domingo, 18 de maio de 2014

Usuários reclamam da qualidade do transporte especial


 Notícia publicada na edição de 17/05/14 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 006 do caderno A

 Janaína e a mãe Patrícia Gomes usam o transporte às quartas e sextas - ERICK PINHEIRO

Portadora de paralisia cerebral e moradora de Votorantim, Janaína Gomes Izaías Conceição, de 22 anos, não quer mais fazer sua equoterapia e sessões de fisioterapia semanais, realizadas em Sorocaba e que tão importantes são para melhora de sua qualidade de vida e desenvolvimento. O motivo principal tem sido o cansaço, propiciado pelas longas viagens feitas dentro do ônibus do transporte especial da prefeitura de Votorantim. Devido ao aumento da demanda de pacientes, a falta de triagem, a escassez de veículos para o transporte e uma logística pouco eficiente, os pacientes têm feito um verdadeiro "tour" por Votorantim, circulando por diversos bairros, antes de chegarem aos locais de exames e consultas em Sorocaba.
A mãe de Janaína Gomes Izaías Conceição, Patrícia Gomes Izaías Conceição, disse que a filha estava ansiosa anteontem para dar entrevista para o jornal Cruzeiro do Sul. "É do interesse dela né, então ela queria falar", explicou a mãe.
Segundo ela, a ansiedade de Janaína pode ser explicada pelo calvário que as duas têm enfrentado todas as quartas e sextas-feiras, quando saem de casa, por volta da 13h30, para uma consulta marcada às 16h15. Segundo elas, que moram no Vossoroca e geralmente são as primeiras a embarcar, os ônibus do transporte especial passam por vários bairros, como Jardim Serrano, Parque Jataí e Itapeva, antes de seguir para o destino, num centro de equoterapia, em Brigadeiro Tobias ou numa clínica, no Alto da Boa Vista, ambos em Sorocaba. Na volta para casa, a espera também é grande. "Muitas vezes ela nem quer montar lá, já que chega cansada lá em Sorocaba. Ela tá cansada dessa vida de depender de transporte e eles nunca se importaram com ela. Né, Jana?", a mãe perguntou a filha. A filha concordou e acrescentou que realmente está faltando carro para fazer o transporte especial.
Patrícia disse que não é feito uma logística apropriada e que os pacientes ocupantes do mesmo veículo deveriam ser escolhidos por bairros, com a intenção de garantir mais agilidade e impedir que o carro fique rodando muito para chegar em Sorocaba.
O mesmo problema tem enfrentado também Silvana Aparecido Paes e a filha Livia Lauren Paes da Silva, de 12 anos. A jovem, que tem síndrome de West - tipo raro de epilepsia -, também tem sofrido com as constantes demora do veículo especial. Segundo Silvana Paes, a filha precisa comer alimentos pastosos e também utiliza fraldas para as necessidades fisiológicas, situações que ficam agravadas quando se passa muito tempo longe de casa. "Ela não pode comer uma coxinha por exemplo, quando vamos no Hospital Regional, já que ela pode engasgar. Além do que, não é em todo lugar que tem trocador para fralda. Aí, quando a gente precisa, vai na cara de pau e pede favor as outras pessoas. Só que a fralda já vazou muitas vezes a você fica naquela situação, com o coração apertado vendo o sofrimento do filho".
Silvana acrescentou ainda que a filha também tem convulsões e ficar esperando por um transporte por duas até três horas também é um complicador. Situação também enfrentada por Janaína e Lívia também é vivenciada por Rafael Azevedo, de 16 anos, que tem paralisia cerebral. Sua acompanhante, a mãe Eva Batista Lopes Azevedo, informou que o filho já perdeu sessões de fisioterapia ou terapia ocupacional, devido o atraso nas consultas motivado. Ela também relatou toda dificuldade encontrada por eles e acrescentou que muitas vezes preferiu pegar o ônibus de linha, em vez de esperar o transporte oferecido pelo município. "A gente cansa de esperar, por até 3 horas e na maioria das vezes tenho voltado de ônibus mesmo. Por incrível que pareça é mais rápido. Só que cansa, porque ele é pesado e não é fácil segurar a cadeira."
Eva disse que por diversas vezes, tanto na ida como na volta, teve que viajar segurando a cadeira de rodas do filho, tendo em vista que o transporte oferecido pela prefeitura tinha apenas um lugar adaptado para cadeiras de rodas e, justamente naquela viagem, o único espaço estava ocupado. "Tive que me arriscar, não podíamos perder a consulta. Só que isso já aconteceu na volta também", explicou.
A paciente Regina Bernadete Abbad, de 53 anos, também precisa do veículo da prefeitura para suas sessões de fisioterapia. Ela indicou que a situação piorou desde que o município terceirizou o serviço, hoje realizada pela empresa Auto Ônibus São João. Antes, afirmou ela, o transporte era feito pelo próprio município e era mais eficiente. Regina e todas as outras pacientes ouvidas informaram que a prefeitura possui um veículo utilitário, que antigamente era usado no transporte. Só que o carro quebrou e atualmente está encostado no pátio do Paço. "Podiam usar esse carro de apoio e continua lá largado."
Regina Abbad disse ainda que falta triagem por parte da prefeitura em apontar as pessoas que realmente necessitam do serviço e já observou que algumas pessoas que utilizam o transporte especial podem se locomover, diferentemente dos cadeirantes. Outro problema, identificado por ela, é que o mesmo transporte também é usado por quem passa por fisioterapia em Votorantim.

Após reunião, Secretaria de Saúde e empresa prestadora do serviço prometem melhorias 

 
Secretária de Saúde, Izilda Chizzotto de Moraes - ALDO V. SILVA


A secretária de Saúde de Votorantim, Izilda Chizzotto de Moraes e a empresa Auto Ônibus São João - prestadora de serviço - realizaram uma reunião na quarta-feira, após os questionamentos feitos pelo jornal Cruzeiro do Sul e prometeram melhorar o serviço de transporte especial no município. Entre as atitudes que serão tomadas a partir de agora, segundo nota da assessoria de imprensa, estão: o aumento do número de vagas para transporte de cadeirantes nos microônibus que atendem os transportes agendados para Sorocaba, a revisão de todos os veículos que realizam o transporte para verificação das reclamações de falta de equipamentos para fixação das cadeiras de rodas e a fixação de adesivo nos veículos com a identificação (Serviço Terceirizado de Transporte - Ouvidoria da Saúde - 3243-2619 - ramal 211) para possíveis sugestões e reclamações. Porém, entre as medidas tomadas, não foi mencionado pelo município, a inclusão de nenhum carro extra no transporte Sorocaba/Votorantim.

A prefeitura ainda contestou a informação passada por pacientes de que a demora do retorno é de três horas. Segundo o município, a espera média de retorno nos casos de transporte agendado é em torno de 1 hora, já que os veículos deixam os pacientes para atendimento e retornam a Votorantim para buscar os agendados para o horário seguinte. A nota comenta que o transporte é feito dentro do intervalo dos atendimentos e existem agendamentos com início às 6h até 19h. A prefeitura alega ainda que o trânsito nos horários de pico vem contribuindo com alguns atrasos, diante da dificuldade de locomoção.

A prefeitura acrescentou que existe um serviço de triagem para verificar a necessidade de uso do transporte especial e é avaliado, pelo setor de cadastro do usuário, a prioridade do atendimento de acordo com a patologia apresentada, levando em consideração não apenas a debilidade física e também a patológica.

Contrato

O contrato entre a São João e a prefeitura de Votorantim é de R$ 849.862,80 por ano e prevê o fornecimento de quatro viaturas para transporte de pacientes de Votorantim para Sorocaba e de Votorantim para São Paulo. Duas delas (microônibus) fazem o atendimento dos pacientes cadeirantes e não cadeirantes para consultas médicas e fisioterapia, Votorantim/Sorocaba; uma outra faz o transporte de pacientes para hemodiálise, quimioterapia e radioterapia e a quarta viatura faz as viagens até São Paulo.

De acordo com a prefeitura, o contrato atende diariamente (Votorantim/Sorocaba/Votorantim) 60 pacientes, sendo que 15 deles são cadeirantes para encaminhamento para consultas, fisioterapia e outras terapias.

A viatura utilitária, citada pelos pacientes, é da própria secretaria da Saúde e está passando por uma manutenção na rampa de acesso das cadeiras de rodas e depois deve voltar a rodar, no apoio aos cadeirantes, tão logo seja consertada. (W.G.J)

 

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