quarta-feira, 30 de abril de 2014

Coletivo Cê é contemplado com Prêmio CPT

Jornal Cruzeiro do Sul
Juliana Simonetti


Grupo de Votorantim venceu na categoria melhor espetáculo do interior e litoral paulista com a peça "Desmedida" 


 A peça "Desmedida" foi apresentada nas ruas do Bairro da Chave em Votorantim de agosto a novembro de 2013 - DIVULGAÇÃO / TATIANA PLENS



O Coletivo Cê comemorou na noite da última segunda-feira, na Funarte em São Paulo, uma conquista importante em sua trajetória: o grupo de Votorantim foi contemplado com o prêmio da Cooperativa Paulista de Teatro (CPT) 2013 na categoria "Melhor trabalho apresentado no interior e litoral paulista: em sala convencional, rua ou espaço não convencional" pela peça Desmedida. O coletivo concorria na categoria com outros dois representantes de Sorocaba: o grupo Trança de Teatro, com o espetáculo No voo do instante, e o palhaço Fusquinha de Porta Aberta, com a montagem Ôtôvinu; além das peças O velório, do grupo Teatro da Neura (Suzano), Notícias para embrulhar peixe, do Circo Navegador (São Sebastião), e Essa partida não será televisionada, da Cia. do Elefante (Santos).

A peça Desmedida foi apresentada nas ruas do Bairro da Chave em Votorantim de agosto a novembro de 2013 e é intimamente ligada à história do local. A montagem narra a formação de uma sociedade em dois atos. O primeiro com a chegada dos imigrantes até o ano de 1982, quando uma enchente atingiu o bairro, levando vidas e memórias dos moradores. No segundo, é retratada a saída da fábrica Votorantim do bairro e as mudanças que ocorreram até o momento atual. O público da peça acompanha essa história caminhando pelas ruas e as casas dos moradores do local se transformam em cenário e até mesmo palco na montagem.

O diretor de Desmedida, Júlio Mello, ressaltou a importância do envolvimento de toda a equipe do espetáculo, bem como o envolvimento dos moradores do Bairro da Chave em todo o processo que envolveu a montagem. "É um trabalho feito a muitas mãos, cheio de felicidade e grandes encontros. Porque é disso que nosso teatro é feito, de encontros, de olhos nos olhos, de partilha (...). Com toda verdade que nos cabe queremos agradecer aos nossos parceiros-amigos-irmãos, agradecer aos nossos que se desdobraram pra fazer o sonho possível e, principalmente, essencialmente, ao Bairro da Chave e a todos os seus moradores", postou em seu facebook.

Ao Mais Cruzeiro, Júlio também ressaltou a relevância do prêmio no currículo do Coletivo Cê. "Esse é nosso primeiro prêmio. O prêmio CPT compreende uma grande parte dos trabalhadores da arte do Estado de São Paulo. Portanto é de uma certa forma o reconhecimento do nosso trabalho pelos artistas paulistas. Estamos felizes pelo reconhecimento, mas também pela valorização que um prêmio como esse pode acrescentar ao nosso currículo no esforço de alcançar outros editais", frisou.

O ator Hércules Soares aproveitou para lembrar que o grupo Katharsis, de Sorocaba, foi premiado na mesma categoria no Prêmio CPT 2009. "É um grupo que a gente se identifica, pois também é um grupo de pesquisa teatral", ressaltou Hércules.

Para quem ainda não viu Desmedida, Hércules adianta que o grupo está revisitando a peça e que existe a possibilidade de o espetáculo voltar em cartaz no início do ano que vem, mas, como o ator faz questão de frisar, a montagem não voltará a mesma. "Os ensaios de Desmedida voltam a acontecer neste domingo e a ideia é de a gente rediscutir a peça, revisitá-la mesmo, trazer novos questionamentos que foram surgindo ao longo do tempo. Repensar ideias, pois a gente sempre está dialogando com as nossas urgências", explica o ator.

O diretor Júlio diz que os próprios moradores do bairro da Chave, além de muitas outras pessoas, cobram o retorno desse espetáculo, "afinal foram dois anos de processo e apenas três meses de apresentação". "Acredito, apesar de ainda não termos nos encontrado todos após a premiação, que este reconhecimento é um grande estímulo pra retornarmos com o trabalho. Dá um gás", frisou Júlio.

Como trata-se de uma montagem bastante complexa, que envolve muita gente, é preciso uma orquestração bastante delicada para a viabilidade do projeto. Hércules não descarta a possibilidade de Desmedida ser apresentada em outros locais que não o Bairro da Chave, mas diz que até mesmo essas questões serão solucionadas ao longo desse processo de revisitação à peça.

Além do novo mergulho em Desmedida, o Coletivo Cê segue em um processo intenso com as pesquisas do projeto Cunhã-antã (mulher guerreira em tupi), que tem incentivo do Programa de Ação Cultural de São Paulo (Proac). O projeto terá como resultado uma peça (ainda sem nome) que, de alguma forma, é um desdobramento de Desmedida e que dessa vez se debruça no papel da mulher operária. A nova peça tem previsão de estreia em setembro e terá uma equipe mais reduzida - o elenco será composto por apenas duas atrizes - o que, aponta Hércules, possibilitará uma mobilidade maior para o Coletivo Cê, que poderá circular com mais facilidade com esse trabalho.

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