quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Oficinas debatem 'O Papel do Corpo do Educador'

Notícia publicada na edição de 01/08/2012 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 10 do caderno A -
Telma Silvério


O assunto será discutido em Sorocaba e Votorantim


A gente entende que o corpo é uma informação. Não é só uma questão postural e de estética, mas uma questão de posicionamento, ressalta Clayton Leme - Por: Arquivo JCS


 Clayton Leme faz parte do Coletivo Brincante - Por: Erick Pinheiro



Ampliar o olhar do educador sobre si próprio, de forma a mostrar o quanto seu corpo influencia e também educa somente pelo fato de estar numa sala de aula. Essa é uma das propostas a ser discutida em dois encontros, sobre o tema "O Papel do Corpo do Educador", pelo artista de dança do Coletivo Brincante, Clayton Leme, durante o 2.º Ciclo de Oficinas Múltiplas Linguagens: Novo-Olhar-Novo, da Unesp, com parceria da Secretaria de Cultura de Votorantim. O evento dirigido a professores-alunos do curso de Pedagogia Unesp/Univesp será desenvolvido a partir de sábado, dia 4, na Unesp Sorocaba e no Aquário Cultural Votorantim. As inscrições prosseguem somente até amanhã.

Os educadores passam por várias experimentações dentro de seu curso, mas às vezes o contato com a linguagem da arte é superficial, e a ideia é proporcionar uma experiência mais concreta para que ampliem o conhecimento sobre si mesmos, destaca Clayton Leme. Formado em dança, o artista fala da importância do corpo do educador quando está à frente de uma sala de aula, do quanto esse corpo interfere na formação da criança. "Acaba sendo modelo (professor)." Não se trata apenas de uma questão postural, observa. "A gente entende que o corpo é uma informação. Não é só uma questão postural e de estética, mas uma questão de posicionamento", ressalta.

O corpo tem muito mais responsabilidade, cobra ele. "É um corpo propositivo, que articula ideias." Daí a importância do educador saber como se posiciona. Leme revela que a criança apreende muito mais olhando para o educador do que quando ele fala. Então a necessidade desse corpo ter coerência. "Quando o educador pede para fazer X, mas a criança enxerga que seu corpo está dizendo Y, aí não tem coerência", exemplifica. "É como sentir um abraço. Você sabe quando é verdadeiro ou não, ou então um olhar de recriminação e não de acolhimento. Tudo isso é uma informação que a criança lê muito fácil."

A criança ainda não elabora socialmente. Suas relações sociais começam a serem construídas a partir dos 7 anos, então ela (criança) não tem problema de dizer que não gosta da pessoa, que a pessoa é feia, ou que está sentindo um mau cheiro porque a pessoa não tomou banho. "Ela (criança) olha e diz o que enxerga." Por isso, quando a imagem do educador não está condizendo com o que ele está passando a criança identifica a informação, reconhece e fala imediatamente, ressalta. Todas as pessoas são sensíveis, mas existem as convenções, pondera. "Ela (criança) identifica muito pontualmente."

É importante o educador saber que o corpo é uma informação e entender esse processo de reconhecimento da criança. "É preciso olhar para si e ver que tipo de informação está passando. Sua fala, modo de agir, de se vestir, de conversar, de propor uma atividade. Tudo isso está relacionado ao corpo de educador." O artista de dança explica que o corpo revela pensamento, as ideias, as informações de onde a pessoa vive e como toca o mundo. "Não é uma coisa que a gente veste e sai para dar aula. Quando a gente vai compartilhar alguma coisa com os alunos vai tudo aquilo que a gente é, o que conheceu."

O ensino-aprendizagem tem a ver com o corpo porque se aprende não apenas visualizando, mas tocando o mundo. Um professor pode ensinar Matemática levando uma caixa de laranjas na sala, exemplifica. Se o professor não entender que o corpo tem um papel fundamental será incapaz de propor uma Matemática sinestésica, que tem a ver com o tocar e não só o olhar na lousa e ver 2 + 2, ressalta. "Quando o aluno entende que a Matemática está viva, mais presente, que pode tocar essa Matemática na vida juntando duas laranjas, talvez ele aprenda muito mais que o professor o papel que o corpo tem nessa educação da contemporaneidade".

Conhecimento em movimento

Clayton Leme levanta uma discussão ao observar que a escola quer manter maior controle, então, se pudesse escolher, talvez pedisse que o aluno trouxesse apenas os olhos e ouvidos, acredita. "Porque o resto do corpo não é importante, o corpo causa confusão, briga com outro, faz bagunça. ""Às vezes a escola está evitando ou mesmo esquecendo de lidar de uma forma mais séria do que reconhecer que tem um corpo na sala de aula e o corpo do educador, ou mesmo tentando evitar isso." Leme explica que a maioria dos educadores não tem esse reconhecimento, e que são raros os lugares de formação que se discute o corpo de formação.

As práticas de repensar a atuação vêm do educador Paulo Freire.. "É preciso mostrar que a teoria e a prática estão juntas." Na oficina teórico-prática a ser ministrada dias 25 de agosto e 1.º de setembro, o artista pretende trazer à tona conceitos de Paulo Freire e de outros pensadores, de forma a pensar em exercícios para reconhecimento e percepção do corpo do educador, e como ele se coloca em sala de aula. Diante de uma educação dinâmica, segundo Leme, o professor deve se atualizar e se perceber nesse processo de transformação. "O tempo todo o educador tem que estar se revisitando, se repensando, porque o conhecimento é algo em movimento", finaliza.

Múltiplas Linguagens

O 2.º Ciclo de Oficinas Múltiplas Linguagens: Novo-Olhar-Novo, que ocorre na Unesp de Sorocaba e no Aquário Cultural Votorantim, a partir de sábado, dia 4 de agosto, oferece seis oficinas, cada uma com 30 vagas. Com o tema "Eu bem que sabia que a nossa visão é um ato poético de olhar", do poeta Manoel de Barros, as atividades serão desenvolvidas das 9h às 12h. As inscrições podem ser feitas pelos telefones (15) 3238-3400, ramal 3445, das 16h às 19h, somente hoje e na próxima sexta-feira. O interessado poderá se inscrever para todas as oficinas ou para as oficinas que escolher. Confira todas as oficinas, expositores e datas no site da Unesp http://www.unesp.br/noticia.php?artigo=8847.


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