança há 40 anos, a Prefeitura poderia construir o parque e viabilizar a academia sem cortar as árvores, ou ter preservado a maioria. "Do jeito que ficou, praticamente sem árvores, de que forma as crianças poderão usufruir do playground, embaixo do sol forte? A mesma coisa digo para a academia", reclama. Iolanda conhece cada detalhe da praça e é responsável pela maioria das árvores plantadas ali. Para ela, é uma dor imensa ver tudo no chão. "Cortaram meu Jacarandá, meu Pé de Ingá, o Ipê Amarelo... que judiação", chorava.

Conforme dona Landa, como é conhecida no bairro, logo que foi inaugurada a praça, o prefeito da época, Jair Cassola (PDT), deu-lhe uma mangueira de borracha para regar as árvores. "Eu plantei, vi cada uma crescer, cuidei com carinho dia a dia e agora vem a Prefeitura e corta tudo." Revoltada, afirmou que não entende porque a Prefeitura resolveu ter interesse pela praça somente agora, em período de eleições. "Ali mesmo (aponta) tem mais de um alqueire abandonado, no Centro Esportivo. Já reclamamos diversas vezes e a Prefeitura não toma providências. Por que cortar as árvores da praça e deixar aquele matagal ali do lado? E por que não recapearam as nossas ruas?", questiona.

Ela calcula que foram cortadas cerca de 40 árvores. Quanto ao exemplar de pau-brasil, também arrancado, recordou que o comprou em São José dos Campos. E acionou a Polícia Ambiental. O soldado PM Wagner Vieira confirmou a autorização para o corte. "Conforme a legislação, a Prefeitura tem autonomia para cortar árvores no perímetro urbano. Já sobre o Pau-Brasil, como a árvore foi plantada e não nasceu ali, é autorizado sim o manejo e o remanejo." Wagner não soube dizer quantas árvores estavam autorizadas para serem cortadas e disse que para cada uma a Prefeitura tem de plantar 25. De acordo com a Administração, a ideia é realizar o plantio de novas árvores, adequadas para praças e logradouros públicos.

"Revitalizar para mim é melhorar e não destruir. A praça era bem iluminada, nunca teve bandido nem maconheiro, nunca quebraram um banco, uma lixeira..." "Desde que ganhamos a praça, chamei as crianças do bairro e falei para ajudarem a cuidar. Hoje eles estão moços e me cobraram disso. Eles falaram pra mim: "olha o que fizeram com a praça". E eu fiquei com a cara no chão. Isso aí para mim é projeto político, só pode ser", completou.

Lugar mais bonito
Madalena Lopes, que mora no bairro há mais de 30 anos, concorda com Iolanda. "Lutam tanto pelo meio ambiente e depois cortam tudo. Na minha opinião a Prefeitura deveria ter conservado pelo menos as árvores maiores." Outro morador do bairro, José Vitório Dias, 61 anos, também tem uma história pessoal com a praça, mas aprova a iniciativa da Prefeitura. Considera-se fundador da igreja, já que foi ele quem colocou a pedra fundamental, e admitiu que ficou triste com o corte das árvores da praça, em frente à "sua igreja".

"Eu que plantei aquela árvore (aponta um pinheirinho) e também sou eu quem lava os banheiros da praça. É claro que fiquei triste, todos nós ficamos, é como perder um filho, mas se é para ver um lugar mais bonito, então está bom", afirma. José Vitório alegou que a praça tinha muitas árvores. "Parecia um parque, como o Quinzinho. A gente já não tinha mais praça. Eu tenho que brigar para que a frente da minha igreja fique mais bonita", argumentou.

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