“Há
um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas,
que
já tem a forma do nosso corpo,
e
esquecer os nossos caminhos, que nos levam
sempre
aos mesmos lugares...”
(Fernando
Pessoa)
Pivetta,
Acredito que ser
político implica em ser politicamente sociável e correto, devendo sempre
abandonar a sobrecarga emocional que os episódios podem nos provocar. Mas as
exceções se fazem necessárias em momentos como este, em que se finda um período
de sonhos históricos, de veredas muitas vezes tortuosas.
Durante todos
esses anos vimos os objetivos da esquerda se confundirem com as mais absurdas
teses de desenvolvimento econômico dentro do modelo que vivenciamos. A esquerda
foi mal interpretada, talvez até mal conduzida a ponto de se confundir com a
direita e com as tradicionais práticas políticas reacionárias que combatemos
com uma ideologia que, por determinados momentos, acreditávamos ser ideal.
Por aqui
apostamos em um processo de mudança, de inversão de valores e de oportunidades
às classes historicamente excluídas. O desfavelamento simboliza a nossa
sensibilidade social, a nossa garra em substituir uma velha ordem econômica que
relegou milhares de votorantinanses à masmorra da ignorância, impedindo o
verdadeiro sentido do desenvolvimento humano.
Mas tudo isso
se encerra nesse momento. A população, como bem dizia Luis Carlos Prestes, é
culturalmente muito atrasada, e o processo de mudança, considerando essa
realidade, é bastante lento. Assim, o momento político que vivenciamos não foi
compreendido por aqueles que mais necessitavam das mudanças que nos propomos a
conduzir.
Em nenhum
momento da minha vida estive tão envolvido com essa cidade como nos últimos
dois anos. Acreditei que estávamos próximos de realizar boa parte de tudo
aquilo que a cidade aspirava. As reformas, o enfoque social, a valorização do
homem enquanto agente transformador de sua realidade permeavam pensamentos
utópicos talvez, mas que se sustentavam com o mais sincero desejo de reforma
social.
Quero
compreender, como Nietszche, que seremos bem punidos pelas nossas virtudes. Ou
talvez pelo desejo folclórico de ver prosperar uma nova realidade, onde os
homens não sejam conduzidos pela ganância extrema, pelo ódio e pela brutalidade
de um sistema que nos escraviza, que dita todos os nossos atos e nos conduz
vagarosamente para o morticínio.
Dessa forma,
creio que a luta e o ideário de justiça nunca devem cessar. Pelo contrário, devem
ser diariamente alimentados pelo desejo ardente de se configurar um mundo de
razão, onde o desenvolvimento humano conduza todos à riqueza social.
Sobrevivemos dentro de um sistema que encarcera e escraviza inocentes, mas
lutemos contra ele como razão única da nossa existência.
Não me despeço,
pois considero que os nossos propósitos permanecem vivos, muito embora, a
partir de agora, estejam sob outra perspectiva. No entanto, registro aqui o meu
apreço pessoal a quem me permitiu se envolver com uma cidade que, apesar de
todos as intempéries, ainda é um berço de oportunidades.
Votorantim,
Dezembro de 2012.
Fernando Grecco
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