sexta-feira, 14 de março de 2014

Adotado, Eric busca o "sonho da bola"

Jornal Cruzeiro do Sul
Rafaela Gonçalves

Eric foi convidado para atuar nas categorias de base do São Francisco-BA - ERICK PINHEIRO



A infância costuma ser a fase que as pessoas não têm problemas. As crianças precisam, apenas, ser crianças. Brincar, pular, pintar, fazer birra, jogar bola, aprender. São apenas algumas das "atribuições" dos pequeninos. Esta, porém, não foi a realidade do futuro atacante do São Francisco, da Bahia, e morador de Votorantim, Eric Ribeiro Costa e de seus três irmãos.

O adolescente de 14 anos embarca hoje para Salvador em busca do seu maior sonho: o de ser jogador de futebol. Eric treina na Academia Palmeiras na Vila Garcia, em Votorantim, e foi emprestado em janeiro para o Atlético Paranaense para defender o clube em uma competição internacional em Pereiras (SP). Lá, ele despertou o interesse dos dirigentes baianos e foi convidado para jogar no São Francisco.

Agora, o sorriso de felicidade e o brilho no olhar de realização não saem do rosto de Eric. Mas nem sempre foi assim. Eric e seus irmãos passavam por dificuldades na casa em que moravam e o Conselho Tutelar os mandou para a Casa de Belém de Votorantim. Lá, os garotos ficaram por quase três anos, até que os professores de matemática Eliã Gimenez Gosta e Virginia Aparecida Ribeiro Costa apareceram em suas vidas.

O casal sonhava em adotar crianças, apesar de poderem ter filhos biológicos. Primeiro, eles adotaram o caçula Guilherme, que na época tinha cinco anos. Alguns meses depois, os professores conheceram e se encantaram com Eric, que tinha dez anos. Os outros dois irmãos foram adotados por outra família. Apesar da "separação", os irmãos se encontram com frequência. "Eles vivem se encontramos. Viramos uma grande família", complementou.

Ter filhos era um desejo antigo do casal. "Nós sempre quisemos adotar crianças, por opção mesmo. E nós queríamos crianças maiores porque sempre soubemos que estas são as que mais precisam", explicou o pai de Eric e Guilherme. "Ao contrário do que muita gente acha, as crianças maiores não dão trabalho", afirmou.

Eliã contou que a adaptação foi tranquila. "Foi engraçado que quando o Eric chegou, ele falava "tio". Aí o Guilherme disse: "Que tio o quê? É pai!". E a partir daí, ele passou só a me chamar de pai", relatou.

Foi aí que o amor nasceu e os pais puderam dar a educação e a criação que todas as crianças merecem. "Com o Guilherme foi mais fácil, porque ele era pequeno. Já o Eric estava com o estudo um pouco defasado e nós o colocamos no reforço. Além disso, eu tentava me policiar, porque como professor e pai, me via na obrigação de ensiná-lo o tempo todo. Mas agora está tudo certo", contou.

Com os estudos em dia, o paizão não esconde o orgulho de ver o filho dando seus primeiros passos sozinho. "Uma criança que na infância sofreu tantas derrotas, não sei se esse é o termo certo, agora está conquistando a primeira vitória. Estamos todos muito felizes. O duro vai ser aguentar a saudade, mas, se não der certo, ele volta e nós estaremos de braços abertos para recebê-lo", falou Eliã, que vai acompanhar o Eric na viagem, junto com a mulher e o outro filho.

Eric não esconde o entusiasmo. "Estou muito ansioso. Nunca andei de avião. Sei que vai ser uma grande oportunidade", falou o garoto, que usa cabelo moicano de Neymar.

E caso a conta bancária fique igual ao do craque da seleção brasileira, Eric já sabe como presentear o pai. "O dinheiro vai ficar com ele, ué. Ele que vai escolher o que fazer com ele. Sou muito grato", disse, deixando os olhos do paizão cheio de lágrimas.

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