Por Fernando Grecco
“Hoje a tendência é falar em
outros mundos possíveis [...] sociedades que tenham como paradigma a
biodiversidade – a preservação de todas as formas de vida.”
(Frei Betto)
Estamos
trabalhando diariamente para a construção de um planeta que nunca desejamos.
Paralelo aos avanços de natureza científica, estamos vivenciando a perda do
equilíbrio ecológico seguida da proliferação de moléstias sociais. A erosão
cultural, produto único de um sistema político que gera desigualdade econômica,
violência e desordens de todos os gêneros, é o corolário da falta de
perspectiva e do empobrecimento gradual da humanidade. Tudo isso é consequência de uma organização social errônea, que treina homens e
mulheres para serem consumistas alucinados, desvirtuados e desumanizados. O
capitalismo, ou sua classe favorecida, impôs no seio da humanidade verdades
absolutas, unilaterais, que se limitaram a formar legiões de incautos submissos
que sustentam a pirâmide social da desigualdade.
O
antagonismo entre sustentabilidade e o sistema econômico capitalista consiste
em uma verdade absoluta, inegável e irrestrita. No entanto, na vã tentativa de
suavizar a agressividade do sistema, diversas teses esdrúxulas foram cunhadas
para maquiar os efeitos deletérios da economia de mercado. As expressões como
“desenvolvimento sustentável” e “economia verde” simbolizam as mais cínicas
teorias sobre a possibilidade de se desenvolver economicamente “agredindo de
modo mais suave” os limitados recursos da terra. Trata-se, portando, de
eufemismos descarados que invariavelmente sempre chegarão a conclusões
mentirosas.
Após
20 anos do encontro na capital carioca, novamente as principais nações do
planeta retornam à origem da discussão sobre questões relativas ao meio
ambiente. Sob a égide de um capitalismo cada dia mais devastador, a temática
ambiental desponta como a principal preocupação diante da avalanche consumista
que corrompe e desvirtua a humanidade, induzindo-a gradualmente ao precipício. Urge
reacender os ânimos dos povos para trazer para o centro das discussões todas as
violências ambientais, e consequentemente sociais, que a nossa realidade
econômica impôs à nossa qualidade de vida. As crises ideológicas e culturais, também
resultado de uma violação do ambiente, alimentam uma lógica perversa da
destruição do homem e de seu entorno.
O
teatro demagogo que a maioria das conferências ambientais produziu ao longo dos
anos solapou a credibilidade dos discursos ambientalistas sem viés ideológico. A
pseudo educação ambiental, quando se limita a falar sobre efeito estufa e
reciclagem, joga para a lata de lixo da história a oportunidade ímpar de
revolucionar comportamentos. O jovem, atualmente desprovido de referências
políticas, tende a absorver sem resistência tudo aquilo que o capitalismo,
propositadamente, propagandeia como sendo maravilhas do mundo contemporâneo. O
resultado desse processo é conhecido, uma massa consumista totalmente alienada
e ausente de valores, perpetuadora da destruição descontrolada dos recursos
naturais.
Assim
sendo, resta-nos verificar qual será o norte das discussões da Rio+20,
lembrando que somente uma ruptura violenta com a atual estrutura
político-econômica pode nos libertar do cárcere que nos aprisionamos. Quaisquer
outras interpretações esbarram no equívoco em se acreditar que o sistema
capitalista mundial pode superar as crises ecológicas que ele próprio
deflagrou. Assim, como já afirmou João Pedro Stédile, qualquer tentativa de
tornar afável toda a degradação ambiental proveniente da cobiça da classe
dominante assemelhará a Conferência a um “teatrinho governamental”.
Fernando Grecco
é diretor administrativo da
Associação
Vuturaty Ambiental (AVA).
www.fergrecco.blogspot.com
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