Notícia publicada na edição de 02/11/14 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 001 do caderno E
Giuliano Bonamim
Além de gerar a energia que abastece o complexo industrial da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), a represa é um importante manancial que garante água para sete municípios da região
Inaugurada oficialmente em 1914, a Usina Hidrelétrica de Itupararanga sempre foi envolvida por números grandiosos - dois mil funcionários tiveram que trabalhar na sua construção e, por conta da distância da cidade, foram viver com suas famílias no entorno da futura represa. Sua missão foi erguer um paredão de concreto com 415 metros de comprimento e 35 metros de altura, que foi capaz de criar um espelho d"água de 33 quilômetros quadrados. Geradores, turbinas e válvulas vieram do exterior para compôr a estrutura com capacidade total instalada de gerar 55 MWh (milhões de watts por hora).
Além de produzir energia para a fábrica de alumínio da Votorantim Metais, função do empreendimento até hoje, Itupararanga se tornou um importante manancial da região. Formada pelas águas dos rios Sorocaba e seus afluentes (Sorocamirim, Sorocabuçu e Una), a represa garante, hoje, grande parte do abastecimento de água de Sorocaba, Votorantim, Ibiúna, Alumínio, Piedade, Mairinque e São Roque. Isso é possível graças a uma capacidade total do reservatório estimada em 355 milhões de litros de água. Além de garantir energia e água, Itupararanga também usada como área de lazer e pesca.
Curiosamente, assim como na atual fase de falta de chuvas, que faz com que o nível do manancial esteja abaixo do esperado para a época do ano, a Usina Hidrelétrica de Itupararanga entrou em operação também numa época de grande estiagem.O ideal de produzir energia elétrica a partir da força de uma queda d"água do rio Sorocaba, chamada Itupararanga, localizada no território de Votorantim - até então distrito de Sorocaba - deu origem a uma das obras arquitetônicas mais importantes da região.
Há 100 anos é produzida energia na Usina Hidrelétrica de Itupararanga, cravada na mata fechada situada no Planalto Cristalino da serra de São Francisco, em Votorantim. No início, a eletricidade gerada era transferida para São Paulo, Sorocaba e São Roque, mas atualmente o único destino é a fábrica de Alumínio da Votorantim Metais. A produção anual é de 15 MWh (milhões de watts por hora), mas a capacidade instalada total é de 55 MW.
A inauguração oficial ocorreu em 26 de maio de 1914, com uma primeira unidade geradora de 10 MW. No mesmo ano entraram em operação a segunda e a terceira unidade, respectivamente, em 10 de junho e 22 de agosto. A quarta foi lançada somente em 8 de junho de 1925 e, dessa forma, a Usina de Itupararanga alcançou a capacidade total instalada de 55 MW.
Para gerar a energia foi preciso represar um trecho do rio Sorocaba. Dessa forma, um paredão de concreto com 415 metros de comprimento e 35 metros de altura foi erguido e criou um espelho d"água de 33 quilômetros quadrados. Após gerar energia em Itupararanga, a água represada é utilizada pelas pequenas centrais hidrelétricas da Santa Helena e da Votorantim. Na sequência do curso do rio, o líquido é usado para o abastecimento público de Sorocaba e região.
A ideia de construir a usina partiu da empresa de origem canadense The São Paulo Railway, Light & Power Co. Ltd., que possuía a concessão de iluminação pública e de bondes elétricos em terras paulistanas no início do século passado. Mas eles queriam mais. O objetivo era dar um passo ainda maior para ampliar a rede de serviços e a solução foi construir uma nova geradora de energia no Estado. O local escolhido foi a queda de Itupararanga, em Votorantim, então distrito de Sorocaba.
Em 3 de julho de 1913, os planos e as obras do complexo de geração e transmissão de energia foram aprovados pelo governo do Estado de São Paulo. A inauguração ocorreu em 26 de maio de 1914, em uma época de grande estiagem. O engenheiro norte-americano Frederick Stark Pearson foi chamado pela Light para avaliar a viabilidade de construir nova usina no Estado de São Paulo. Ele havia participado do desenvolvimento do sistema de transporte elétrico de Boston e, em 1894, foi nomeado engenheiro-chefe da rede metropolitana de ferrovias de Nova York. Além disso, também esteve à frente no desenvolvimento dos projetos de hidroelétricas dos Estados Unidos.
Pearson conheceu a Empresa de Eletricidade de Sorocaba, que abastecia a cidade e vendia energia para a Amosso & Bonini, distribuidor para São Roque. A fonte de abastecimento para os dois municípios era uma pequena hidroelétrica instalada no rio Sorocaba, que lançava suas águas acima de uma cachoeira de 80 metros de queda vertical.
Pearson obteve as opções de compra da Eletricidade de Sorocaba, além do salto e das terras no entorno das corredeiras, ambos pertencentes ao Banco União de São Paulo. Em seguida, em Toronto, Canadá, o engenheiro constituiu a The São Paulo Eletric Co. A empresa foi autorizada pelo governo federal a operar no Brasil e assumiu o compromisso de construir a Usina Itupararanga.
Para erguer a Usina Itupararanga e a sua imponente barragem foram mobilizados aproximadamente 2 mil operários, supervisionados por engenheiros americanos e ingleses. A obra ficava distante da cidade, sem a possibilidade de deslocamento por transporte coletivo, e por esse motivo foram construídas casas de alvenaria para receber os funcionários e suas famílias.
Uma das primeiras providências foi promover a extensão da estrada de ferro, para ligar Sorocaba a Votorantim, e uma ponte para aproximar ao máximo o vagão da Casa das Máquinas. Foi por meio do trem que chegaram todos os materiais usados e os pesados equipamentos. Os geradores, as turbinas, válvulas e o regulador de velocidade foram importados da Europa e dos Estados Unidos. Já a barragem, o túnel, o plano inclinado para instalação dos dutos, o prédio que abriga as máquinas, os galpões que servem de escritório e moradia para os trabalhadores foram erguidos pela força humana, com o auxílio apenas de carroças.
Segundo o engenheiro eletricista Gilberto Alcântara Barreto, gerente do Complexo Sorocaba, que abrange as Usinas Itupararanga, Santa Helena, Votorantim e Jurupará, os principais equipamentos Itupararanga são quatro geradores, turbinas e válvulas. Todo o material está abrigado na Casa das Máquinas. "O mais difícil numa hidrelétrica é a sua construção. Depois, é um empreendimento fácil de tratar e com custo relativamente baixo. Claro que isso depende de manutenção e operação adequadas", comenta, em um depoimento dado à publicação especial da Votorantim Energia sobre os 100 anos da usina.
As belezas naturais da região onde funciona a Usina de Itupararanga foram detalhadas numa expedição ocorrida há 111 anos. A campanha pelas matas de Votorantim, então vilarejo de Sorocaba, foi realizada onze anos antes da abertura da instalação usada para a produção de energia. O relato foi feito pelo jornalista Carlos Ruysecco e publicado no jornal Correio Paulistano de 6 de fevereiro de 1903. A ideia do passeio partiu do coronel Lacerda Franco, que mais tarde se tornaria senador. A caminhada teve também a presença do engenheiro Julio Micheli e objetivou conhecer de perto as jazidas minerais da região e a queda de Itupararanga.
Ruysecco não poupou adjetivos ao descrever as belezas da vegetação dos morros existentes entre o rio Sorocaba. "As orquídeas confundem-se agradavelmente com os troncos e às folhas de inúmeras qualidades de madeiras, como jaboticabeiras, ingás, embaúvas, cabreúvas, embiras, jataís, jequitibás e centenas de outras variedades que a rapidez da marcha não nos permitia notar."
Durante o percurso, o jornalista ouviu ruídos longínquos "de mau grado" enquanto caminhava pela mata virgem. Ele relatou não ter ficado com medo "com as cobras que nos estavam olhando do fundo dos seus buracos, nem com os sapos que nos olhavam com os grandes olhos redondos, nem com as lindas borboletas de asas de mil cores, nem com os pássaros que cantavam alegremente."
Segundo Ruysecco, a única preocupação era sair da floresta até chegar ao "ruído ensurdecedor". Quando o objetivo foi alcançado, o repórter viu a queda de Itupararanga "cujo volume de água é enorme". "Descrever aquele espetáculo, a grandeza daquele rio que se precipita de uma altura de 65 metros, e cujas águas caem embaixo com um rumor de trovão, é impossível", conta.
O trio permaneceu por algum tempo no local para observar a queda da água. No fim do texto, Ruysecco fez uma profecia. "Ficamos pensando na reserva de milhares de cavalos hidráulicos, 10 a 12 mil pelo menos, ali existentes, e o nosso pensamento naquele instante ia considerando a previdência da natureza, que tudo prevê e tudo provê, colocando ali juntas as minas e a força para explorá-las, como que para dizer ao homem: aqui está a riqueza, aqui está o grande futuro." O interessante é que, somente sete anos depois, foram iniciadas as primeiras negociações formais que culminam na inauguração da Usina Itupararanga.
Nessa mesma jornada pela região de Sorocaba, o repórter conheceu as jazidas de Itupararanga. Ele citou o volume de ardósia, uma rocha muito usada atualmente em pavimentos e fachadas. "As jazidas são, além de muito extensas, facilmente exploráveis, de boa qualidade e bastante variadas", diz.O repórter ficou tão entusiasmado que, meses depois, tornou-se um explorador das jazidas de ardósia, além de mármore, granito e cal pertencentes ao Banco União de São Paulo. Ele teve como sócios Attilio Lignini e Eurico Consolini.
Represa se tornou o mais importante manancial da região
A água represada em Itupararanga não ajuda somente a gerar energia elétrica, mas também é essencial para o abastecimento público de sete cidades da região. Aproximadamente um milhão de pessoas consomem o líquido diariamente para beber, tomar banho e lavar a louça nas cidades de Sorocaba, Alumínio, Ibiúna, Mairinque, Piedade e São Roque, Votorantim. A barragem forma um espelho d"água de 33 quilômetros quadrados e toda essa água acumulada ajuda na irrigação de áreas rurais às margens de Itupararanga. O espaço também gera renda com o turismo e atrai pescadores em busca de alimento.
A diretora do SOS Itupararanga, Viviane Oliveira, ressaltou que a represa é a principal fonte de abastecimento de Sorocaba e Votorantim. Por esse motivo, entidades de proteção envolvidas com o reservatório têm trabalhado para manter a qualidade da bacia. Segundo Viviane, os trabalhos visam melhorar o saneamento básico nos núcleos rurais, diminuir a poluição difusa e evitar as ocupações irregulares e clandestinas. "Sofremos com a falta de instrução dos produtores rurais com o manejo, com a pesca predatória, o desmatamento e as queimadas", diz.
A represa faz parte da Área de Proteção Ambiental (APA) de Itupararanga, criada por meio de uma lei estadual, que abrange 93.403,69 hectares nos municípios de Alumínio, Cotia, Ibiúna, Mairinque, Piedade, São Roque, Vargem Grande Paulista e Votorantim. Aproximadamente 2% desse espaço é ocupado pela represa Itupararanga.
Segundo dados do livro Biodiversidade na APA Itupararanga, publicado em 2011, na região há cerca de 360 espécies da flora e mais de 280 espécies de vertebrados terrestres - entre mamíferos, anfíbios, répteis, aves - e peixes. Há registros de animais ameaçados de extinção, como o lobo-guará, e de aves migratórias, que escolhem a região para construir ninhos e se alimentar.
A represa de Itupararanga é formada por quatro rios. Um deles é o Sorocabuçu, que nasce em Ibiúna, na região onde se localiza o bairro Verava. O outro é o Sorocamirim, cujas nascentes se localizam nos municípios de Ibiúna e Cotia. Ele recebe as águas dos córregos e rios de Vargem Grande Paulista e São Roque e deságua no rio Sorocabuçu.
O terceiro rio da lista é o Una, que nasce em Ibiúna e deságua no Sorocabuçu. Quem também ajuda a formar a represa é o rio Sorocaba, formado pelo Sorocamirim e Sorocabuçu. Na opinião do consultor ambiental Elzo Savella, ex-secretário do Meio Ambiente de Votorantim, essa barragem também ajudou no processo de industrialização da região. "Influenciou na região para a geração de emprego, pois era uma obra de grande porte na época", comenta.
Qando foi construída, a represa era considerada a maior da América do Sul e uma das sete maiores da América do Sul. "A vila de moradores tinha mais de 70 casas e esse fato comprova que a obra empregava muita gente."
1 - Barragem
As válvulas, com comando digital, liberam a água armazenada na barragem. Sempre que altera a geração, é preciso alterar a abertura das válvulas.
2 - Canal aberto
A água é liberada para um canal de 2.200 metros a céu aberto.
3 - Conduto
Após sair do canal, a água percorre mais 1.200 metros de túnel e conduto forçado até chegar à Casa das Máquinas.
4 - Turbina
Na turbina, a energia hidráulica é transformada em energia mecânica. O movimento da turbina faz movimentar um eixo, que movimenta ímãs. Esses imãs induzem eletricamente o estator (rolamento) do gerador.
5 - Regulador de velocidade
O regulador faz o controle da quantidade de água que passa pela turbina.
6 - Gerador
O gerador, acoplado à turbina, produz uma tensão e, ligada a essa tensão, tem uma carga de 6,9 KW.
7 - Subestação e linhas de transmissão
A carga de 6,9 KW gerada é transformada em 88 KW na subestação e transmitida para a fábrica da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), em Alumínio.
Fonte: Votorantim Energia
Danos nas turbinas - Choveu forte em 18 de janeiro de 1914. O temporal provocou a queda de uma parte do morro nas proximidades das obras da Light e da S. Paulo Eletric Company, em Itupararanga. O desabamento danificou por completo as turbinas e, como consequência, os estabelecimentos fabris não funcionaram.
O texto foi publicado no jornal O Estado de S. Paulo. Socorro médico - Uma pessoa morreu e cinco ficaram feridas durante a explosão de uma pedreira de aproximadamente 40 metros de altura, em Itupararanga. O acidente ocorreu em 18 de fevereiro de 1914 durante o processo de extração de pedras para a produção de cal. Os feridos foram socorridos pelo médico da Light e da S. Paulo Eletric Company.
Futuro presidente - Em 28 de agosto de 1915, o então prefeito de São Paulo, Washington Luís, esteve na Usina de Itupararanga. O convite partiu da diretoria da Light e da S. Paulo Eletric Company com o objetivo de mostrar as obras e instalações do local. A viagem foi feita de trem e o comboio deixou a capital paulista com vereadores, deputados, secretários municipais, militares e jornalistas. Onze anos depois, o ilustre convidado assumiria a presidência da República. A informação foi publicada no jornal Correio Paulistano.
Além de gerar a energia que abastece o complexo industrial da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), a represa é um importante manancial que garante água para sete municípios da região
Em 20 de janeiro de 1914 as obras seguiam a todo vapor para a construção do paredão de concreto - Divulgação Votorantim Energia
Inaugurada oficialmente em 1914, a Usina Hidrelétrica de Itupararanga sempre foi envolvida por números grandiosos - dois mil funcionários tiveram que trabalhar na sua construção e, por conta da distância da cidade, foram viver com suas famílias no entorno da futura represa. Sua missão foi erguer um paredão de concreto com 415 metros de comprimento e 35 metros de altura, que foi capaz de criar um espelho d"água de 33 quilômetros quadrados. Geradores, turbinas e válvulas vieram do exterior para compôr a estrutura com capacidade total instalada de gerar 55 MWh (milhões de watts por hora).
Além de produzir energia para a fábrica de alumínio da Votorantim Metais, função do empreendimento até hoje, Itupararanga se tornou um importante manancial da região. Formada pelas águas dos rios Sorocaba e seus afluentes (Sorocamirim, Sorocabuçu e Una), a represa garante, hoje, grande parte do abastecimento de água de Sorocaba, Votorantim, Ibiúna, Alumínio, Piedade, Mairinque e São Roque. Isso é possível graças a uma capacidade total do reservatório estimada em 355 milhões de litros de água. Além de garantir energia e água, Itupararanga também usada como área de lazer e pesca.
Curiosamente, assim como na atual fase de falta de chuvas, que faz com que o nível do manancial esteja abaixo do esperado para a época do ano, a Usina Hidrelétrica de Itupararanga entrou em operação também numa época de grande estiagem.O ideal de produzir energia elétrica a partir da força de uma queda d"água do rio Sorocaba, chamada Itupararanga, localizada no território de Votorantim - até então distrito de Sorocaba - deu origem a uma das obras arquitetônicas mais importantes da região.
Hidrelétrica de Itupararanga produz energia há um século
Há 100 anos é produzida energia na Usina Hidrelétrica de Itupararanga, cravada na mata fechada situada no Planalto Cristalino da serra de São Francisco, em Votorantim. No início, a eletricidade gerada era transferida para São Paulo, Sorocaba e São Roque, mas atualmente o único destino é a fábrica de Alumínio da Votorantim Metais. A produção anual é de 15 MWh (milhões de watts por hora), mas a capacidade instalada total é de 55 MW.
A inauguração oficial ocorreu em 26 de maio de 1914, com uma primeira unidade geradora de 10 MW. No mesmo ano entraram em operação a segunda e a terceira unidade, respectivamente, em 10 de junho e 22 de agosto. A quarta foi lançada somente em 8 de junho de 1925 e, dessa forma, a Usina de Itupararanga alcançou a capacidade total instalada de 55 MW.
Para gerar a energia foi preciso represar um trecho do rio Sorocaba. Dessa forma, um paredão de concreto com 415 metros de comprimento e 35 metros de altura foi erguido e criou um espelho d"água de 33 quilômetros quadrados. Após gerar energia em Itupararanga, a água represada é utilizada pelas pequenas centrais hidrelétricas da Santa Helena e da Votorantim. Na sequência do curso do rio, o líquido é usado para o abastecimento público de Sorocaba e região.
A ideia de construir a usina partiu da empresa de origem canadense The São Paulo Railway, Light & Power Co. Ltd., que possuía a concessão de iluminação pública e de bondes elétricos em terras paulistanas no início do século passado. Mas eles queriam mais. O objetivo era dar um passo ainda maior para ampliar a rede de serviços e a solução foi construir uma nova geradora de energia no Estado. O local escolhido foi a queda de Itupararanga, em Votorantim, então distrito de Sorocaba.
Em 3 de julho de 1913, os planos e as obras do complexo de geração e transmissão de energia foram aprovados pelo governo do Estado de São Paulo. A inauguração ocorreu em 26 de maio de 1914, em uma época de grande estiagem. O engenheiro norte-americano Frederick Stark Pearson foi chamado pela Light para avaliar a viabilidade de construir nova usina no Estado de São Paulo. Ele havia participado do desenvolvimento do sistema de transporte elétrico de Boston e, em 1894, foi nomeado engenheiro-chefe da rede metropolitana de ferrovias de Nova York. Além disso, também esteve à frente no desenvolvimento dos projetos de hidroelétricas dos Estados Unidos.
Pearson conheceu a Empresa de Eletricidade de Sorocaba, que abastecia a cidade e vendia energia para a Amosso & Bonini, distribuidor para São Roque. A fonte de abastecimento para os dois municípios era uma pequena hidroelétrica instalada no rio Sorocaba, que lançava suas águas acima de uma cachoeira de 80 metros de queda vertical.
Pearson obteve as opções de compra da Eletricidade de Sorocaba, além do salto e das terras no entorno das corredeiras, ambos pertencentes ao Banco União de São Paulo. Em seguida, em Toronto, Canadá, o engenheiro constituiu a The São Paulo Eletric Co. A empresa foi autorizada pelo governo federal a operar no Brasil e assumiu o compromisso de construir a Usina Itupararanga.
Para erguer a Usina Itupararanga e a sua imponente barragem foram mobilizados aproximadamente 2 mil operários, supervisionados por engenheiros americanos e ingleses. A obra ficava distante da cidade, sem a possibilidade de deslocamento por transporte coletivo, e por esse motivo foram construídas casas de alvenaria para receber os funcionários e suas famílias.
Uma das primeiras providências foi promover a extensão da estrada de ferro, para ligar Sorocaba a Votorantim, e uma ponte para aproximar ao máximo o vagão da Casa das Máquinas. Foi por meio do trem que chegaram todos os materiais usados e os pesados equipamentos. Os geradores, as turbinas, válvulas e o regulador de velocidade foram importados da Europa e dos Estados Unidos. Já a barragem, o túnel, o plano inclinado para instalação dos dutos, o prédio que abriga as máquinas, os galpões que servem de escritório e moradia para os trabalhadores foram erguidos pela força humana, com o auxílio apenas de carroças.
Segundo o engenheiro eletricista Gilberto Alcântara Barreto, gerente do Complexo Sorocaba, que abrange as Usinas Itupararanga, Santa Helena, Votorantim e Jurupará, os principais equipamentos Itupararanga são quatro geradores, turbinas e válvulas. Todo o material está abrigado na Casa das Máquinas. "O mais difícil numa hidrelétrica é a sua construção. Depois, é um empreendimento fácil de tratar e com custo relativamente baixo. Claro que isso depende de manutenção e operação adequadas", comenta, em um depoimento dado à publicação especial da Votorantim Energia sobre os 100 anos da usina.
Expedição explorou o local em 1903
As belezas naturais da região onde funciona a Usina de Itupararanga foram detalhadas numa expedição ocorrida há 111 anos. A campanha pelas matas de Votorantim, então vilarejo de Sorocaba, foi realizada onze anos antes da abertura da instalação usada para a produção de energia. O relato foi feito pelo jornalista Carlos Ruysecco e publicado no jornal Correio Paulistano de 6 de fevereiro de 1903. A ideia do passeio partiu do coronel Lacerda Franco, que mais tarde se tornaria senador. A caminhada teve também a presença do engenheiro Julio Micheli e objetivou conhecer de perto as jazidas minerais da região e a queda de Itupararanga.
Ruysecco não poupou adjetivos ao descrever as belezas da vegetação dos morros existentes entre o rio Sorocaba. "As orquídeas confundem-se agradavelmente com os troncos e às folhas de inúmeras qualidades de madeiras, como jaboticabeiras, ingás, embaúvas, cabreúvas, embiras, jataís, jequitibás e centenas de outras variedades que a rapidez da marcha não nos permitia notar."
Durante o percurso, o jornalista ouviu ruídos longínquos "de mau grado" enquanto caminhava pela mata virgem. Ele relatou não ter ficado com medo "com as cobras que nos estavam olhando do fundo dos seus buracos, nem com os sapos que nos olhavam com os grandes olhos redondos, nem com as lindas borboletas de asas de mil cores, nem com os pássaros que cantavam alegremente."
Segundo Ruysecco, a única preocupação era sair da floresta até chegar ao "ruído ensurdecedor". Quando o objetivo foi alcançado, o repórter viu a queda de Itupararanga "cujo volume de água é enorme". "Descrever aquele espetáculo, a grandeza daquele rio que se precipita de uma altura de 65 metros, e cujas águas caem embaixo com um rumor de trovão, é impossível", conta.
O trio permaneceu por algum tempo no local para observar a queda da água. No fim do texto, Ruysecco fez uma profecia. "Ficamos pensando na reserva de milhares de cavalos hidráulicos, 10 a 12 mil pelo menos, ali existentes, e o nosso pensamento naquele instante ia considerando a previdência da natureza, que tudo prevê e tudo provê, colocando ali juntas as minas e a força para explorá-las, como que para dizer ao homem: aqui está a riqueza, aqui está o grande futuro." O interessante é que, somente sete anos depois, foram iniciadas as primeiras negociações formais que culminam na inauguração da Usina Itupararanga.
Nessa mesma jornada pela região de Sorocaba, o repórter conheceu as jazidas de Itupararanga. Ele citou o volume de ardósia, uma rocha muito usada atualmente em pavimentos e fachadas. "As jazidas são, além de muito extensas, facilmente exploráveis, de boa qualidade e bastante variadas", diz.O repórter ficou tão entusiasmado que, meses depois, tornou-se um explorador das jazidas de ardósia, além de mármore, granito e cal pertencentes ao Banco União de São Paulo. Ele teve como sócios Attilio Lignini e Eurico Consolini.
Represa se tornou o mais importante manancial da região
A água represada em Itupararanga não ajuda somente a gerar energia elétrica, mas também é essencial para o abastecimento público de sete cidades da região. Aproximadamente um milhão de pessoas consomem o líquido diariamente para beber, tomar banho e lavar a louça nas cidades de Sorocaba, Alumínio, Ibiúna, Mairinque, Piedade e São Roque, Votorantim. A barragem forma um espelho d"água de 33 quilômetros quadrados e toda essa água acumulada ajuda na irrigação de áreas rurais às margens de Itupararanga. O espaço também gera renda com o turismo e atrai pescadores em busca de alimento.
A diretora do SOS Itupararanga, Viviane Oliveira, ressaltou que a represa é a principal fonte de abastecimento de Sorocaba e Votorantim. Por esse motivo, entidades de proteção envolvidas com o reservatório têm trabalhado para manter a qualidade da bacia. Segundo Viviane, os trabalhos visam melhorar o saneamento básico nos núcleos rurais, diminuir a poluição difusa e evitar as ocupações irregulares e clandestinas. "Sofremos com a falta de instrução dos produtores rurais com o manejo, com a pesca predatória, o desmatamento e as queimadas", diz.
APA
A represa faz parte da Área de Proteção Ambiental (APA) de Itupararanga, criada por meio de uma lei estadual, que abrange 93.403,69 hectares nos municípios de Alumínio, Cotia, Ibiúna, Mairinque, Piedade, São Roque, Vargem Grande Paulista e Votorantim. Aproximadamente 2% desse espaço é ocupado pela represa Itupararanga.
Segundo dados do livro Biodiversidade na APA Itupararanga, publicado em 2011, na região há cerca de 360 espécies da flora e mais de 280 espécies de vertebrados terrestres - entre mamíferos, anfíbios, répteis, aves - e peixes. Há registros de animais ameaçados de extinção, como o lobo-guará, e de aves migratórias, que escolhem a região para construir ninhos e se alimentar.
A represa de Itupararanga é formada por quatro rios. Um deles é o Sorocabuçu, que nasce em Ibiúna, na região onde se localiza o bairro Verava. O outro é o Sorocamirim, cujas nascentes se localizam nos municípios de Ibiúna e Cotia. Ele recebe as águas dos córregos e rios de Vargem Grande Paulista e São Roque e deságua no rio Sorocabuçu.
O terceiro rio da lista é o Una, que nasce em Ibiúna e deságua no Sorocabuçu. Quem também ajuda a formar a represa é o rio Sorocaba, formado pelo Sorocamirim e Sorocabuçu. Na opinião do consultor ambiental Elzo Savella, ex-secretário do Meio Ambiente de Votorantim, essa barragem também ajudou no processo de industrialização da região. "Influenciou na região para a geração de emprego, pois era uma obra de grande porte na época", comenta.
Qando foi construída, a represa era considerada a maior da América do Sul e uma das sete maiores da América do Sul. "A vila de moradores tinha mais de 70 casas e esse fato comprova que a obra empregava muita gente."
Funcionamento da Usina de Itupararanga
1 - Barragem
As válvulas, com comando digital, liberam a água armazenada na barragem. Sempre que altera a geração, é preciso alterar a abertura das válvulas.
2 - Canal aberto
A água é liberada para um canal de 2.200 metros a céu aberto.
3 - Conduto
Após sair do canal, a água percorre mais 1.200 metros de túnel e conduto forçado até chegar à Casa das Máquinas.
4 - Turbina
Na turbina, a energia hidráulica é transformada em energia mecânica. O movimento da turbina faz movimentar um eixo, que movimenta ímãs. Esses imãs induzem eletricamente o estator (rolamento) do gerador.
5 - Regulador de velocidade
O regulador faz o controle da quantidade de água que passa pela turbina.
6 - Gerador
O gerador, acoplado à turbina, produz uma tensão e, ligada a essa tensão, tem uma carga de 6,9 KW.
7 - Subestação e linhas de transmissão
A carga de 6,9 KW gerada é transformada em 88 KW na subestação e transmitida para a fábrica da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), em Alumínio.
Fonte: Votorantim Energia
Aconteceu por lá
Danos nas turbinas - Choveu forte em 18 de janeiro de 1914. O temporal provocou a queda de uma parte do morro nas proximidades das obras da Light e da S. Paulo Eletric Company, em Itupararanga. O desabamento danificou por completo as turbinas e, como consequência, os estabelecimentos fabris não funcionaram.
O texto foi publicado no jornal O Estado de S. Paulo. Socorro médico - Uma pessoa morreu e cinco ficaram feridas durante a explosão de uma pedreira de aproximadamente 40 metros de altura, em Itupararanga. O acidente ocorreu em 18 de fevereiro de 1914 durante o processo de extração de pedras para a produção de cal. Os feridos foram socorridos pelo médico da Light e da S. Paulo Eletric Company.
Futuro presidente - Em 28 de agosto de 1915, o então prefeito de São Paulo, Washington Luís, esteve na Usina de Itupararanga. O convite partiu da diretoria da Light e da S. Paulo Eletric Company com o objetivo de mostrar as obras e instalações do local. A viagem foi feita de trem e o comboio deixou a capital paulista com vereadores, deputados, secretários municipais, militares e jornalistas. Onze anos depois, o ilustre convidado assumiria a presidência da República. A informação foi publicada no jornal Correio Paulistano.

Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.