Jornal Cruzeiro do Sul
Wilson Gonçalves Júnior
José Antonio Rosa
Ação foi pacífica e a sugestão é trocar por Av. dos Vanguardeiros
Manifestantes colaram adesivos nas placas com sugestão de novo nome para a avenida 31 de Março - Aldo V. Silva
O nome 31 de Março foi encoberto em
diversas placas existentes na principal avenida de Votorantim, em
protesto realizado por um grupo de dez estudantes, na tarde de ontem -
dia em que foi lembrado os 50 anos do golpe militar. O texto da lei que
deu nome à avenida, em 1971, de autoria do ex-prefeito Luiz do Patrocino
Fernandes, diz que toda placa indicativa deveria conter os seguintes
dizeres: "Movimento Revolucionário de 1964". A manifestação de ontem foi
pacífica, com acompanhamento da Polícia Militar e da Guarda Civil
Municipal (GCM) e os jovens gritaram palavras de ordem contra o golpe.
"64 não é revolução. Não à ditadura e a ditadura não!"
O estudante Gabriel Soares, da União da Juventude Socialista (UJS),
disse que o evento de serviu para conscientizar a população e também os
comerciantes, com panfletagem, megafone e faixas. Foram feitas, segundo
ele, intervenções visuais, com a colocação de adesivos com o nome de
avenida dos Vanguardeiros no lugar do nome 31 de Março.
Soares declarou ainda que as ruas no Brasil recebem os nomes de pessoas
ou datas como forma de homenagem e que a situação da avenida 31 de Março
é totalmente diferente do que ocorre na Europa, por exemplo. Na
Alemanha, os campos de concentração foram transformados em museus como
forma de garantir que as memórias do holocausto não caiam no
esquecimento. "Colocar a data do golpe militar numa rua, a gente acaba
homenageando o golpe militar. Tem que lembrar, só que não homenageando."
O funcionário de uma loja da avenida 31 de Março, Luís Antônio Vieira,
que recebeu panfleto dos estudantes, não concorda com a mudança do nome
da avenida. Para ele, o votorantinense já se acostumou com o nome.
"Desde que me conheço por gente tem esse nome e tem que manter a
tradição."
O morador da avenida, que também recebeu o panfleto, Luís Antônio Alves,
não só concorda com a homenagem, como também prefere o militarismo. "A
gente não acredita em mais nada como esta política de hoje em dia.
Naquela época a lei era mais sincera e por isso existia ordem."
O grupo seguiu depois até a Câmara de Votorantim para conversar com os
vereadores, com a intenção de forçar um posicionamento dos parlamentares
sobre a mudança do nome. Em matéria publicada ontem, no jornal Cruzeiro
do Sul, comerciantes tradicionais de Votorantim se colocaram contrários
à mudança do nome da avenida. Para eles, a alteração só traria
problemas burocráticos em relação à documentação e também vai onerar os
comerciantes.
Em Sorocaba
A passagem dos 50 anos do golpe militar foi lembrada em três eventos
organizados ontem em Sorocaba. No Sindicato dos Metalúrgicos, resultado
de parceria do projeto "Café e Educação", teve lugar "1964: 50 anos se
passaram, mas suas marcas permanecem".
O encontro, mediado pela jornalista Fernanda Ikedo, reuniu o professor
de História e torturado Miguel Trujillo e o militante e ferroviário
Francisco Gomes. Ambos fizeram relatos de suas vivências e históricos,
destacando a importância de que o tema seja discutido até como forma de
evitar o risco de que práticas como as que marcaram o país entre os anos
60 e 80 se repitam.
No câmpus local da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), os
alunos assistiram à palestra "O Golpe: Conjuntura e decorrências". A
atividade fez parte do ciclo "50 anos do Golpe Militar 1964-2014". Na
Faculdade de Direito, o Centro Acadêmico Rubino de Oliveira, realizou o
evento "Anos de Chumbo: 50 anos de um Golpe".
Para hoje, estão programadas duas atividades, ambas organizados pelo
Psol. Às 18h, na Pça. Alexandre Vannucchi Leme será prestada homenagem
aos mortos, torturados e desaparecidos vítimas do regime militar. Será,
também, destacada a participação dos que lutaram contra a ditadura, com
as presenças da ex-deputada federal e pré-candidata do partido à
vice-presidência, Luciana Genro, Raul Marcelo e Osvaldo Noce.
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