Andrea Alves
Artistas promovem espetáculos interativos em escolas da região. Um dos objetivos é promover "a alfabetização para as artes"

- Por: ADIVAL B. PINTO

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Trabalhar com a arte contemporânea não é ter os olhos voltados a um objetivo preciso, mas sim a um processo. É o que defende Thiago Alixandre, um dos fundadores do Coletivo O12, grupo responsável por um projeto que pretende tirar a plateia do papel passivo para colocá-la numa situação receptiva à arte, especialmente à dança contemporânea. Por fugir da linearidade, dos padrões pré-concebidos e normalmente mais conhecidos, a dança contemporânea provoca as reações mais diversas e inesperadas e aproxima essa arte do público é um dos intuitos dos integrantes do coletivo. "Game Cênico - Experiência para plateias ativas", nome do projeto que foi criado para ser apresentado inicialmente em escolas da rede pública de Votorantim, acabou chegando a uma escola particular de Sorocaba. Utilizando uma linguagem sensível e proporcionando um ambiente espontâneo, os artistas convidaram os estudantes a participar das cenas e a expressar ideias e sentimentos. Thiago reconhece que trabalhar com a plateia é um trabalho espinhoso. "Eu falo que estamos fazendo uma alfabetização para as artes", emendou.
O "Game Cênico" é dividido em duas etapas: uma em que os bailarinos do grupo dão duas aulas promovendo experiências e reflexões que auxiliam os alunos a compreenderem que o tipo de relacionamento que se deve ter com a arte é diferente da que se tem ao ser plateia de outras linguagens. A segunda etapa do processo é a apresentação propriamente dita do espetáculo "Game Cênico - Experiência para plateias ativas", em que os alunos escolhem as cenas que serão exibidas e com espaço para que exponham suas opiniões, pensamentos sem uma avaliação se a percepção de cada um é certa ou errada. A plateia, dividida em quatro grandes grupos, foi convidada a dizer qualquer palavra que expressasse o que via e sentia diante os movimentos mais surpreendentes dos bailarinos. Tudo que fosse captado ali seria posteriormente discutido entre alunos, professores e coordenadores. Num ambiente interativo, espontâneo e em meio a sussurros de surpresas a cada movimento mais agressivo, transgressor e ousado dos bailarinos, os jovens listavam o que passava pela mente em cada situação/intervenção apresentada: agressividade, leveza, estranhamento, violência, cansaço, submissão, confiança, sexualidade, são apenas algumas qualidade dadas ou pressentidas naquela ocasião.
Segundo Nelson Fonseca Neto, coordenador cultural do Colégio Objetivo, onde o projeto foi realizado (nas três unidades: da Zona Norte, do Centro e do Portal da Colina), para todos os alunos do Ensino Médio, a ideia de levar para a escola uma atividade cultural como essa tem como intuito proporcionar aos estudantes um novo olhar para as artes. "A juventude está acostumada com narrativas, por exemplo, e a arte como a dança contemporânea cria outras perspectivas. As artes são conectadas e novas vivências numa arte determinada pode ser uma abertura para outras." Como o objetivo dos coordenadores da escola não é atingir uma grande massa com um único projeto cultural, "especialmente porque a arte contemporânea não é voltada às multidões", acrescentou Neto, a ideia é promover ainda outras intervenções voltadas à fotografia, ao cinema, à história em quadrinhos e outros temas.
Tanto para Neto, quanto para o coordenador pedagógico, Carlos Eduardo D"Andretta, a postura dos alunos diante essa proposta de levar a dança contemporânea foi de interesse. "É isso que queremos. Que os jovens se sintam protagonistas, que tenham autonomia para a própria expressão do seu sentimento, de sua visão de mundo. Eles estão tendo interesse e coragem de se manifestar", observou.
Emancipação
Além do jogo de cena em si, os integrantes do Coletivo O12 usaram dois bons artifícios para prender a atenção da plateia escolar. Um deles foi a interatividade, quando alguns alunos foram convidados a dançar e a escolher as cenas a serem apresentadas (e que já tinham sido ensaiadas pelos bailarinos). Outro, foi como jogar o sapo n"água: o público podia colocar, em tempo real, as próprias observações na página do Coletivo O12 na rede social facebook. "Não foi à toa que escolhemos uma ampulheta para determinar o tempo da apresentação. Só depois que acabasse o tempo é que eles podiam enviar as mensagens. Foi um brincadeira para tentar mexer e controlar a ansiedade deles", revelou Thiago.
Para Thiago e os demais dançarinos do O12 que estiveram presentes, a experiência foi enriquecedora tanto para os participantes quanto para os bailarinos, que tiveram mais uma oportunidade para o autoconhecimento e entendimento das realidades e anseios de grupos tão diferentes. "Fizemos esse projeto nas três unidade do Colégio Objetivo e foi muito bacana perceber que cada público tem uma reação. Costumo dizer para os jovens que não existe um mundo. Existe o mundo dele, o meu mundo, e essa troca é interessante." Mostrando que já tem uma avaliação positiva sobre o desenvolvimento desse trabalho, Thiago finalizou: "emancipar a plateia é algo difícil e estamos sempre testando experiências. Mas é muito instigante ver uma patotinha de jovens ao redor dos bailarinos, depois da apresentação, dizendo que a dança e toda a arte mexeram com os sentimentos deles".
Possibilidades infinitas
"Não existem posições, existem possibilidades na dança contemporânea", definiu Joyce Vieira, aluna de 17 anos do 3º ano do Ensino Médio, após o espetáculo apresentado na escola. Joyce já foi estudante de balé clássico e chegou a ficar "chocada", ela disse, com as primeiras apresentações que viu, há muito tempo, de danças experimentais. "No começo não via sentido, mas depois comecei a ter outra percepção. Não é o sentido o que importa, mas sim o sentimento, o que é muito pessoal." Foi com isso também que a colega Milena Brisolla, de 15 anos, aluna do 1º ano do Ensino Médio, ficou surpresa. Ela já conhecia o trabalho do Coletivo O12, mas ficou admirada com as inúmeras interpretações dadas pelos colegas. "Foi muito bacana ver cada amigo tendo uma expressão diferente", disse. "A arte aflora o sentimento e abre nossa percepção. Hoje tenho um pouco de base, mas ainda não entendo tudo. Aprender é contínuo."
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