domingo, 9 de dezembro de 2012

Marcas nos joelhos


Por Luciana Lopez 
(publicado pela Folha de Votorantim em 08/12/12 - Caderno especial de Aniversário)




Neste dia, em que celebramos o 49º aniversário de emancipação político administrativa desta cidade, tive a afortunada oportunidade oferecida pela Folha de Votorantim de comentar algumas das minhas impressões sobre a história do município. Em seguida, a mesma oportunidade me foi oferecida pela Câmara dos Vereadores, na Sessão Solene ocorrida na última quinta-feira, 06/12. Lisonjeada com ambos os convites, tentei descrever o meu ponto de vista.
 
A minha história em Votorantim, pode parecer superficial, diante de muitos leitores, que presenciaram o principal acontecimento histórico para a cidade enquanto município, ou seja, o momento da sua emancipação. Mas, embora superficial, se comparada à história desses moradores, minha historia nesta cidade também pode ser considerada profunda. E isso depende do ponto de vista.
 
Sempre residi nesta cidade, no bairro da Vila Garcia. Nasci em uma época em que as ruas ainda eram de terra, existiam poucas casas e a paisagem verde era de se perder de vista. Filha de comerciante do bairro, na minha infância mantive amplo relacionamento social com os vizinhos. Participei de grupos da Igreja, dos projetos com as crianças, brincava pelas ruas e andava de bicicleta. Sempre utilizei transporte público para ir à escola, e com isso, observei o crescimento do bairro, através das novas rotas que ônibus fazia de tempos em tempos. Já no início da década de 90, nas ruas recém-asfaltadas, levei muitos tombos com os meus patins. As marcas nos meus joelhos não me deixam esquecer.
 
A partir da adolescência, já era possível acompanhar o desenvolvimento recente desta cidade. Com o grupo de escoteiros Voturaty, desbravei outros bairros, caminhei pelas íngremes ruas nas campanhas solidárias e fui me tornando ainda mais apegada a minha terra, de um povo gentil e amigo.
 
Na atual fase da minha vida, acompanho ainda mais intensamente os desafios desta jovem senhora que nesta semana completa 49 anos. E como sinto orgulho de poder participar de mais este aniversário! Nossos vanguardeiros que o digam! Estes, merecedores de nosso profundo respeito, pela audácia e coragem de lutar pela mudança.
 
E aqui quero expressar, especialmente, minha gratidão aos vanguardeiros.
 
Inconformados com a injustiça dos gestores públicos da época, que a esta terra não oferecia o que era de seu merecimento, lutaram por um ideal. Lutaram para ganhar a dignidade, e para exercer a cidadania.
 
Cidadania: o exercício pleno dos direitos políticos, civis e sociais, uma liberdade completa que combina igualdade e participação numa sociedade ideal.
 
Claro, ainda não chegamos à sociedade ideal, mas temos convicção que a cada dia damos um passo à frente. Nossos vanguardeiros, em pouco tempo, deram vários passos nesse sentido, e por isso, ressalto o quão importantes são para nós, nossos ídolos inclusive, por que não?
 
O então distrito de Sorocaba possuía todas as características necessárias para se tornar uma cidade. Com uma cultura popular peculiar, tinha economia pujante com indústrias promissoras, atividades comerciais, escolas, cinema, sistema viário, dentre outros aspectos que faziam com que Votorantim fosse respeitada em relação a sua organização social. Porém, não era respeitada as suas necessidades em relação aos serviços públicos, já que Sorocaba pouco privilegiava o distrito, e os equipamentos urbanos existentes eram todos da Fábrica de Tecidos Votorantim.
 
E foram os nossos vanguardeiros que protagonizaram a principal conquista de nossa história, mesmo contra interesses daqueles que dominavam o poder político de Sorocaba.

Por mobilização realizada por eles, em 1º de dezembro de 1963 aconteceu o tão famoso Plebiscito, que resultou na emancipação política do município. Os valentes do “Sim” venceram. Na sequencia, em 27 de março de 1965, aconteceu a instalação do município, com a posse do primeiro prefeito e vereadores desta cidade. E a data escolhida para comemorar o aniversário foi 08 de dezembro, data consagrada à Nossa Senhora da Conceição.

Quantas conquistas, não? E olha, que na época não existia internet, Facebook, celular, SMS, TV Comunitária, e todas essas tecnologias que nos fazem pensar que vivemos um amplo relacionamento social. Mas que relacionamento social é este? Se comparado ao movimento criado naquela época, capaz de acrescentar mais uma cidade ao nosso país e mais uma palavra ao dicionário.

Votorantinense: adjetivo e substantivo de dois gêneros relativo à Votorantim, que é seu natural ou habitante.

Votorantinense é todo aquele, que como eu, orgulha-se de viver e de conviver nesta cidade. Aliás, cidade que recebeu de braços abertos os migrantes e também os imigrantes, de várias etnias, em especial os espanhóis, dos quais sou descendente.

Votorantinense é aquele que vibra com as conquistas e também aquele que luta para não ficarmos estagnados.

Aquele que se reconhece como cidadão de um município ativo, alegre, vivo, solidário, humano, organizado, democrático e que, sobretudo, busca sanar as injustiças, este também é votorantinense.

Dessa história de lutas e conquistas, nos baseamos no presente e temos obrigação de legar aos futuros votorantinenses essa garra, que tanto nos orgulha.

A cidade, hoje, é bola da vez no desenvolvimento regional, consolida-se enquanto um município completo, cada vez mais independente e maduro.

A cidade, que hoje possui cerca de 110 mil habitantes, há 49 anos tinha cerca de 15 mil moradores.

E mesmo com tamanho crescimento, permanece vigiada pela Serra de São Francisco e, parodiando Lecy de Campos, no Hino de Votorantim, possui encantos, belezas naturais, jardins, fluviais recantos e um povo exuberante que labuta sem cessar. E são justamente estes que constroem esse gigante portentoso e singular.

E essa a Votorantim que eu enxergo, é nesta cidade que aprofundo minhas raízes, é aqui que colhemos os frutos dos nossos ídolos e temos sempre que lembrar, que também será aqui que semearemos o nosso legado.

Parabéns vanguardeiros!

Parabenizo também cada prefeito, vice-prefeito e vereador desta cidade, que deram suas contribuições para todo este desenvolvimento.

Parabéns à Folha de Votorantim, que tanto colaborou, em seus 35 anos de existência, para a democracia da cidade.

Parabéns Votorantim! E, finalmente, parabéns votorantinenses, natos ou por adoção, tanto faz, cidadãos que nesta semana tem muito o que comemorar.


Luciana Rodrigues Lopez é jornalista e radialista. Apresenta o programa “Debate dos Fatos” na TV Votorantim e coordena projetos da Associação Cultura Votorantim.

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