Jornal Cruzeiro do Sul
Carolina Santana
Acidentes com veículos correspondem a 11% dos 42 mil atendimentos realizados no PS Regional neste ano
Evandro de Oliveira sofreu acidente quando pilotava uma moto - FÁBIO ROGÉRIO
"Muita mãe chora pelo filho aqui nesses
corredores." Diretora do Pronto-Socorro do Hospital Regional há nove
meses, Janayne Andrea Marques de Faria Maffeis informa que dos 42 mil
atendimentos feitos pelo PS esse ano, 4.638 foram acidentes de trânsito,
o que corresponde a 11% do total de ocorrências. Os acidentes com moto
são os mais numerosos. Até o dia 18 de dezembro, os acidentes em duas
rodas somavam 2.717 casos. No período foram 1.215 acidentes com carros e
outros 706 atropelamentos de pedestres. Em 2012, o governo paulista
teve um custo de R$ 61,3 milhões com internações pelo Sistema Único de
Saúde (SUS) relacionados a acidentes envolvendo transporte. A Secretaria
de Estado da Saúde ainda não divulgou os números relativos a 2013.
O Hospital Regional é considerado de alta complexidade e atende toda a
região, são mais de 50 municípios. Janayne explica que o Pronto Socorro
trabalha na área de ortopedia, pediatria, cirurgias emergenciais, entre
outros. A área de politraumatismo recebe os acidentados no trânsito da
região. "Com relação aos acidentes de moto, podemos dizer que 60% dos
casos são de Sorocaba e Votorantim, eles são trazidos pelos Bombeiros e
pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência)", revela a médica.
Segundo ela, as segundas-feiras e as madrugadas pós-feriados são os dias
mais movimentados no setor de politrauma.
"Álcool e imprudência são as principais causas dos acidentes e os
jovens, na grande maioria, são as vítimas. O perfil é de jovens entre 14
e 30 anos", afirma Janayne. A pouca idade das vítimas, comenta ela,
promove cenas comuns de mães e outros familiares que ficam pelos
corredores acompanhando ou à espera de informações sobre os acidentados.
"É uma situação complicada. São jovens, estão em idade produtiva e um
acidente de trânsito mexe com a família inteira", comenta ela.
A família também é afetada com seus jovens acidentados. O tempo mínimo
de recuperação é de cerca de seis meses. Nos casos mais complexos,
quando há traumas torácico, abdominal e cirúrgico, a recuperação pode
levar até três anos. "Isso quando não temos as sequelas permanentes ou
os óbitos pós-traumático", comentou a diretora do PS do Regional. As
internações dos acidentados são longas mas o tratamento para recuperação
continua em casa.
É comum também que essas vítimas tenham de se afastar de suas atividades
laborais e passem a receber benefícios previdenciários. Segundo
estimativas do Ministério da Previdência Social (MPS), em 2012, o Brasil
contava com 352 mil pessoas com invalidez permanente em decorrência de
acidentes de trânsito. No mesmo período, o País somou 60 mil mortes no
trânsito e isso também reflete nos gastos previdenciários. O custo
mensal do Instituto Nacional da Seguridade Social (INSS) com esses
benefícios é de R$ 12 bilhões.
Conscientização
Como tentativa de reduzir o número de vítimas de acidentes de trânsito, a
Urbes, a partir do ano que vem, vai contar com um espaço dentro do
Hospital Regional de Sorocaba. A ideia, adianta Janayne, é que jovens em
idade escolar visitem o hospital para conhecer as consequências dos
acidentes. "Vamos ceder uma sala para eles e vamos apresentar a área de
politrauma para os alunos. É um programa educativo", resume a médica.
Para a gerente de Educação para o Trânsito da Urbes - Trânsito e
Transporte, Roberta Bernardi Martin, os acidentes de trânsito não
deveriam ser classificados como tal pois, em sua grande maioria, são
resultados da ação humana e poderiam ser evitados se o comportamento dos
motoristas fossem de mais cautela. "Os leitos que são ocupados por
conta das vítimas dos acidentes poderiam ser voltados para outros
pacientes. O custo para a sociedade, de forma geral, é muito alto",
afirma Roberta.
Uma morte a cada 15 dias
Em Sorocaba, os acidentes de trânsito matam uma pessoa a cada duas
semanas. As mortes aumentaram 37% na cidade e o número de vítimas da
fatalidade já é maior do que o total registrado durante 2012. Entre
janeiro e outubro, ou seja, em 304 dias, 81 pessoas morreram no trânsito
sorocabano, foram 22 mortes a mais do que as 59 ocorridas durante todo o
ano passado. Dessas, 49 ocorreram no período de janeiro a outubro de
2012, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo
(SSP-SP). Em 2013, os meses de julho e maio foram os mais violentos,
somando 19 e 12 óbitos, respectivamente.
Desenhista fica dois meses de cama
Aos 27 anos, o desenhista Evandro de Oliveira se recupera de um
acidente de moto sofrido em fevereiro deste ano. Ele retornou ao
trabalho depois de dois meses da queda. Isso porque trabalha em casa e
sentado. Foram dois meses na cama dependendo da ajuda dos outros. Mãe e
esposa mudaram a rotina para cuidar dele que agora não quer mais saber
de andar sobre duas rodas. "Ficamos muito frágeis na moto. Qualquer
queda é uma coisa séria", conta.
Além de quebrar o fêmur da perna esquerda e ter de passar por cirurgia,
Evandro perdeu os movimentos do pé direito por conta de uma torção
durante a queda. "Os médicos disseram que talvez eu não recuperasse os
movimentos, mas eles estão voltando. Ainda não estou 100%, posso dizer
que estou 50% recuperado", comemora o jovem que agora dirige um carro
automático. "Tive que trocar de modelo, não conseguiria pisar na
embreagem", diz. As incontáveis sessões de fisioterapia também fazem
parte do tratamento para a sua recuperação.
Os dois primeiros meses depois do acidente foram os mais críticos.
Evandro conta que durante esse período ficou de cama e totalmente
dependente dos outros. "É um processo muito difícil e doloroso. A
recuperação é muito lenta. Eu tomava remédios fortes e a dor não
passava. Estava em uma cama dependendo dos outros para tudo, para beber
água, ir ao banheiro e até para me mexer. Se não tiver a cabeça boa
acaba fazendo uma besteira", diz. Depois desses dois primeiros meses, o
jovem precisou usar cadeira de rodas e, posteriormente, muletas para
andar. Agora, diz ele, já não precisa mais desses auxílios mas ainda não
recuperou todos os movimentos e a agilidade de antes.
A ajuda da família e amigos, garante, foi fundamental para a boa
recuperação. "Minha mãe e minha esposa me ajudaram muito nesse período. O
meu acidente mexeu com a vida de toda a família", diz. Os amigos de
faculdade também ajudaram o jovem que precisa de auxílio para ir e
voltar das aulas. Desde fevereiro, dez meses já se passaram e Evandro
ainda sente fortes dores e voltará às sessões de fisioterapia. Evandro
não se lembra da queda que foi na avenida São Paulo enquanto ia para um
churrasco. "Eu não tinha bebido nada. Perdi a memória com o tombo e não
me lembro do que aconteceu", explica ele. No momento do acidente não
havia ninguém na rua para contar o que aconteceu. (C.S.)



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