quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

O desafio de implantar a secretaria Nacional de Cultura da CUT

Notícia publicada na edição de 06/02/2013 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 001 do caderno C
Maíra Fernandes

Benedito Augusto de Oliveira, o Benão, fala do projeto-piloto de gestão e sobre a necessidade de um debate amplo sobre o tema



Por: EMÍDIO MARQUES






É de uma conhecida figura da cena cultural sorocabana, o diretor de teatro Benedito Augusto de Oliveira, o Benão, a missão de desenvolver e implantar a secretaria Nacional de Cultura da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Para tanto, desde o início do ano, o assistente social por formação e ator por vocação desenvolve um projeto-piloto de gestão, à frente da recém-criada coordenadoria de Cultura da CUT, em São Paulo.

O novo (e primeiro) responsável em trazer e discutir a cultura dentro da CUT - a maior da América Latina e uma das maiores centrais do mundo - assumiu o cargo recentemente, já que em maio de 2012, quando foi indicado para ele, ainda acumulava a função de presidente do Sindicato da Saúde Pública do Estado de São Paulo. O convite, conta ele, aconteceu no último congresso da central, mas o debate sobre a necessidade de uma secretaria de Cultura já havia iniciado há cerca de três anos, com o presidente nacional da CUT. "E era eu que vinha fomentando esse debate, já que eles descobriram que eu era artista", conta o sorocabano. "Viemos conversando muito de fazer a secretaria, pois não existia na CUT. Somos uma das maiores centrais do mundo e daí caiu a ficha: como não temos uma secretaria de Cultura? Dentro da sua organização, a CUT tem todas as secretarias, educação, trabalho... Funciona como se fosse um Estado, para cuidar de todos os envolvidos, mas não tinha um departamento de cultura", posiciona-se Benão.

A necessidade fez mais sentido quando, nos últimos oito anos, o Plano Nacional de Cultura apresentou uma série de propostas relevantes para a classe operária, como o "Vale Cultura", "Pontos de Cultura", fomentando a cultura popular em diversos locais. "A CUT se viu na necessidade de entrar nesse debate. Não apenas na questão da produção, mas no debate político. O que é cultura para a classe trabalhadora? Tem que ter, na cultura, um debate amplo nacional sobre o benefício enquanto política pública e como ela se insere no dia-a-dia do trabalhador, discutir cultura de massa, popular, indústria do entretenimento, acesso ao bem cultural como direito universal, direito de cidadania, e não como mera vaidade de uma elite, mas como direito público. A central precisa se organizar e dialogar com todos os trabalhadores", defende.

Os trabalhos já começaram e a agenda de Benão ainda comporta a retomada para os palcos, que deve acontecer em abril, na capital, e no decorrer do ano em Sorocaba, com a montagem de uma peça com os amigos de longa data do teatro. "Estou dirigindo um espetáculo chamado O Jardim, que deve estrear em abril em São Paulo, mas amo Sorocaba, sou artista daqui, e esse ano quero montar um espetáculo - uma adaptação de um livro de Bukowski - com atores de Sorocaba", planeja.


A cultura da cultura


"Eles me deram uma diretoria executiva, mas com caráter de secretaria. Minha função é de fazer o debate e criar a estrutura da secretaria, o que requer organicidade, entender onde vamos atuar, além de realizar uma série de debates dentro da central", adianta o sorocabano sobre as funções que já vêm realizando desde o ano passado, quando deu início a vários seminários, discutindo o papel da cultura na classe trabalhadora, nos fomentos regionais, e o que seria uma secretaria de cultura na classe trabalhadora. A próxima ação, conta ele, é a 1ª Jornada Literária da classe trabalhadora que em breve lança edital para associados a sindicatos cutistas, além de debates aprofundados referentes ao "Vale Cultura". "Nossa esperança é que o debate resvale nas outras centrais. Não tenho notícia se as outras centrais têm essa secretaria, carecemos desse debate no âmago das organizações", complementa.

Para ele, apesar de "soar estranho" a afirmação, a falta de uma secretaria de Cultura nessas organizações voltadas ao trabalhador é uma questão cultural. "A cultura sempre foi, como política pública, relegada a uma elite e não como objeto de primeira necessidade. Apesar de as secretarias de Cultura terem um papel estratégico, pois atuam em diversos setores, nessa luta dos trabalhadores as centrais sempre privilegiaram ações referentes à saúde do trabalhador, direitos do trabalhador, contra a precarização do trabalho, entre outros tópicos, e hoje sentem o peso da falta do debate sobre cultura", reconhece Benão, lembrando que a maioria dos sindicatos de classe não seguiram pelo mesmo caminho, e iniciaram há mais tempo esse debate, como os sindicatos dos metalúrgicos, químicos, bancários, saúde...

Para o responsável pela implantação do secretaria, a estruturação de qualquer organismo referente à cultura é um desafio, e não seria diferente com a CUT. Os próprios municípios, pontua, têm essa dificuldade, mesmo assim, o sorocabano se mostra feliz com os rumos da cultura em sua cidade natal. "Estive com o José Simões (secretário da Cultura de Sorocaba) e fiquei muito contente com ele e suas posições. Nós, em Sorocaba, sempre fomos relegados a um plano inferior quando a questão era cultura. Gostei da posição dele de colocar que a Linc não é uma política cultural, que é algo bem mais amplo. Acho que Votorantim saiu na vanguarda na questão cultural, com secretários que entenderam essa questão, e hoje o povo de Votorantim preserva isso que conseguiram, espero que isso ocorra em Sorocaba também", compara.

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