
Valdinei Queiroz
Folha de Votorantim
Minha mãe deu à luz a seu segundo filho, que sou eu, no final da década de 1980 e, portanto, não tive como presenciar o regime militar, muito menos o processo de emancipação de Votorantim, que antes pertencia ao município de Sorocaba.
Enquanto meus pais trabalhavam e, nas horas vagas, brincavam na roça, no interior de Minas Gerais, um distrito tentava se libertar das garras do município que fazia parte do seu espaço físico. A empresa Votoran foi a responsável pelo “midiatismo” que chegava aos operários e residentes do então distrito Votorantim. Foi carimbada na pauta-reivindicatória a expressão “emancipar” que, a partir da década de 1960, muitos distritos se desmembraram e, dessa forma, possibilitando a criação de uma nova cidade, com hábitos e costumes semelhantes e distintos dos vizinhos.
O tema do bate-papo dos meus pais, sem dúvida alguma, não era o processo para culminar à independência de Votorantim. Com certeza, não. Na época, o pensamento deles era sair da roça e tomar rumo para São Paulo. Constituir uma família e, consequentemente, construir uma moradia e um emprego estável. E foi o que ocorreu anos mais tarde.
Em 1963, o efeito do “sim” derrota o “não” e Votorantim, naquele momento, não concernia, de fato, mais a Sorocaba. Livre: para poder tomar outros rumos e injetar a arrecadação em desenvolvimento em todas as áreas básicas para um ser humano sobreviver e ter bem-estar na sociedade. Ainda nesse período, meus pais ainda estavam no interior de Minas Gerais. Só foram para São Paulo no final da década de 1970, quando a ditatura militar era recente no País.
No hospital, que fica em Santo Amaro, em São Paulo, nasce o segundo filho da dona Maria da Aparecida Queiroz, minha mãe. Fui criado no Jardim Bransley até os 6 anos de idade, quando meu pai, Sebastião Pereira Queiroz, recebeu uma oferta imperdível para trabalhar em Sorocaba. E para lá nós fomos.
No distrito Éden, que fica em Sorocaba, fiz minha infância, adolescência até chegar à fase adulta. No Éden, inclusive, já houve reuniões e debates para que fosse desmembrada de Sorocaba. Acabou não ocorrendo. Meu primeiro contato direto com Votorantim foi durante o festival de bandas “Votobandas”, cujo prefeito na época era Jair Cassola (PDT), tendo como secretário de Cultura, Werinton Kermes, um dos organizadores do evento.
A primeira relação profissional foi um especial do Dia 8 de Dezembro, aniversário do município, em 2008. Recebi o convite do jornalista, fotógrafo, agente cultural e amigo, Matheus Casagrande. Tive o papel de desenvolver textos com netos de vanguardeiros. Um deles – se não me engano – neto do primeiro prefeito de Votorantim, Pedro Augusto Rangel. Na oportunidade, ele traçou as maravilhas que o município oferece, contando que as cachoeiras são bem visitas por turistas.
De lá para cá, trabalhei em duas assessorias de imprensa, campanha sindical, até retornar à Folha, em 2011. Nesse período curto – de dois anos – aprendi a gostar da cidade e avaliar detalhes que, em 2008, não havia contemplado. Presenciei uma eleição municipal que, antes de dar início, a repercussão era que Carlos Augusto Pivetta (PT) seria reeleito e, no pleito de 2016, Marcos Mâncio (vice do petista) seria o candidato natural do grupo encabeçado pelos partidos PDT e PT. Não foi o que ocorreu. Erinaldo Alves da Silva (PSDB) vence o segundo duelo contra Pivetta, e volta ao comando após 16 anos sem ser o responsável pela Prefeitura de Votorantim.
Erinaldo, inclusive, representa, literalmente, os números do seu partido (45): final de dezembro deste ano completa 15 anos como Chefe do Executivo e, também, 50 anos de emancipação, assim como 50 anos de instalação do município em 2015. Sem contar a edição número 100 da Festa Junina Beneficente de Votorantim, mas essa não condiz com a sigla partidária.
Em suma, a história de Votorantim não começou em 1963 e, sim, no século 17 - período que começou a ser explorado e povoado. O primeiro habitante foi Pascoal Moreira Cabral, parente do fundador de Sorocaba, Baltasar Fernandes. No entanto, foi no início da década de 1960, como município, que representou um dos marcos mais importante na história do então distrito de Sorocaba.
Projetos de lei – como no caso do vereador Pedro Nunes Filho (PDT) – que faz a história do município permanecer no tempo/espaço, e ações da sociedade civil - como do Coletivo Cê – são fundamentais para que os velhos votorantinenses tenham aquele sentimento nostálgico da época que já passou. E para os novos terem a ciência de todo o processo emancipatório: de distrito até se tornar um município, assim ter o conhecimento de outros fatos que ocorreram no decorrer da história desta “nossa Votorantim”.
Valdinei Queiroz é formado em jornalismo e pós-graduado em globalização e cultura
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