Jornal Cruzeiro do Sul
Maíra Fernandes
Daniel Caldini e Renato Bellini falam sobre o musical que tem gerado polêmicas. Espetáculo fica em cartaz até junho em São Paulo
O enredo do espetáculo versa sobre os últimos dias de vida de Jesus - Divulgação
Foi por acaso que o musical Jesus Cristo
Superstar, que aproxima a figura de Jesus e seu carisma a de um astro do
rock em ascensão, estreou em plena quaresma cristã. Também por
coincidência, a montagem do diretor Jorge Takla da clássica ópera-rock
escrita por Andrew Lloyd Webber e Tim Rice na década de 1970, e que
inflamou o ânimo de movimentos religiosos, juntou no palco dois
conterrâneos e amigos de infância, os atores votorantineses Daniel
Caldini e Renato Bellini.
Eles, que têm até histórias parecidas, saíram de Votorantim para se
aprimorarem nas artes na Capital, acabaram caindo nas graças das
produções de musicais e já dividiram o palco no Musical dos musicais, do
diretor Wolf Maia. Porém, o reencontro em uma montagem que tem atraído
tanto o público quanto a imprensa, tanto pela contemporaneidade da
releitura brasileira do espetáculo (mais rock and roll do que a
original), como pelas manifestações contrárias de grupos religiosos, é
comemorada pelos conterrâneos. "Encontrar Daniel Caldini foi uma grata
surpresa, pois ele não é só meu conterrâneo, mas meu amigo de infância,
nós crescemos juntos, moramos na mesma rua e eu estudei na escola
infantil da mãe dele. Me sinto em casa por estar ao lado dele no palco,
ele é um artista muito talentoso e uma pessoa maravilhosa, daquelas que
você pode confiar", elogia Renato, que na montagem - onde os personagens
principais são interpretados pelos atores Igor Rickli (Jesus Cristo),
Alírio Netto (Judas Iscariotes), Negra Li (Maria Madalena) e Wellington
Nogueira (Heródes) - participa do coro, interpreta o apóstolo São Judas
Tadeu e também substitui Wellington Nogueira, para ele, uma das maiores
responsabilidades.
Já Daniel destaca seus papéis de vilania no espetáculo. "Eu faço vilões,
sou um dos judeus que era contra Jesus e queria acabar com ele, pois
temia que tomasse conta do território. No segundo ato, faço um dos
guardas e sou eu que crucifico Jesus, eu dou chicotadas nele", conta.
Protestos
O enredo do espetáculo versa sobre os últimos dias de vida de Jesus,
conforme o que consta na Bíblia. Esta montagem, como a peça original,
aborda desde a chegada de Jesus a Jerusalém até sua crucificação. Também
mantém as estruturas das canções originais, mas com uma pegada mais
rock and roll do que a versão tradicional.
E é considerando o enredo, baseado na própria Bíblia, que ambos atores
não entenderam os protestos de alguns grupos religiosos contra o
espetáculo. "Estão tendo manifestações contra a montagem. Semana passada
estavam na frente do teatro, fazendo orações, mas não tem nada disso do
que estão falando. O espetáculo é muito bonito, moderno, uma montagem
mais rock and roll, atual, mas que conta, realmente, a história de
Jesus", garante Daniel.
O ator Renato Bellini, que afirma sua formação cristã, conta que ficou
impressionado quando esses movimentos começaram, "pois na minha opinião a
peça só eleva e engrandece a trajetória de Cristo, não vejo nenhuma
blasfêmia. Fui criado dentro da Igreja Católica, acho que a obra nos
aproxima e renova as energias sobre essa história", defende.
Na avaliação dos dois, esses protestos têm seus prós e contras, pois
tanto chamam a atenção para o espetáculo, por curiosidade, como também
afastam aqueles que têm receio de ir a um ambiente com esse tipo de
tensão.
Das artes
Com experiência em musicais, os atores contam que ficaram encantados com
o roteiro e com a proposta do diretor para esse clássico. A ideia de
trazer a peça original dos anos 1970 e toda a atmosfera mais hippie para
a contemporaneidade, com um Jesus de calça jeans e com muito rock,
agradou a ambos. Daniel, que assistiu ao filme produzido entre o final
de 1970 e uma montagem em Londres, elogia o diretor pela releitura.
"Está maravilhosa! Contemporânea." O elogio é endossado por Renato. "É
uma peça muito conhecida , eu já tinha estudado algumas músicas deste
musical, mas sem conhecer a obra toda. Quando fiquei sabendo da possível
montagem aqui no Brasil, fui dar uma olhada na partitura toda e percebi
que, por se tratar de uma ópera-rock, com a tessitura bem flexível, eu
poderia de alguma forma me encaixar no perfil. A história de Jesus
Cristo me encanta desde criança , tenho uma educação cristã, cresci
dentro da igreja, cantei a vida toda na missa e falar sobre isso me
encanta muito", defende Renato que, com essa montagem, soma seu nono
musical. Em sua trajetória estão: O Musical dos musicais, Disney 100
anos de magia, Sweet Charity, A gaiola das loucas, Cabaret, entre
outras.
O conterrâneo Daniel também acumula em sua carreira trabalhos em
montagens emblemáticas como O Musical dos musicais, West Side Story,
Evita, Priscila - a rainha do deserto. "Sempre gostei de artes, de
dançar, atuar, aí quando estava no colégio queria vir para São Paulo pra
estudar teatro. Na época, meu pai pediu ao Paulo Betti uma indicação, e
ele falou da escola do Ewerton de Castro", conta Daniel sobre o início
da sua profissionalização. Depois de anos indo e vindo da Capital para o
interior, acabou mudando para lá em 2003.
A história do amigo Renato não é diferente. O ator também não lembra um
momento na vida em que a arte não fosse o foco do seu interesse. "Desde
criança eu fazia minhas próprias apresentações para minha família e era
muito incentivado. Comecei aos sete anos estudar piano por incentivo de
minha avó e dali em diante só fui somando habilidades. Fui estudar balé,
canto e teatro. Estudei em Sorocaba com a minha amada e mestra Mônica
Minelli e Graça Girardi a arte da dança , estudei piano e canto lírico
no Conservatório de Tatuí e teatro mesmo fui estudar em São Paulo, mais
tarde", recorda ele que, depois de dois anos entre São Paulo e
Votorantin, resolveu ficar na Capital. "Eu tinha uma certa estabilidade
no mercado musical de Votorantim e Sorocaba, cantando em casamentos e na
noite, mas resolvi tentar a sorte aqui em São Paulo. Votorantim é meu
porto seguro, lá está minha família, meus grandes amigos, minha
história."
Serviço
O espetáculo ficará em cartaz no Teatro do Completo Ohtake Cultural até o
dia 8 de junho, às quintas e sextas-feiras, às 21h, aos sábados, às 17h
e 21h, e domingo às 18h. A entrada varia de R$ 25 a R$ 230. A
classificação é livre e o Teatro do Complexo Ohtake Cultural na Rua dos
Coropés, 88, em Pinheiros. O espetáculo tem duração de 130 minutos
divididos em dois atos (com intervalo de 15 minutos).
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