Esdras Felipe Pereira
Uma semana após o acidente que matou seis jovens, os pais de Amanda Oliveira Alquati não se conformam com trágico destino da filha
Irineu e Regina Alquati, pais de Amanda, querem uma cerimônia para homenagear todos os jovens envolvidos no acidente do último dia 6 - Fábio Rogério
"Dá impressão que ela saiu e logo estará de volta para casa." Este é o sentimento dos pais de Amanda Oliveira Alquati, 17 anos, uma semana após a morte da garota. Foi uma das seis pessoas que morreram atropeladas no quilômetro 107,9 da rodovia Raposo Tavares (SP-270), em Sorocaba, no último domingo. Outras seis ficaram feridas na ocasião.
Para o comerciante Irineu Angelo Alquati e a agente social Regina Marta de Oliveira Alquati, pais da jovem, as lembranças do convívio com a adolescente permanecem na memória e os dias seguintes à tragédia têm sido um grande desafio. "Era uma garota extremamente alegre e cheia de vida. A gente não se conforma, não cai a ficha que perdemos nossa filha", frisa Irineu.
Segundo ele, a filha era responsável, tinha costume de comparecer em festas com o namorado e amigos, sempre passou confiança, sem nunca ter se envolvido em qualquer tipo de problema. Na véspera do acidente, recordou, a situação foi diferente. "Era sempre eu quem a levava e buscava das festas, mas dessa vez, ela preferiu ir e voltar de ônibus, pois estava reunida com o pessoal."
Telefonema e perda
O outro filho do casal, Diego Oliveira Alquati, 20, também foi à rave com os amigos, que não eram os mesmos de Amanda naquela madrugada e, por isso, o garoto se deslocou até a chácara com o carro do pai. Voltou para casa, no Jardim Tatiana, em Votorantim, em torno da 7h do domingo (dia 6). Então recebeu a notícia que alarmou a família. "Um número ligou no celular do meu filho, dizendo que a Amanda havia sido atropelada e encaminhada ao hospital", lembra Regina.
A partir daí, os pais buscaram por notícias com colegas da filha. Houve desencontro de informações. "De início pensamos que fosse trote. Mas depois ficamos preocupados e fomos até o hospital", diz a agente social. "Quando chegamos no Hospital Regional, vi de longe a bolsa da minha filha na calçada. Os parentes dos outros jovens estavam desesperados", detalha a mãe, que em seguida recebeu a notícia da perda de Amanda.
"A primeira coisa que a chefe da equipe de resgate perguntou foi: "quem é a mãe da Amanda?". Isso já me afundou. Ela pediu para irmos a uma sala reservada e disse que muitos adolescentes tinham se machucado, mas que Amanda não tinha vindo para o hospital." Regina, inicialmente, imaginou que a filha tinha sido transferida para outro hospital. "Perguntei onde minha filha estava e, nesse momento, a chefe do resgate me disse que a Amanda tinha sido uma das vítimas que morreram na hora", declara às lágrimas.
Desejo dos pais
O desejo momentâneo dos pais da menina de 17 anos é a realização de uma cerimônia para homenagear, não só Amanda, mas todos os jovens envolvidos no acidente do último dia 6. "Um grupo de pessoas veio até minha casa fazer oração, foi muito importante, mas podemos reunir as outras famílias para prestarmos homenagem a todos", comenta Regina. "Sou católica, mas cada uma das famílias deve ter sua religião, podemos realizar uma missa ou um culto, tanto faz, o que importa é saudarmos nossos entes queridos", acrescenta.
Pais de Amanda perdoam motorista
Apesar da dor pela perda da filha, Irineu Angelo Alquati e Regina Marta de Oliveira Alquati não condenam o comerciante Fábio Hiroshi Hattori, 27, que dirigia embriagado e teria dormido no volante da picape responsável por atropelar os 12 jovens. "Quanto ao moço que atropelou, já conversamos sobre isso. Em nosso coração ele está perdoado. Soubemos que ele está com o melhor advogado de Sorocaba, nós só temos um, que é Deus", esclarece Irineu.
Regina acredita que o acidente foi uma circunstância infeliz. Ela entende como uma fatalidade a presença de tantos jovens naquele local, justo no momento em que o motorista possivelmente dormiu. "Não poderia ter acontecido 10 metros antes ou depois dali? Por que justo lá?", questiona. "Minha filha já não tem mais volta, então quem somos nós para condenar esse rapaz?", questiona.
Vítima pretendia se tornar médica
A juventude é época de fazer planos e sonhar com o futuro profissional. Na vida de Amanda Oliveira Alquati isso não era diferente. Após terminar o ensino médio, a jovem iniciou o curso técnico de enfermagem há dois meses, porém, seu maior objetivo era cursar Medicina. A jovem também começaria a trabalhar nesta semana. "Ela ingressaria na parte administrativa da Santa Casa, estava muito feliz, mas, infelizmente, o sonho dela acabou", diz a mãe dela, Regina Alquati.
A agente social recordou da boa influência que o namorado da filha - Iven Matheus Silva, que sobreviveu ao atropelamento - transmitia a Amanda, principalmente quanto às questões na área da saúde, combinadas a aspectos sociais. "Menino trabalhador, que durante os finais de semana animava as crianças do hospital do câncer. A Amanda se empolgou com os relatos dele e também iria fazer esse trabalho. Eu brincava que ela seria a palhacinha e ele o palhacinho", orgulha-se.
Irmão sobreviveu a acidente grave na Cachoeira da Chave
Diego Oliveira Alquati, irmão de Amanda, foi vítima de acidente em 2011
A família Alquati também viveu um drama no ano de 2011. Isso porque o outro filho do casal, Diego Oliveira Alquati, 20 anos, sofreu acidente grave na Cachoeira da Chave, em Votorantim. O rapaz caiu de uma altura de aproximadamente 10 metros e bateu a cabeça em uma pedra, que estava submersa. "Ele ficou em estado gravíssimo durante 20 dias no Hospital Regional. Entrou em coma, quebrou o fêmur e também o quadril. Os médicos diziam que caso se recuperasse ele ficaria o resto da vida em uma cama", recorda o pai dele, Irineu Alquati.
Atualmente, Diego está recuperado do acidente e trabalha como operador de balança em uma empresa de Sorocaba. "Fico pensando: se Deus deu uma nova chance para o Diego, por que a Amanda também não ganhou uma nova oportunidade?", lamenta a mãe dos dois irmão, Regina Alquati. (Supervisão: Eduardo Santinon)
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