Rosimeire Silva
Eles representam 2% do total cadastrado pelo Cremesp
"Sempre fui muito bem recebida", diz a anestesista Paula Andrea, que trabalha no Hospital Oftalmológico de Sorocaba - Fábio Rogério
Deste total de médicos diplomados no exterior, 33 são brasileiros que cursaram a universidade fora do país e outros 29 profissionais são estrangeiros que, depois de formados, vieram para o Brasil. O representante do Cremesp em Sorocaba, João Márcio Garcia, diz que 15 dos médicos estrangeiros que atuam na região são provenientes da Bolívia e o restante vem de outros países como Peru, Colômbia, Suécia, Alemanha e Estados Unidos. Ele estima que, pelo menos, metade desses médicos, com formação no exterior, atue em Sorocaba, o que corresponde a 1,55% dos 2.050 profissionais em atividade na cidade.
A rede municipal de saúde de Sorocaba tem cinco médicos estrangeiros que atuam nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e unidades de urgência e emergência, sendo três naturalizados brasileiros e dois portugueses. Em Votorantim, são mais quatro médicos estrangeiros que trabalham como plantonistas clínicos no Pronto Atendimento Central, sendo um chileno, um cubano, um boliviano e um equatoriano. Este último foi o primeiro colocado no processo seletivo realizado pela Secretaria Municipal de Saúde no início deste ano.
Sotaque colombiano
A médica colombiana Paula Andrea Espitia Alvarez, 38 anos, é uma das profissionais estrangeiras que atua em Sorocaba e que desenvolve sua carreira profissional no Brasil. Ela conta que, depois de se formar em Medicina na Colômbia, veio para o Brasil, junto com o marido, que também é médico, para fazer residência na área de anestesia em São José do Rio Preto, onde conseguiu uma bolsa para continuar com o estudo. "Na época, já tinha um grupo de 50 colombianos fazendo residência em Rio Preto", lembra. Para conseguir fazer a residência, a médica conta que obteve um registro provisório do Conselho Regional de Medicina (CRM), que permitia apenas estudar no país.
Antes de começar a atuar na profissão, no entanto, ela passou pelo Revalida, que é o exame nacional de revalidação de diplomas médicos expedidos por instituições de educação superior estrangeiras, e também por um exame de proficiência, que testa o entendimento da língua portuguesa pelos profissionais, para, então, receber o CRM definitivo. Há 13 anos no Brasil, Paula Alvarez formou a sua família em Sorocaba, onde integra a equipe médica do Hospital Oftalmológico de Sorocaba. "Sempre fui muito bem recebida, tanto pelos colegas médicos como pelos pacientes. Não importa a sua nacionalidade, se você mostra conhecimento e capacidade, as pessoas vão te respeitar."
Mesmo sendo estrangeira, a anestesista defende que se mantenha a determinação para que qualquer profissional formado em outro país tenha a obrigatoriamente de passar pelo Revalida e pelo exame de proficiência para poder atuar no Brasil. Paula Alvarez considera que a iniciativa do Governo de abrir as portas do país para médicos de outras nacionalidades que queiram trabalhar aqui pode ser boa, mas desde que se mantenham os testes de conhecimento. "Essa é uma praxe seguida em todo o mundo, já que cada país tem uma política de saúde e terminologias específicas e os profissionais que vão trabalhar precisam estar familiarizados dentro dessa realidade."
Cremesp defende manutenção de exames
"Não somos contra a vinda de médicos estrangeiros ao Brasil, desde que eles sejam capazes de comprovar que têm o nível de conhecimento dentro dos padrões de formação das instituições brasileiras." Essa é a avaliação do representante do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) em Sorocaba, João Márcio Garcia, que considera essa condição essencial para que os profissionais formados em outros países possam obter o registro que permita suas atuações no país.
Garcia afirma que essa regra é seguida em todos os países e não pode deixar de ser adotada no Brasil, como é proposto pelo Governo Federal, como forma de cobrir a carência de médicos em algumas regiões. "O Brasil tem o número de médicos qualificados suficiente para o atendimento da população, basta que o Governo dê condições de trabalho, como uma retaguarda adequada para exames, medicamentos e vagas em hospitais, e façam a contratação dos médicos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), com plano de carreira, que essa carência de profissionais existente poderá ser corrigida", defende.
Na avaliação do representante regional do Cremesp, ao abrir mão do Revalida e do teste de proficiência, o Governo poderá estar colocando em risco a qualidade do atendimento dessas regiões, já que não existe a comprovação da sua capacidade profissional. João Márcio cita que, em países como Cuba e Bolívia, existem instituições com até mil alunos cursando Medicina por ano. "Como é possível fazer um acompanhamento de residência de tantos estudantes com qualidade?" No Brasil, diz ele, o número de formandos por instituição no ano não passa de 100 e, ainda assim, existe dificuldade com o exercício da profissão.
João Garcia afirma que, no caso do Cremesp, já existe uma resolução que estabelece que o CRM só é concedido aos profissionais formados no exterior que passarem pelo Revalida e proficiência, por isso, o órgão manterá essa determinação legal, independente da medida provisória baixada pelo Governo Federal. (R.S.)
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