quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Na peça Lamartine Babo, com a bênção de Antunes Filho

Notícia publicada na edição de 21/02/2013 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 001 do caderno C


Artistas de Sorocaba e Votorantim estão na montagem em que o grande diretor estreia como autor. Sucesso de público, espetáculo está com ingressos esgotados para as sessões realizadas


-Não tem segredo. às vezes, a sorte ajuda, mas é preciso mesmo muito esforço, muita dedicação ao teatro- Flavia Strongolli, atriz de Votorantim - Por: Divulgação/Rafael Saes
Eu tive que acompanhar primeiramente os ensaios e vi as orientações de Antunes FIlho sobre interpretação, voz. Aquilo tudo foi uma aula pra mim - Sady Medeiros, atriz de Sorocaba - Por: Divulgação


Flavia Srongolli tinha 10 anos e seis pessoas na plateia quando participou de sua primeira peça teatral, chamada "Movidos à Música", dirigida por Silmara Rocha e apresentada em Votorantim, sua cidade natal. "Ganhei R$ 7 de cachê e fiquei tão feliz." Hoje, atriz profissional, Flavia volta à região onde nasceu e cresceu com a premiada peça "Lamartine Babo", já com ingressos esgotados para as duas apresentações no Sesc Sorocaba (às 19h e às 21h). O trabalho, que aborda vida e a obra do grande compositor que dá nome à montagem, tem ainda mais duas crias da região: as sorocabanas Sady Medeiros, atriz que também integra elenco, e a diretora musical Fernanda Maia também caíram nas graças do grande mestre do teatro brasileiro, Antunes Filho, que escreveu o texto da peça - marcando sua estreia como autor - e supervisionou a montagem dirigida por Emerson Danesi, ator veterano do Grupo Macunaíma.


Na verdade, em se tratando de Antunes Filho o termo não é bem esse - "cair nas graças". Precisa mais é de talento, sensibilidade e muito, mas muito, estudo. "Não tem segredo. Às vezes, a sorte ajuda, mas é preciso mesmo muito esforço, muita dedicação ao teatro", diz Flavia Strongolli, que desde criança era decidida a ser atriz. Flavia entrou para o curso de artes cênicas de uma universidade estadual em Curitiba e logo no primeiro ano de curso, quando trabalhava como monitora no setor de audiovisual da escola, teve contato, por vídeo, com a peça do "Nova Velha História". "Nossa, eu quero trabalhar com Antunes Filho!", pensou ela, no mesmo instante ao saber que era dele a montagem nada convencional. "A peça era feita com uma técnica chamada no teatro de "blablação" e fiquei encantada com o fato de compreender aquele blablablá dos atores em cena."


Desde então, o Centro de Pesquisa Teatral (CPT) - criado pelo Sesc e pelo Grupo Macunaíma para formação de atores e coordenado por Antunes Filho - não saiu do campo dos sonhos de Flavia, e embora as situações do cotidiano não favorecessem, diversas vezes tentou se inscrever para o concorrido teste de entrada à instituição. "As pessoas chegavam a dormir na fila para tentar fazer a inscrição. É algo que fica em torno de 800 inscritos para 20 vagas", ela calcula. Flavia morou 10 anos em Curitiba, onde participou de vários grupos de teatro e chegou a dar aulas. Até que chegou aquele momento que só uma cidade como São Paulo pode oferecer novas experiências. "Eu dava aula numa escola em que gostava tanto e saí dizendo que ia trabalhar com Antunes Filho. Meu sonho, meu objetivo era esse." Já em São Paulo, Flavia passou no teste para o musical do Wolf Maia, "Rock Show", e ainda nos ensaios da peça soube que estavam abertas as inscrições para o curso do CPT. Dessa vez, as circunstâncias deram uma chance. O teste do CPT tem quatro etapas, conta a atriz. Seleção por currículo e por entrevista são as duas primeiras. As demais já são uma prova de fogo. A terceira etapa é uma apresentação de uma cena para o próprio Antunes Filho. "Desespero foi o que senti. Depois fiquei feliz e nervosa por saber que passei nessa etapa e que a próxima seria uma apresentação individual para Antunes."


No céu do teatro brasileiro


Já no curso no CPT, ministrado pelos discípulos desse mestre do teatro, Flavia foi chamada para fazer um teste para a montagem "Policarpo Quaresma". Foi o período em que ficou "internada" no CPT, já que por conta de aulas e ensaios, passava o dia todo lá. E aí entre em cena o esforço. Às 22h, de uma noite exaustiva de ensaio, Flavia foi convidada por Antunes para fazer o teste para a montagem "Lamartine Babo", já que uma das atrizes tinha saído do projeto. "Me pediu para cantar para ele no outro dia. Tive 12 horas para escolher e ensaiar duas músicas, uma delas do Lamartine. Eu me apresentei pro Antunes, morrendo de nervoso, e ele me disse que eu podia começar os ensaios." Flavia, porém, foi do céu ao inferno em três dias. "A atriz que estava ensaiando para a peça, quem eu iria substituir, acabou voltando para a montagem. Fiquei desanimada!". A tristeza durou bem pouco porque a ordem do próprio Antunes Filho foi que a o diretor Emerson Danesi arrumasse uma personagem para ela na montagem. E foi à base do improviso e de algumas tentativas que surgiu Rita, seu papel no espetáculo. "Lamartine Babo é meu presente dos deuses", diz Flavia.


Embora não tenha feito a seleção do CPT, a sorocabana Sady Medeiros também teve sua prova de fogo. Formada em teatro pela Escola Superior de Artes Célia Helena e com muita experiência em canto - ela fazia parte da banda Musix, de Sorocaba, e cantou com DJ Mora e DJ Naccarati - Sady foi convidada a fazer um teste para substituição de uma atriz na montagem "A Pedra do Reino". "Precisavam de um atriz loira, baixinha e que cantasse. Era eu", disse. O momento em que surgiu o convite, porém, fez parecer que o destino estava lhe pregando uma peça. "Eu tinha acabado de sofrer um acidente, estava com a perna engessada, com o corpo dolorido e o olho roxo. Expliquei que não podia fazer o teste, mas não acreditava que eu tinha recebido essa oportunidade justamente quando eu estava naquele estado!" Diante da afirmação que Antunes Filho a veria daquele jeito mesmo e da insistência da mãe de Sady - "você não queria fazer teatro? Pois agora vai fazer com Antunes Filho e vai sim nesse teste" - Sady foi, capenga e esperançosa, apresentar a canção "Lua Branca".


Ela ainda recorda a experiência: "Antunes entrou e falou "vai menina, canta". Cantei duas frases e ele disse "você é ótima, pode começar a ensaiar"". A própria vivência em "A Pedra do Reino" - ele tinha 16 trocas de figurino em cena, algumas delas tinham que ser feitas em poucos segundos - foi um aprendizado. "Eu tive que acompanhar primeiramente os ensaios e vi as orientações de Antunes Filho sobre interpretação, voz. Aquilo tudo foi uma aula pra mim." Sady também frequentou as aulas do CPT - tempo em que o lugar também virou sua casa, como foi para Flavia e outros tanto atores - até que foi chamada para a peça "Lamartine Babo", interpretando a personagem Catarina.

 

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