sábado, 5 de maio de 2012

Trilhos fora!


 Notícia publicada na edição de 05/05/2012 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 3 do caderno A


Os tempos alegres dos bondinhos que levavam operários para as fábricas de Votorantim não voltam mais

A desativação do ramal ferroviário que liga a Estação Paula Sousa, no Centro de Sorocaba, à Fábrica de Cimento Votoran, em Votorantim, é uma oportunidade única para que a Prefeitura, a Câmara, os deputados e demais lideranças de Sorocaba pleiteiem, junto ao governo federal e demais órgãos e empresas envolvidos, a retirada definitiva dos trilhos que cortam grande trecho do Além-Ponte e a região central da cidade. Há muito esses trilhos, que servem exclusivamente a empresas privadas, tornaram-se um estorvo para a cidade e origem de muitos transtornos, ora porque são ativados e composições quilométricas estancam o tráfego por onde passam, ora porque caem em desuso e são abandonados, como ocorre neste momento, passando a servir como depósito de lixo e criadouro de insetos, além de refúgio para drogados e assaltantes.

Em sua fase recente de uso pela América Latina Logística (ALL), os trilhos da antiga Estrada de Ferro Elétrica Votorantim (EFEV) chegaram a apresentar tráfego intenso de composições, cujos apitos nas proximidades das passagens de nível, durante a noite, atrapalhavam o descanso dos moradores de bairros como Pinheiros, Vila Assis e Parada do Alto e provocaram protestos, que chegaram a ser debatidos na Câmara. Alguns meses mais tarde, lá estão os trilhos abandonados, com mato alto crescendo entre os dormentes, causando inconvenientes e levando insegurança aos moradores vizinhos. Conforme as últimas informações, o contrato que permitia à ALL explorar o trecho venceu em junho de 2011, ao passo que o Grupo Votorantim ainda não sabe o que fazer com o ramal.

Sorocaba, uma das maiores economias do Estado e do País, não pode ficar refém de uma estrada de ferro antiga e carcomida, que só traz problemas para o tráfego e os moradores de uma região densamente habitada. Mesmo que fosse apenas para pôr um fim aos transtornos causados no cruzamento com a rua 15 de Novembro, há muito as lideranças políticas locais já deveriam estar se mobilizando para esses trilhos definitivamente da área urbana da cidade.

O ramal ferroviário nada tem a oferecer - e, ao que parece, isso vale também para a empresa que o criou e que há mais de cem anos o explora de forma intermitente. Os tempos alegres dos bondinhos que levavam operários para as fábricas de Votorantim não voltam mais, ao passo que o aproveitamento da linha férrea com um metrô de superfície - projeto cogitado de tempos em tempos - mostra-se inviável por vários motivos. A bitola é estreita, o trecho é cheio de curvas, o corredor não permite a duplicidade da linha (de forma que o tal metrô não poderia ter duas mãos de direção simultaneamente, a menos que se fizessem desvios para um trem aguardar enquanto outro passa em sentido contrário) e, para arrematar, há diversas passagens de nível, que seriam pontos de estrangulamento constante do trânsito, na hipótese de um tráfego intenso de composições.

A retirada dos trilhos permitiria uma reformulação completa do sistema viário na região central, abrindo caminho até mesmo para a construção de uma ponte rodoviária mais elevada entre a rua 15 de Novembro e a avenida São Paulo, eliminando-se, assim, a principal limitação para a elevação das pistas da avenida Dom Aguirre naquele trecho, que é a ponte da estrada de ferro.

Ferrovias em áreas urbanas são problema em toda a parte e a tendência dos municípios tem sido procurar formas de se desvencilhar dos trilhos, pois sabem que, com eles, eliminam vários problemas de uma só vez. Itu e Mogi-Guaçu estão entre as cidades que conseguiram retirar os trilhos do Centro. Sorocaba deve seguir o exemplo e libertar-se das amarras férreas do século 19 que aprisionam seu desenvolvimento em pleno século 21.

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