domingo, 27 de maio de 2012

Reabilitação às crianças com paralisia cerebral, a grande meta da Integrar

Diário de Sorocaba


Equoterapia é um dos métodos terapêuticos adotados na reabilitação dos pacientes com paralisia cerebral atendidos pela Integrar (Foto: Fernando Rezende)
 
 
 
A Integrar (Instituição Terapêutica de Grupos de Habilitação e Reabilitação) atende, atualmente, exatas 128 crianças a partir de zero ano com paralisia cerebral - ou com funções motoras comprometidas - de Sorocaba e região. A entidade, próxima de completar duas décadas de atuação, busca, desde o início, melhorar a qualidade de vida dessas crianças, oferecendo serviços de reabilitação e, desde 2001, inclusive escola especial de nível fundamental.  

Primeiramente, as crianças que chegam na Integrar são atendidas por uma assistente social, por ser uma organização filantrópica declarada como federal, estadual e municipal. O serviço social tem como objetivo principal à integração do portador de necessidades especiais nas áreas de saúde, educação e social, assegurando e garantindo os seus direitos como cidadãos.

Funcionando em área no final da avenida Comendador Pereira Ignácio, bem próxima à confluência com a Rodovia Raposo Tavares e à divisa entre os municípios de Sorocaba e Votorantim, a parte clínica da Integrar conta com o trabalho de uma equipe multidisciplinar de 30 funcionários. Ações de fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, estimulação visual e equoterapia são realizadas na maioria das crianças ali atendidas uma vez por semana para melhorar o quadro clínico, tentando devolver aos pequenos os movimentos perdidos e preservar a qualidade de vida de cada um. Cada sessão, seja qual especialidade for, dura 40 minutos. "Agora, também temos as terapias em grupo. Reunimos algumas crianças na sala e o resultado está sendo surpreendente. Vimos progresso; quando era individual, não existia esta evolução", afirma o presidente da instituição, Edair Buganza. 

Depois de passar pelo Serviço Social da entidade, a criança passa por avaliação por uma equipe que estuda a gravidade da doença e o que foi afetado em seu sistema nervoso central. "O quadro pode ser de leve à grave. Só por esta avaliação é possível desenvolver uma linha de atendimento", explica Marli Pegorelli, responsável pela parte clínica da Integrar. 

Felipe Eduardo Matos de Souza tem dez anos e é assistido pela Integrar desde os primeiros meses de vida. "Assim que nasceu, já foi detectada a doença e ele foi encaminhado para tratamento", conta a mãe Juliana Matos. O menino tem um quadro considerado leve da paralisia cerebral. Os movimentos não foram afetados, porém Felipe ainda não fala. "Hoje, Felipe Eduardo faz somente sessões de fonoaudiologia, mas aqui ele já fez fisioterapia e terapia ocupacional também", acrescenta esperançosa a mãe. Ela conta que o garoto frequenta uma escola normal e que, ao contrário do que muita gente pensa, é bem aceito pelos amiguinhos de classe. "As crianças até ajudam ele se comunicar com a professora", conta ainda Juliana. Felipe é bem esperto, comunica-se através de gestos e já sabe ler e escrever. "Tudo ele aponta. Sabe quando está escrito o nome dele, entre outras palavras. Só não consegue falar", explica também a mãe.

Porém, nem todas as crianças atendidas pela instituição apresentam este quadro leve presente em Felipe Eduardo. Lívia Laura Paes de Souza também tem 10 anos de idade, contudo apresenta um quadro severo de paralisia cerebral. "A Lívia já apresenta muitos movimentos involuntários", conta Marli. Aos quatro meses de idade, a garotinha recebeu o diagnóstico de paralisia cerebral através de um exame de eletroencefalograma (onde são gravadas ondas cerebrais - a atividade elétrica do cérebro). Mas já ao nascer Lívia apresentou sintomas. "Quando ela (Lívia) foi para o quarto, depois de nascer, já teve uma convulsão", recorda a mãe Silvana Aparecida Paes, que reconhece que, além do ótimo tratamento que a filha recebe, a Integrar significa muito na sua vida: "Foi aqui que aprendi sobre a doença. Recebi orientações... É como se fosse uma escola para mim também".

Silvana comenta também que, se não fosse a orientação dos profissionais da Integrar, ela não saberia trabalhar com a Lívia em casa: "Aprendi exercícios. Se não tivesse aqui seria muito pior", diz a mãe. A menina faz estimulação visual na entidade, mas freqüenta outros locais: "Todo dia da semana a Lívia está em algum lugar fazendo terapia". Silvana não trabalha desde o nascimento da filha para se dedicar exclusivamente à menina: "Moro no Jardim Tatiana, em Votorantim, e para dar a assistência que a Lívia merece sai do emprego para acompanhá-la em todo o tratamento".

ENSINO E TRABALHO ARTESANAL - As crianças que têm da equipe multidisciplinar sinal verde para estudar cursam o ensino fundamental especial na própria Integrar. Como numa escola normal, começam a cursar a partir do primeiro ano e estudam todas as matérias escolares. "Elas têm aulas de Português, Matemática, Ciências, História e Geografia", conta, por outro lado, a pedagoga Abile Alves de Oliveira Stanger. Ela dá aulas para a turma do quinto ano. "Aqui nós trabalhamos com muita colagem. Dou um texto e eles vão completando com as palavras", acrescenta a professora folheando o caderno de um aluno e explicando o método pedagógico de que se utiliza. 

Abile coloca ainda que a cada dia é aplicada uma matéria aos alunos e que ali ninguém tem pressa; as crianças passam de ano conforme apresentam evolução. "Aqui as crianças não passam de fase anualmente. Às vezes, é preciso até dois anos para subir um degrau".

Por sua vez, os adolescentes que cursam o quinto ano na escola especial de Ensino Fundamental da Integrar trabalham também em uma pequena oficina artesanal. "Esse trabalho é para manter os pacientes de 20, 30 anos mais perto da entidade", afirma o presidente. Durante todas as tardes, os alunos confeccionam os mais diferentes objetos totalmente manuais. "É uma oficina administrada por eles", acrescenta Edair. Ali são fabricados porta-trecos, cadernetas e porta-copos, entre outros pequenos utilitários. 

Os produtos produzidos pelos alunos são vendidos em eventos da instituição e a renda dividida entre eles. "Ás vezes, dá R$ 10 para cada um, mas eles ficam muito contentes com a renda", reconhece o presidente, informando que até mesmo o estoque de matéria-prima é administrado por estes alunos. Na instituição, os alunos têm café-da-manhã e almoço, além de atividades extracurriculares, como as desenvolvidas na biblioteca e brinquedoteca.  

Para o presidente Edair Buganza, apesar de todas as dificuldades, o trabalho de administrar a Integrar é muito gratificante: "A alegria de cada criança aqui é o que me faz continuar. De todo o tempo que estou trabalhando como voluntário desta instituição, eu nunca vi uma criança não sorrir", comenta ele, lembrando que seu mandato se encerrará no próximo ano, mas que quer muito continuar os trabalhos que ali desenvolve, para continuar ajudando a melhorar ainda mais a Integrar. 

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