Notícia publicada na edição de 27/02/15 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 003 do caderno C -
Juliana Simonetti
A Má Companhia Provoca encena hoje em Sorocaba a peça "Reality (Final)" que reflete sobre uma sociedade doente. Votorantinense está no elenco
Eva Lo Brac é uma atriz que fez muito sucesso na TV, mas caiu no ostracismo. Vítima de um câncer e endividada, busca nas drogas uma fuga para esquecer de sua decadência, até o momento em que é convidada por uma produtora de TV a participar de um "reality show" sobre doentes terminais. O programa é apresentado por um médico que se passa por animador de auditório.
Num mundo com reality shows e programas televisivos com temas cada vez mais apelativos é importante esclarecer ao leitor: calma, o enredo acima é ficção e norteia a premiada peça Reality (Final), que A Má Companhia Provoca, de São Paulo, apresenta hoje, às 20h, no Sesc. "O texto de Michelle Ferreira apresenta uma situação na qual a sede pelos sórdidos detalhes da vida do outro nos transforma em passivos espectadores da degradação humana. O câncer de Eva é uma metáfora da sociedade atual. O reality show é um pano de fundo para falarmos de situações-limite", comenta o diretor Ramiro Silveira sobre a peça, que aborda temas polêmicos de forma humanizada.
A atriz votorantinense Flavia Strongolli está no elenco e interpreta a personagem Vitoria Alegre, que tem leucemia e chega na final do programa com a personagem principal, Eva. Para vencer o programa, o participante precisa comover mais o público e conseguir morrer por último. "O espetáculo não é leve, mas quando vejo o que se passa na TV aberta todos os dias, acredito que nada mais choca as pessoas", pontua a atriz, destacando que o tema da peça é só um pretexto para se falar da vida contemporânea e de suas relações humanas.
"Para a minha personagem, Vitoria Alegre, essa é única grande chance da sua vida. A chance de "ser" algo numa sociedade doente. Ela trabalha com sentimentos opostos, é a vida e a morte, a alegria e a tristeza presentes o tempo todo. Ao mesmo tempo em que tem uma fragilidade, tem a força de quando é deparada com a finitude. Tem serenidade, tem revolta."
Apesar da densidade e morbidez do tema e da situação-limite retratada, há espaço para o humor na peça, conforme explica Flavia. "Chegamos à conclusão de que essa peça só poderia ser feita assim, com humor. A comédia traz a reflexão por um outro viés, é catártico. O tema é pesado, mas sensivelmente humano. O público assiste olhando pra si mesmo."
Para compor o papel, Flavia foi atrás de alguns realitys nacionais e internacionais, como Rupaul Drag Race, Britain"s Got Talent e Toddlers and Tiaras, que retrata os bastidores de um concurso de misses crianças, onde elas ficam idênticas a uma miss adulta, com direito a peito, cabelos tingidos, cílios postiços... (sim, bizarro, e dessa vez não estamos falando de ficção!).
"O formato dos realitys é o formato da nova dramaturgia televisiva do nosso século, é o culto à imagem e à superficialidade", comenta Flavia.
O espetáculo, com texto de Michelle Ferreira, foi finalista do Prêmio Luso-Brasileiro de Dramaturgia do Instituto Camões, em 2010. Também recebeu o Prêmio Heleny Guariba, em 2011, e foi finalista da Seleção Brasil em Cena 2012, do CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil).
Ainda há ingressos para Reality (Final), mas não é garantido nas primeiras filas, já que quando a votorantinense sobe ao palco, amigos e familiares de Sorocaba e região costumam garantir logo seu ingresso no teatro. "É algo de muito especial essas apresentações em minha terra. Foi aí que tudo começou. Tem um histórico emocional pra mim. O gelo na barriga e o frisson é diferente de todos os outros lugares", conta a atriz, que recentemente veio à cidade com outros espetáculos como Lamartine Babo (estreia de Antunes Filho como autor), João e Maria, da Cia. Le Plat du Jour, e Os adultos estão na sala, também de A Má Companhia Provoca.
Dramaturgia contemporânea
Criado em 2011, o grupo A Má Companhia Provoca busca textos brasileiros, inéditos e relevantes dentro da dramaturgia contemporânea, seja na temática, na linguagem, na forma ou no modo de construção. A intenção é produzir obras atuais e promover questões que são urgentes.
O texto de Reality (Final) é assinado por Michele Ferreira que, em entrevista ao jornal o Estado de S.Paulo, disse que a inspiração para a peça veio de uma história real. A dramaturga ficou impressionada com os últimos anos de Jade Goody (1981-2009). Conhecida no Reino Unido, ela participou do Celebrity Big Brother em 2007, quando se tornou uma vilã racista que insultava uma participante indiana. No ano seguinte, foi à Índia participar de outro reality por lá, como uma forma de se redimir. Durante o programa, descobriu que tinha câncer. Quando se descobriu desenganada pelos médicos, pensou em uma maneira de juntar dinheiro para deixar herança aos filhos: transformou sua própria doença em um reality, oferecendo entrevistas a diversos veículos. "O reality é só um pano de fundo para falar da morte, do final, do fim que escolhemos pra gente", disse Michele na entrevista, que também pensa no câncer como uma metáfora da sociedade que está doente. "Gostamos do freak show, precisamos do outro em uma situação vexatória para nos sentirmos melhor."
Serviço
Peça "Reality (Final)"
Hoje, às 20h
Sesc Sorocaba, teatro, rua Barão de Piratininga, 555, Jardim Faculdade
Classificação: 16 anos
Ingressos: R$ 17 (inteira); R$ 8,50 (usuário com cartão válido inscrito no Sesc e dependentes, aposentados, maiores de 60 anos, servidor da rede pública de ensino e estudantes com comprovante); R$ 5,10 (trabalhador no comércio de bens, serviços e turismo credenciados no Sesc e dependentes).
A atriz votorantinense Flavia Strongolli (esquerda) está no elenco e interpreta a personagem Vitoria Alegre - LEEKYUNG KIM / DIVULGAÇÃO
Eva Lo Brac é uma atriz que fez muito sucesso na TV, mas caiu no ostracismo. Vítima de um câncer e endividada, busca nas drogas uma fuga para esquecer de sua decadência, até o momento em que é convidada por uma produtora de TV a participar de um "reality show" sobre doentes terminais. O programa é apresentado por um médico que se passa por animador de auditório.
Num mundo com reality shows e programas televisivos com temas cada vez mais apelativos é importante esclarecer ao leitor: calma, o enredo acima é ficção e norteia a premiada peça Reality (Final), que A Má Companhia Provoca, de São Paulo, apresenta hoje, às 20h, no Sesc. "O texto de Michelle Ferreira apresenta uma situação na qual a sede pelos sórdidos detalhes da vida do outro nos transforma em passivos espectadores da degradação humana. O câncer de Eva é uma metáfora da sociedade atual. O reality show é um pano de fundo para falarmos de situações-limite", comenta o diretor Ramiro Silveira sobre a peça, que aborda temas polêmicos de forma humanizada.
A atriz votorantinense Flavia Strongolli está no elenco e interpreta a personagem Vitoria Alegre, que tem leucemia e chega na final do programa com a personagem principal, Eva. Para vencer o programa, o participante precisa comover mais o público e conseguir morrer por último. "O espetáculo não é leve, mas quando vejo o que se passa na TV aberta todos os dias, acredito que nada mais choca as pessoas", pontua a atriz, destacando que o tema da peça é só um pretexto para se falar da vida contemporânea e de suas relações humanas.
"Para a minha personagem, Vitoria Alegre, essa é única grande chance da sua vida. A chance de "ser" algo numa sociedade doente. Ela trabalha com sentimentos opostos, é a vida e a morte, a alegria e a tristeza presentes o tempo todo. Ao mesmo tempo em que tem uma fragilidade, tem a força de quando é deparada com a finitude. Tem serenidade, tem revolta."
Apesar da densidade e morbidez do tema e da situação-limite retratada, há espaço para o humor na peça, conforme explica Flavia. "Chegamos à conclusão de que essa peça só poderia ser feita assim, com humor. A comédia traz a reflexão por um outro viés, é catártico. O tema é pesado, mas sensivelmente humano. O público assiste olhando pra si mesmo."
Para compor o papel, Flavia foi atrás de alguns realitys nacionais e internacionais, como Rupaul Drag Race, Britain"s Got Talent e Toddlers and Tiaras, que retrata os bastidores de um concurso de misses crianças, onde elas ficam idênticas a uma miss adulta, com direito a peito, cabelos tingidos, cílios postiços... (sim, bizarro, e dessa vez não estamos falando de ficção!).
"O formato dos realitys é o formato da nova dramaturgia televisiva do nosso século, é o culto à imagem e à superficialidade", comenta Flavia.
O espetáculo, com texto de Michelle Ferreira, foi finalista do Prêmio Luso-Brasileiro de Dramaturgia do Instituto Camões, em 2010. Também recebeu o Prêmio Heleny Guariba, em 2011, e foi finalista da Seleção Brasil em Cena 2012, do CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil).
Ainda há ingressos para Reality (Final), mas não é garantido nas primeiras filas, já que quando a votorantinense sobe ao palco, amigos e familiares de Sorocaba e região costumam garantir logo seu ingresso no teatro. "É algo de muito especial essas apresentações em minha terra. Foi aí que tudo começou. Tem um histórico emocional pra mim. O gelo na barriga e o frisson é diferente de todos os outros lugares", conta a atriz, que recentemente veio à cidade com outros espetáculos como Lamartine Babo (estreia de Antunes Filho como autor), João e Maria, da Cia. Le Plat du Jour, e Os adultos estão na sala, também de A Má Companhia Provoca.
Dramaturgia contemporânea
Criado em 2011, o grupo A Má Companhia Provoca busca textos brasileiros, inéditos e relevantes dentro da dramaturgia contemporânea, seja na temática, na linguagem, na forma ou no modo de construção. A intenção é produzir obras atuais e promover questões que são urgentes.
O texto de Reality (Final) é assinado por Michele Ferreira que, em entrevista ao jornal o Estado de S.Paulo, disse que a inspiração para a peça veio de uma história real. A dramaturga ficou impressionada com os últimos anos de Jade Goody (1981-2009). Conhecida no Reino Unido, ela participou do Celebrity Big Brother em 2007, quando se tornou uma vilã racista que insultava uma participante indiana. No ano seguinte, foi à Índia participar de outro reality por lá, como uma forma de se redimir. Durante o programa, descobriu que tinha câncer. Quando se descobriu desenganada pelos médicos, pensou em uma maneira de juntar dinheiro para deixar herança aos filhos: transformou sua própria doença em um reality, oferecendo entrevistas a diversos veículos. "O reality é só um pano de fundo para falar da morte, do final, do fim que escolhemos pra gente", disse Michele na entrevista, que também pensa no câncer como uma metáfora da sociedade que está doente. "Gostamos do freak show, precisamos do outro em uma situação vexatória para nos sentirmos melhor."
Serviço
Peça "Reality (Final)"
Hoje, às 20h
Sesc Sorocaba, teatro, rua Barão de Piratininga, 555, Jardim Faculdade
Classificação: 16 anos
Ingressos: R$ 17 (inteira); R$ 8,50 (usuário com cartão válido inscrito no Sesc e dependentes, aposentados, maiores de 60 anos, servidor da rede pública de ensino e estudantes com comprovante); R$ 5,10 (trabalhador no comércio de bens, serviços e turismo credenciados no Sesc e dependentes).
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.