domingo, 6 de abril de 2014

Votorantinenses marcam presença em 'Jesus Cristo Superstar'

Jornal Cruzeiro do Sul
Maíra Fernandes

Daniel Caldini e Renato Bellini falam sobre o musical que tem gerado polêmicas. Espetáculo fica em cartaz até junho em São Paulo


O enredo do espetáculo versa sobre os últimos dias de vida de Jesus - Divulgação



Foi por acaso que o musical Jesus Cristo Superstar, que aproxima a figura de Jesus e seu carisma a de um astro do rock em ascensão, estreou em plena quaresma cristã. Também por coincidência, a montagem do diretor Jorge Takla da clássica ópera-rock escrita por Andrew Lloyd Webber e Tim Rice na década de 1970, e que inflamou o ânimo de movimentos religiosos, juntou no palco dois conterrâneos e amigos de infância, os atores votorantineses Daniel Caldini e Renato Bellini.

Eles, que têm até histórias parecidas, saíram de Votorantim para se aprimorarem nas artes na Capital, acabaram caindo nas graças das produções de musicais e já dividiram o palco no Musical dos musicais, do diretor Wolf Maia. Porém, o reencontro em uma montagem que tem atraído tanto o público quanto a imprensa, tanto pela contemporaneidade da releitura brasileira do espetáculo (mais rock and roll do que a original), como pelas manifestações contrárias de grupos religiosos, é comemorada pelos conterrâneos. "Encontrar Daniel Caldini foi uma grata surpresa, pois ele não é só meu conterrâneo, mas meu amigo de infância, nós crescemos juntos, moramos na mesma rua e eu estudei na escola infantil da mãe dele. Me sinto em casa por estar ao lado dele no palco, ele é um artista muito talentoso e uma pessoa maravilhosa, daquelas que você pode confiar", elogia Renato, que na montagem - onde os personagens principais são interpretados pelos atores Igor Rickli (Jesus Cristo), Alírio Netto (Judas Iscariotes), Negra Li (Maria Madalena) e Wellington Nogueira (Heródes) - participa do coro, interpreta o apóstolo São Judas Tadeu e também substitui Wellington Nogueira, para ele, uma das maiores responsabilidades.

Já Daniel destaca seus papéis de vilania no espetáculo. "Eu faço vilões, sou um dos judeus que era contra Jesus e queria acabar com ele, pois temia que tomasse conta do território. No segundo ato, faço um dos guardas e sou eu que crucifico Jesus, eu dou chicotadas nele", conta.

Protestos

O enredo do espetáculo versa sobre os últimos dias de vida de Jesus, conforme o que consta na Bíblia. Esta montagem, como a peça original, aborda desde a chegada de Jesus a Jerusalém até sua crucificação. Também mantém as estruturas das canções originais, mas com uma pegada mais rock and roll do que a versão tradicional.

E é considerando o enredo, baseado na própria Bíblia, que ambos atores não entenderam os protestos de alguns grupos religiosos contra o espetáculo. "Estão tendo manifestações contra a montagem. Semana passada estavam na frente do teatro, fazendo orações, mas não tem nada disso do que estão falando. O espetáculo é muito bonito, moderno, uma montagem mais rock and roll, atual, mas que conta, realmente, a história de Jesus", garante Daniel.

O ator Renato Bellini, que afirma sua formação cristã, conta que ficou impressionado quando esses movimentos começaram, "pois na minha opinião a peça só eleva e engrandece a trajetória de Cristo, não vejo nenhuma blasfêmia. Fui criado dentro da Igreja Católica, acho que a obra nos aproxima e renova as energias sobre essa história", defende.

Na avaliação dos dois, esses protestos têm seus prós e contras, pois tanto chamam a atenção para o espetáculo, por curiosidade, como também afastam aqueles que têm receio de ir a um ambiente com esse tipo de tensão.

Das artes

Com experiência em musicais, os atores contam que ficaram encantados com o roteiro e com a proposta do diretor para esse clássico. A ideia de trazer a peça original dos anos 1970 e toda a atmosfera mais hippie para a contemporaneidade, com um Jesus de calça jeans e com muito rock, agradou a ambos. Daniel, que assistiu ao filme produzido entre o final de 1970 e uma montagem em Londres, elogia o diretor pela releitura. "Está maravilhosa! Contemporânea." O elogio é endossado por Renato. "É uma peça muito conhecida , eu já tinha estudado algumas músicas deste musical, mas sem conhecer a obra toda. Quando fiquei sabendo da possível montagem aqui no Brasil, fui dar uma olhada na partitura toda e percebi que, por se tratar de uma ópera-rock, com a tessitura bem flexível, eu poderia de alguma forma me encaixar no perfil. A história de Jesus Cristo me encanta desde criança , tenho uma educação cristã, cresci dentro da igreja, cantei a vida toda na missa e falar sobre isso me encanta muito", defende Renato que, com essa montagem, soma seu nono musical. Em sua trajetória estão: O Musical dos musicais, Disney 100 anos de magia, Sweet Charity, A gaiola das loucas, Cabaret, entre outras.

O conterrâneo Daniel também acumula em sua carreira trabalhos em montagens emblemáticas como O Musical dos musicais, West Side Story, Evita, Priscila - a rainha do deserto. "Sempre gostei de artes, de dançar, atuar, aí quando estava no colégio queria vir para São Paulo pra estudar teatro. Na época, meu pai pediu ao Paulo Betti uma indicação, e ele falou da escola do Ewerton de Castro", conta Daniel sobre o início da sua profissionalização. Depois de anos indo e vindo da Capital para o interior, acabou mudando para lá em 2003.

A história do amigo Renato não é diferente. O ator também não lembra um momento na vida em que a arte não fosse o foco do seu interesse. "Desde criança eu fazia minhas próprias apresentações para minha família e era muito incentivado. Comecei aos sete anos estudar piano por incentivo de minha avó e dali em diante só fui somando habilidades. Fui estudar balé, canto e teatro. Estudei em Sorocaba com a minha amada e mestra Mônica Minelli e Graça Girardi a arte da dança , estudei piano e canto lírico no Conservatório de Tatuí e teatro mesmo fui estudar em São Paulo, mais tarde", recorda ele que, depois de dois anos entre São Paulo e Votorantin, resolveu ficar na Capital. "Eu tinha uma certa estabilidade no mercado musical de Votorantim e Sorocaba, cantando em casamentos e na noite, mas resolvi tentar a sorte aqui em São Paulo. Votorantim é meu porto seguro, lá está minha família, meus grandes amigos, minha história."

Serviço

O espetáculo ficará em cartaz no Teatro do Completo Ohtake Cultural até o dia 8 de junho, às quintas e sextas-feiras, às 21h, aos sábados, às 17h e 21h, e domingo às 18h. A entrada varia de R$ 25 a R$ 230. A classificação é livre e o Teatro do Complexo Ohtake Cultural na Rua dos Coropés, 88, em Pinheiros. O espetáculo tem duração de 130 minutos divididos em dois atos (com intervalo de 15 minutos).
 

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