Um espaço em que o jovem pode contar suas experiências e apresentar suas dúvidas sobre gravidez, prevenção de doenças, além de conflitos e descobertas típicos da idade, essa é a proposta de um novo programa criado pela equipe do Ambulatório de Saúde da Mulher e da Criança, da Prefeitura de Votorantim. A primeira reunião do grupo foi nesta quarta-feira (08), com a presença de doze adolescentes, sendo uma parte delas gestantes.
Como trata-se de um espaço aberto e colaborativo, as próprias participantes escolherão um nome para o programa nas próximas reuniões. "É mais uma forma de envolvê-las e garantir uma proximidade com o grupo, deixando claro que esse é um espaço para manifestação delas", frisou a enfermeira Aparecida Cristina Nogueira, coordenadora do ambulatório.
Normalmente, as reuniões serão divididas em turmas de gestantes e não-gestantes. As grávidas participarão a cada quinze dias e os demais terão pelo menos uma reunião a cada mês. Para dar início ao serviço, foram convidadas as jovens atendidas pelo programa de pré-natal de risco e outras meninas que participam de algum atendimento no ambulatório, tendo indicação profissional para fazer parte. Na rotina do programa, os jovens poderão trazer amigos e amigas que desejem estar presentes e os profissionais da rede de saúde também poderão fazer encaminhamentos. O grupo é aberto a meninos e meninas adolescentes - com idade até 19 anos.
Apoio médico e psicológico
As reuniões contarão com o acompanhamento de uma médica especialista em Hebiatria (área da medicina que trata adolescentes) e uma psicóloga. Na primeira reunião, as profissionais se apresentaram e já fizeram uma primeira dinâmica com depoimentos das participantes que experimentaram a sensação de contar um pouco de si, suas vivências e dúvidas.
A jovem Beatriz, de 12 anos, garantiu que essa parte não foi difícil porque tem abertura para conversar com a mãe: "Falo bastante com ela e aqui não foi difícil". Para a estudante, a parte mais interessante foi conhecer as histórias das meninas grávidas: "Isso aqui é para orientar a gente, para aprender com o que aconteceu com elas", sentenciou.
No grupo das jovens gestantes, Maria, de 14 anos, definiu como "um susto" a notícia de que teria um filho tão jovem. Ela relatou que usava preservativo regularmente com o namorado, mas em uma ocasião, o produto estourou. A médica Carolina Maria Soares Cresciulo explicou às meninas que o uso exclusivo do preservativo tem um risco de 30% de gravidez. "Nessa margem estão os casos de preservativo fora da validade, que ficaram na carteira ou no sol e estragaram, dos preservativos que estouram, como aconteceu com a Maria, e também o casos de uso incorreto ou tamanho inadequado", comentou.
Entre as grávidas, Aline, de 19 anos, contou que não usava o preservativo em todas as relações, o mesmo foi assumido por Karen, de 14, que está grávida de cinco meses. Para ela, a gravidez já foi assimilada como uma nova realidade, mas o início foi bastante difícil tanto pela falta de aceitação da mãe, quanto pela sua própria dificuldade de entender o que tinha acontecido. "Eu não achei que era isso e meu namorado falou que era melhor avisar minha mãe e procurar um médico", lembrou a jovem.
Segundo a médica Carolina, o mais seguro para evitar a gravidez indesejada é usar dois métodos associados e assim, reduzir para 1% a chance de engravidar. "Tem que usar o preservativo e também a pílula anticoncepcional, os dois juntos vão reduzir bastante a chance de uma gravidez", ensinou a médica. Para ela, a primeira reunião foi bastante proveitosa indicando que nas próximas reuniões as participantes estarão mais familiarizadas com a dinâmica e menos inibidas. "O trabalho em grupo tem justamente essa proposta de deixar os participantes livres e, assim, construir um relacionamento que permite falar e perguntar sem travas", acrescentou Carolina.
A psicóloga Patrícia de Paulo Antoneli completou dizendo que o jovem se sente mais confiante quanto está "em rede", por isso começa a se abrir permitindo que as informações e orientações cheguem. Outras vantagens do trabalho em grupo são a capacidade de atingir mais pessoas em pouco tempo e a variedade de temas e experiências abordados. "Também falaremos dos vínculos com a família, de apoio, de amizade. É sabido que muitas meninas, quando engravidam, se afastam das amigas, se isolam, depois não querem mais voltar a estudar. Esse também será um tema tratado", comentou a diretora médica da Secretaria da Saúde, Mônica Cenci Antunes Húngaro, que é pediatra e está envolvida na criação do serviço.
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